Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

31.7.11

A lenda dos Guardiões

A se a Guerra das Estrelas fosse vivida por corujas? Isso seria A Lenda dos Guardiões.

Na floresta, a jovem coruja Soren e os seus irmãos são educados com as velhas histórias heróicas de Ga’Hoole . Se para os outros são apenas histórias, para Soren são verdadeiras e o seu sonho é conhecer esse o mítico reino. e, sem o saber, o seu desejo está mais perto de se realizar do que imagina. Em St.Auggie’s prepara-se um exército de jovens corujas para que o mal volte a reinar. Mas com a ajuda do trovador das lendas de Ga’Hoole (e final o mítico herói), Soren assume a liderança das forças do bem e acaba por restabelecer a harmonia nas florestas.

Como ser Bom, Nick hornby


A obra de Hornby é talvez mais conhecida do público em geral pelas adaptações ao cinema dos seus livros Alta Fidelidade (2000), Era uma vez um Rapaz (2002) e Fanaticamente Apaixonados (2005). pela minha parte, esta é a minha primeira incursão pela sua obra escrita.
Em Como Ser Bom, acompanhamos as desventuras de um casamento de 20 anos, com dois filhos menores, em crise, através da voz do elemento feminino, que, neste caso, é o ganha pão da família. Ao analisar esta crise conjugal, o autor leva-nos também a reflectir os valores que norteiam a sociedade em geral, estabelecendo vários pontos de contacto, como: o papel do individuo, a mudança, a dinâmica dos seus elemntos, os valores éticos, morais e materiais.
E desta análise ressalta a pergunta: como ser bom? como ser uma boa pessoa quando as nossas expectativas se goram, quando sabemos que não fazemos o sificiente, quando nos deixamos enredar por superficialidades, quando deixamos de sentir de valorizar(-nos e) aos outros. Como ser bom é sobre as escolhas que fazemos enquanto indíviduos em prol de um todo, seja a família nuclear, a nossa comunidade ou a sociedade no seu todo.

30.7.11

When the elephant is bigger than the room,
it’s a real pain in the ass.

(at least, for the elephant)

ultimato

Para os seguidores da saga Jason Bourne, era inevitável que se chegasse a um “Bourne Pregnancy”, ou seja, à origem do mistério da identidade deste espião amnésico. É neste Ultimato que finalmente JB chega à sua identidade passada, apesar de compreender que não é tão vítima quanto julgava ser, num enredo que não é inovador. O filme dá-nos mais do mesmo: uma viagem a ritmo alucinante pelos meandros da espionagem política, onde só muda o cenário, bem editado, e o mesmo núcleo duro de personagens.

29.7.11

mudasti?

Questiono-me constantemente se terei coragem para a mudança necessária. Não sei se conseguiria mudar o mundo, mas já seria uma conquista se conseguir mudar-me para ser aquilo que quero.

Porque é que custa tanto sermos o que queremos? Será que queremos demais? Não me parece. Não me parece presunçoso querer ser mais sábia, mais justa, mais compreensível, mais forte, e tantos mais que aqui não cabem. O que é que me impede de o ser? Em última análise a resposta é sempre: eu.

Que distância é esta entre o que sou e o que quero ser (e sem sequer divagar se sou o que julgo ser). Não preciso mudar o mundo, preciso apenas ser o agente da minha mudança.

À flor da pele

Adrian Borda
O que será que me dá
Que me bole por dentro, será que me dá
Que brota à flor da pele, será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendigo, me faz suplicar
O que não tem medida, nem nunca terá
O que não tem remédio, nem nunca terá
O que não tem receita

O que será que será
Que dá dentro da gente e que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os ungüentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda alquimia
Que nem todos os santos, será que será
O que não tem descanso, nem nunca terá
O que não tem cansaço, nem nunca terá
O que não tem limite

O que será que me dá
Que me queima por dentro, será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os tremores me vêm agitar
E todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha, nem nunca terá
O que não tem governo, nem nunca terá
O que não tem juízo


Chico Buarque

28.7.11

Conhecer as nossas ruas

Trabalho há oito anos na Tapada das Mercês, mas nunca me esforcei ou interessei em conhecer a sua geografia. É triste, mas não passa do meu local de trabalho.
Há uns dias, há hora de almoço, e para desanuviar, resolvi percorrer algumas das ruas mais próximas. Apesar da maioria de nós só vermos blocos de prédios, muitos destes encerram pequenas pracetas com características especificas. Por exemplo, na Praceta Francisco Ramos convivem lado a lado um salão paroquial e uma mesquita, uma associação islâmica e uma associação que visa promover a capacitação social. Existe também um parque infantil onde é possível assistir às brincadeiras de crianças de várias etnia e credos que ali se juntam. É talvez um dos mais bonitos exemplos de integração e convívio. Pena é que a imagem, e também a realidade, não sejam tão idílicas como este pequeno espaço.

O último a sair

Está prestes a terminar este reality show fictício, que durante os últimos meses tem não só com este tipo de formato televisivo mas também com a imagem que se constrói sobre as figuras públicas. Como dizia o poeta: primeiro estranha-se e depois entranha-se. E este parece ser o consenso geral sobre o programa. Se nos primeiros episódios não era óbvio tratar-se de uma ficção, ao longo dos mesmos e do desenvolvimento de situações rocambolescas, essa dubiedade acabou por conquistar o público. Tanto que até a publicidade já aproveitou para recriar uma das situações mais caricatas com o Gonçalo Waddington. Resta-nos perceber que tipo de continuidade poderá ter este tipo de projecto humorístico. Creio que seria muito difícil recriar o seu estado de graça numa segunda temporada, protagonizada por outras celebridades, por exemplo. Creio que esta se tornará uma série de culto, à semelhança, por exemplo, da Herman Enciclopédia. Mas fico curiosa para saber que novos projectos a equipa liderada por Bruno Nogueira poderá oferecer-nos.

Gostava de salientar que, além de um óptimo comunicador, Rui Unas tornou-se um excelente actor. Conquistou-me.

27.7.11

Ressalto

A tradição desportiva americana é muitas vezes cenário de histórias de empenho e vitória pelo esforço, tornando os seus protagonistas underdog em heróis de uma comunidade. Neste filme protagonizado por Martin Lawrence, uma equipa liceal de basquetebol consegue vencer a sua equipa arqui-inimiga e aprender algumas lições de vida. Filme despretensioso para fins-de-semana descansados.

As Voltas de Ulisses, Passeios Culturais

No passado fim de semana, participei no 4º Percurso Literário promovidos por As Voltas de Ulisses – Passeios culturais Temáticos por Lisboa. Este percorreu – se a memória não me falha - o Largo de Camões, o Largo do Alecrim, o Palácio do conde de Farrobo, o Largo da Trindade, o Bairro Alto, terminando no Príncipe Real.

Foi uma oportunidade para contextualizar alguns cenários da vida literária nacional, para conhecer alguns recantos curiosos de Lisboa, e também para perceber a logística deste tipo de oferta cultural, para – quem sabe – adaptá-la a Sintra e à sua vasta riqueza patrimonial. Uma opção a analisar com atenção.

Prédio onde habitou Agostinho da Silva, ASB.

26.7.11

Os monstros estão entre nós

Erwin Olaf
Temos por crença que os países nórdicos são cultural e socialmente mais evoluídos e, como tal, incapazes de produzir monstros, como o que este fim de semana vitimou 95 pessoas, maioritariamente jovens.

(Somos) Éramos ingénuos,  e é pena que deixemos de o ser. Infelizmente, por mais evoluídas que as sociedades sejam – promovendo a tolerância e a cidadania -, há sempre que ter em conta o individuo e perceber que a liberdade individual tem as suas perversões. Aliás, há sempre indivíduos maiores do que os valores defendidos pelas sociedades que os formatam (ou tentam). A história tem demasiados exemplos e continuará a tê-los. Porque o individuo tentará sempre encontrar uma forma de fazer ouvir a sua voz, ainda que à custa de vidas inocentes.
Os livros que li
Ensinaram-me que se pode morrer de amor.

Ora, eu que nunca quis morrer,
Tornei o amor desnecessário.

Apesar de não acreditares – vivo,
Como muitos de nós vivemos –
Celebrando o amor em nós
Em cada corpo que presenteio
Com o prazer da minha boca
E do meu sexo desejoso.
Jack Vettriano

25.7.11

2 Estranhos, 1 casamento

Jason Biggs, imortalizado pela saga American Pie, continua a sua senda na comédia romântica, almejando, quiçá, substituir Hugh Grant neste género.
Esta comédia vê-se bem, mas não acrescenta nada de novo, apesar de nos garantir umas quantas gargalhadas para um domingo chuvoso à tarde.
Apenas um nota de atenção para Isla Fischer, cuja beleza se adequa a este género.
Atira a roupa toda
para o chão.
Depressa.Sem momento sedutor
nenhum

As peças aos bocados,
desmaiadas,
caídas pelo chão.
Do mais pesado ao mais quase
infinito de leveza

E deixa a luz
acesa. Sem sedução
nenhuma. Uma luz pelo menos
de 60 watts.
Ou então crua,
de supermercado

Escolhe armário,
sítio esquadriado
onde os corpos
não possam descansar.
Sem qualquer tipo
de preliminar,
assalta-me
vestida:
que eu tenha a roupa
toda. Do mais pesado
ao mais
quase infinito de leveza.
Luzes todas acesas
Depressa
e de repente
Passemos à cozinha.

E lá, numa poética de mãos,
Em suprema ginástica de olhar,
comamos lentamente,
com saber hindu,
os restos do assado sobrado
do jantar

À luz
fosforecente
e sedutora, no mais
preliminar,
lança contra o fogão,
por sobre o ombro,
o copo de cristal
(dos de pé alto!)

Que o chão,
ao ser-lhe agudo como asfalto,
lhe ensine o kamasutra
em última edição

Ana Luísa Amaral

24.7.11

Estranhezas ferroviárias

Viajar diariamente de comboio torna-se a determinado momento uma actividade quase apática. A rotina do acto abstrai-nos de realmente olhar quem e o que nos rodeia. Os famigerados assaltos são talvez actos que nos retiram dessa mesmidade. Mas, por distracção natural, ou falta de oportunismo, não me lembro de alguma vez assistir a algum. No entanto, há pelos menos dois episódios caricatos a que assisti, embora numa primeira vista não me tenha logo apercebido das situações.

A primeira, foi ainda nos tempos de faculdade, consistiu na masturbação de um senhor desde o Rossio até Benfica, onde saiu não sei se por ter terminado ou porque estar em vias de terminar.

A segunda foi há dias. Uma mulher agachou-se na zona de ligação entre duas carruagens. Por momentos, pensei que se tinha sentido mal, mas ao sair reparei que estava uma poça no chão. Então, não foi difícil perceber que aproveitou aquele espaço para urinar.

Deduzo então que quando a natureza chama, não há locais que se salvem!

Residência artística

Tomei conhecimento, há poucos dias, do projecto de residência artística, entre outros, Casa da Escrita, em Coimbra, e fiquei cativada. A ideia de residência artística sempre me suscitou curiosidade e é algo que gostaria de experimentar: viver durante determinado tempo num local e reflectir essa experiência num determinado produto artístico. E considerando que alguns dos livros que já li nasceram dessa experiência, ainda fico mais curiosa.

Inevitavelmente, dou por mim a pensar em sítios onde poderia ir e no que de diferente lá existiria que pudesse transportar para a escrita: Uma cidade, uma língua, uma cultura, uma respiração, uma luz?

Depois, penso no que Sintra teria a ganhar se o município promovesse uma residência artística. Há, com certeza, fogos camarários que poderiam ser canalizados neste sentido. Há igualmente uma rede associativa e entidades culturais que poderiam ser e obter uma mais valia com a inevitável troca de experiência.

Em tempo de vacas magras, este poderá não ser um projecto prioritário, mas não podemos esquecer que neste tipo de projectos o seu impacto não é momentâneo e poderá ser uma ferramenta de promoção interna e internacional do nosso concelho.

23.7.11

Solércia


Está em cena, na Quinta da Regaleira, em Sintra, a peça Solércia, uma produção do Teatro Tapafuros, baseada na obra de Gil Vivente.
Num registo a que os Tapafuros já nos habituaram, é sempre uma oportunidade para conhecer textos deste autor, bem como para explorar o espaço cénico da quinta.
Recomendo!
Tantas vezes me pergunto: o que é que ando a fazer com a minha vida?

(des)concluo que vivo dia após dia sem saber onde quero chegar e, claro está, sem saber como é que chego aonde for. Ando perdida, desorientada, sem perceber sequer parte do caminho que percorri para aqui chegar.

Nenhum rumo parece correcto e todos parecem ainda mais confusos que o ponto de partida. Estou em espiral e a única certeza parece ser a queda.

22.7.11

1001 Livros para Ler, Antes de Morrer (ou talvez mais cedo)

Sempre que pondero iniciar a leitura de um novo livro, há vários factores que determinam a escolha: a eventual necessidade; os esquemas de leitura; ou, simplesmente, o primeiro de uma pilha/prateleira. Mas a verdade é que dou por mim a despender muito tempo na elaboração de várias listagens de livros que quero ler. Até que dei por mim nalgumas contabilizações e conclui que talvez haja realmente 1001 Livros para Ler antes de Morrer.
Jack Vettriano

- estive quase a ir embora.
- Ainda bem que esperaste. Precisava de te sentir.
- Um dia difícil?
- Longo, complicado, cansativo. Só pensava fugir e refugiar-me nos teus braços.
- Descontrai. Já passou. Agora estamos aqui e não há nada nem ninguém que nos incomode. Somos nós, só nós.
- Abraça-me. Necessito do teu calor. Da tua força.
- Estás demasiado tensa. Fecha os olhos e esquece tudo o resto. Estou aqui só para ti e temos a noite inteira.
- Era tão bom que fosse verdade, mas…
- Não. Hoje não há mas. Não há ninguém à tua espera em casa. Hoje estamos apenas por nossa conta.
- Conta-me mais. Hoje somos o quê?
- Hoje somos dois amantes há muito separados e cujos corpos se reencontram numa dança de pele pautada pela percussão dos nosso corações sedentos de desejo. Hoje, dançamos.
- Hoje, dançamos, só nós.

21.7.11

3 Cantos Fúnebres pelo Kosovo, Ismael Kadaré

Estes 3 Cantos são um relato ficcionado sobre o violento combate, que, na Primavera de 1389, opôs os vários povos balcânicos (de origem católica) contra o vizir muçulmano Murad. Foi a única ocasião em que estes povos, inimigos ancestrais, declararam tréguas em prol de combaterem um inimigo comum.
Mesmo ganhando o combate, Murad pereceu às mãos dos seus próprios homens, que não concordavam com a sua estratégia de governação. O seu sangue, derramado no campo de batalha da planície do Kosovo, terá amaldiçoado a mesma, que sempre continuou a ser palco de  guerras fratricidas, culminado com os massacres no final da década de 90.
O relato de batalha, da sua violência e das suas implicações, é feita pelos rapsodos – cronistas dos senhores e cujo objectivo era louvar os feitos dos seus exércitos. Aliás, uma figura recorrente na obra deste autor, pela sua função de observador das grandes convulsões e acontecimentos determinantes nas vidas dos povos balcânicos.
Escrito na sequência  dos massacres de 90, este 3 Cantos é uma inquietante observação sobre a perpetuação de ódios ancestrais, cuja origem se perde no tempo. É igualmente uma reflexão muito actual sobre a Europa (A Velha Senhora) e a sua (in)capacidade de encontrar um diálogo comum, sem subjugar nações irmãs.
Como sempre, a leitura de Kadaré é para mim uma lição de sensibilidade, de alegoria, de luto, mas onde reside, também, o resquício da esperança.

Beowulf

Há um momento na mitologia nórdica em que se materializa o avanço da crença cristã. Embora com diferenças históricas, ambas apresentam linhas reguladoras do comportamento humano, factor primordial das religiões, como justiça ou lei. A linha comum explorada nesta história é a noção de que os filhos pagam pelos pecados dos pais. Outro conceito seguido pelo enredo é de que os nossos demónios nascem e se alimentam da nossa incapacidade de resistir à tentação. Ou seja, se há culpados pelo nosso infortúnio, somos nós.
Embora desconheça a mitologia nórdica, gostei bastante deste enredo sobre homens e heróis e da permissa de que os homens – heróis ou comuns – são apenas homens que sentem, lutam, mas, sobretudo, também erram.

Título original: Beowulf | Ano: 2007 | Realização: Robert Zemeckis | Argumento: Neil Gaiman, Roger Avary | Elenco: Ray Winstone, Crispin Glover and Angelina Jolie

20.7.11

Separados à saída da caixa de lápis?

Desconheço o autor

Adelaide Bernardo, 2009

Não lugares

Há semanas que durmo nos mesmos quartos de hotel. A mesma colcha florida de tons pastel, o mesmo mobiliário, a mesma disposição, a vista nocturna que se resume a pontos de luz que desenham outros edifícios, por vezes uma ponte, um estádio, um aeroporto.

Só pela agenda, sei as cidades onde durmo. Tudo o resto são amalgamas de muitos escritórios cinzentos, os mesmos trabalhos, os mesmos objectivos a atingir em escassos dias, os incontáveis sorrisos falsos de quem nos que ver pelas costas.

Já nem percebo o que me leva, dia após dia, a embarcar num novo voo, a ligar o portátil, a ler relatórios, a ver os mesmos quartos de hotel, vezes sem fim.

Só percebo que o regresso não é o regresso. É só o pouso num outro quarto, onde os lençóis são lavados semanalmente e os motivos florais estão já esmaecidos. Os silêncios são pautados por interrogações interrogativas a que respondo com os habituais e esperados, mas já não sentidos, chavões. Invariavelmente, atingimos o nível em que 20 frases compõem o diálogo estipulado para os dois, três dias em que retorno a um mesmo quarto que reconheço, mas já não conheço. Onde dorme alguém que me é estranho.

O regresso é sempre a esses quartos que se perpetua de cidade em cidade, sem que perceba – ou queira perceber – a paisagem nocturna em redor.

Nuno Prata

19.7.11

As desculpas não se pedem, evitam-se. Por isso, deixei de as pedir e passei a lamentar. Lamento que os meus interlocutores se vejam confrontados com os meus erros, as minhas incapacidades de comunicar – até algumas simples explicações. Sim lamento. Mas já não peço desculpas por nada a ninguém.

American Pie – Corrida de Nudistas & O Livro do Amor

Se a primeira trilogia teve com herói central a personagem de Jason Biggs, o franchise apostou no filão stifler, cuja perversão originou algumas das maiores gargalhadas e que justificam o sucesso da série.
A história é sempre a mesma: um grupo de amigos tenta por tudo perder a virgindade até ao final do secundário. Pelo meio é a habitual porno chanchada: muitas mamas, rabos e humor escatológico. No final, o amor acaba por vencer e ser a escolha da maioria das personagens. A história perpetua-se, mas arranca-nos sempre gargalhadas pelo inusitado das situações criadas.
Imagem de marca é também a presença da personagem de Eugene Levy com os seus inimagináveis conselhos sentimentais.

18.7.11

A Curva dos Livros

É um novo espaço de partilha de ideias e de sugestões de leitura. Surgiu como vontade de registar algumas das partilhas realizadas no âmbito das sessões do Clube de Leitura do Museu Ferreira de Castro.

A Curva Dos Livros será construída com as contribuições dos participantes no Clube de Leitura (entre os quais eu) com textos próprios, citações, sugestões de leitura, de filmes, de música, e muitas outras curiosidades.

Convido todos, não só a uma visita on line, mas, sobretudo, a partilharem as vossas opiniões e perspectivas na primeira sexta-feira de cada mês, pelas 21 horas, no Museu Ferreira de Castro.

Espero por vós,

E Boas Leituras!
E o dia passou a uma semana e estas a um mês e estes seguiram-se perfazendo uma soma incompreensível de dias. Dias que ruem as pontes que nos ligam. Dias intransponíveis, pois que o ontem nos trouxe a hoje, mas hoje já não retorna atrás. Hoje acaba amanhã, um dia mais longe daquilo que nos ligava. Amanhã, a distância tangível do que fomos e já não somos.

16.7.11

Noite consolada

Natal significa azáfama: a compra das prendas para toda a família (as xpto para as tias chiques e os brinquedos da moda para as crianças), a confecção dos pratos tradicionais (com imensos fritos e doces), e a conjugação das disponibilidades, amuos e alguns fanicos. Com paciência e diplomacia, lá se ultrapassa a cusquice da tia Mila, o mau vinho do tio Vasco, o alarido das crianças, os desabafos da tia Vicenzia, a arrogante vaidade da tia Guida pelos filhinhos – se ela soubesse muito do que sei! -, e muito mais…

Entre o bacalhau cozido, o arroz doce e outros quitudes, lá se chega à abertura das prendas. Findos os agradecimentos, os sorrisos amarelos pelas camisolas interiores – que dão sempre jeito – as experimentações, e as pilhas dos brinquedos, pouco a pouco a casa começa a esvaziar-se. Acabamos nós, no sofá onde há pouco nem sequer tínhamos lugar, na mais singela troca de prendas que podíamos ofertar: os nossos corpos.

Adrian Borda
Roubado ao Watermeloncolia.

15.7.11

Parece quesou romântica?

Love happens

O amor acontece quando menos se espera, mesmo quando se faz o luto por um outro amor. E haverá um tempo certo para se fazer o luto? Há com certeza um tempo obrigatório, porque sem o fazer não haverá (re)começos saudáveis. O que não há é um tempo balizado, há apenas o tempo necessário, que varia de individuo para individuo.

Este Love Happens reúne Aaron Eckhart, no papel de um jovem viúvo consumido pela dor, e Jennifer Aniston, no papel do novo interesse amoroso. É uma comédia romântica muito longe de ser extraordinária, mas que vale sobre a reflexão sobre o luto.

14.7.11

Queres namorar comigo?

"Namora uma rapariga que lê. Namora uma rapariga que gaste o dinheiro dela em livros, em vez de roupas. Ela tem problemas de arrumação porque tem demasiados livros. Namora uma rapariga que tenha uma lista de livros que quer ler, que tenha um cartão da biblioteca desde os doze anos.
Encontra uma rapariga que lê. Vais saber que é ela, porque anda sempre com um livro por ler dentro da mala. É aquela que percorre amorosamente as estantes da livraria, aquela que dá um grito imperceptível ao encontrar o livro que queria. Vês aquela miúda com ar estranho, cheirando as páginas de um livro velho, numa loja de livros em segunda mão? É a leitora. Nunca resistem a cheirar as páginas, especialmente quando ficam amarelas.


Ela é a rapariga que lê enquanto espera no café ao fundo da rua. Se espreitares a chávena, vês que a espuma do leite ainda paira por cima, porque ela já está absorta. Perdida num mundo feito pelo autor. Senta-te. Ela pode ver-te de relance, porque a maior parte das raparigas que lêem não gostam de ser interrompidas. Pergunta-lhe se está a gostar do livro.

Oferece-lhe outra chávena de café com leite.

Diz-lhe o que realmente pensas do Murakami. Descobre se ela foi além do primeiro capítulo da Irmandade. Entende que, se ela disser ter percebido o Ulisses de James Joyce, é só para soar inteligente. Pergunta-lhe se gosta da Alice ou se gostaria de ser a Alice.

É fácil namorar com uma rapariga que lê. Oferece-lhe livros no dia de anos, no Natal e em datas de aniversários. Oferece-lhe palavras como presente, em poemas, em canções. Oferece-lhe Neruda, Pound, Sexton, cummings. Deixa-a saber que tu percebes que as palavras são amor. Percebe que ela sabe a diferença entre os livros e a realidade – mas, caramba, ela vai tentar fazer com que a vida se pareça um pouco com o seu livro favorito. Se ela conseguir, a culpa não será tua.

Ela tem de arriscar, de alguma maneira.

Mente-lhe. Se ela compreender a sintaxe, vai perceber a tua necessidade de mentir. Atrás das palavras existem outras coisas: motivação, valor, nuance, diálogo. Nunca será o fim do mundo.

Desilude-a. Porque uma rapariga que lê compreende que falhar conduz sempre ao clímax. Porque essas raparigas sabem que todas as coisas chegam ao fim. Que podes sempre escrever uma sequela. Que podes começar outra vez e outra vez e continuar a ser o herói. Que na vida é suposto existir um vilão ou dois.

Porquê assustares-te com tudo o que não és? As raparigas que lêem sabem que as pessoas, tal como as personagens, evoluem. Excepto na saga Crepúsculo.

Se encontrares uma rapariga que leia, mantém-na perto de ti. Quando a vires acordada às duas da manhã, a chorar e a apertar um livro contra o peito, faz-lhe uma chávena de chá e abraça-a. Podes perdê-la por um par de horas, mas ela volta para ti. Falará como se as personagens do livro fossem reais, porque são mesmo, durante algum tempo.

Vais declarar-te num balão de ar quente. Ou durante um concerto de rock. Ou, casualmente, na próxima vez que ela estiver doente. Pelo Skype.

Vais sorrir tanto que te perguntarás por que é que o teu coração ainda não explodiu e espalhou sangue por todo o peito. Juntos, vão escrever a história das vossas vidas, terão crianças com nomes estranhos e gostos ainda mais estranhos. Ela vai apresentar os vossos filhos ao Gato do Chapéu e a Aslam, talvez no mesmo dia. Vão atravessar juntos os invernos da vossa velhice e ela recitará Keats, num sussurro, enquanto tu sacodes a neve das tuas botas.

Namora uma rapariga que lê, porque tu mereces. Mereces uma rapariga que te pode dar a vida mais colorida que consegues imaginar. Se só lhe podes oferecer monotonia, horas requentadas e propostas mal cozinhadas, estás melhor sozinho. Mas se queres o mundo e os mundos que estão para além do mundo, então, namora uma rapariga que lê.

Ou, melhor ainda, namora uma rapariga que escreve."

(Texto de Rosemary Urquico, encontrado no blogue de Cynthia Grow. Tradução “informal” de Carla Maia de Almeida para celebrar o Dia Mundial do Livro, 23 de Abril.)
O silêncio é uma necessidade. Mas o seu conselho é mau amigo, ilude-se no próprio pensamento.

13.7.11

O estereotipo escotista

Quem não conhece o movimento escotista, tem como estereotipo que um escoteiro acampa – sendo maluco por fazê-lo em condições climatéricas por vezes menos favoráveis – e faz boas acções – sendo tão bonzinho, que chega a ser acéfalo.

Um escoteiro acampa, é certo. Mas acampar é mais do que dormir numa tenda. É sair da nossa zona de conforto, e conviver com a natureza, as suas maravilhas e adversidades. É encontrar um outro ritmo em nós, é perceber o essencial, é promover laços de amizade, é olhar as estrelas, é ouvir o silêncio.

Fazer boas acções não é ser acéfalo e ficar à mercês de necessidades e vontades alheias. É acreditar que podemos dar o nosso contributo por algo ou alguém, é mudar as circunstâncias e, quiçá, assim mudar um mundo, é saber que uma acção hoje vale mais que quaisquer intenções passadas ou futuras.

Ser escoteiro é um acto de cidadania. É incorporar uma transformação pessoal e social. Não é ser perfeito, é ser consciente de que podemos fazer melhor e tentar fazer o melhor possível.

sobre advogados

Infelizmente, a grande maioria de nós, a qualquer momento e pelas mais variadas razões, necessitou de recorrer a um advogado. Este é suposto “defender-nos” mesmo que a culpa seja nossa. É suposto encontrar as soluções menos lesivas para a nossa situação. É suposto… mas como um me disse: advogados? É preciso andar sempre em cima deles.
Não nos podemos fiar que estes façam o que lhes compete e que as opções que nos colocam são as únicas disponíveis. Entre o que se comprometem e o que fazem há uma distância tal que os seus clientes podem ficar com nada. Se não formos nós a procurar soluções finitas, as opções que nos são colocadas são apenas as que lhes permitam manter rendimentos contínuos. E não há lamentos nem explicações que nos valham.

12.7.11

Ben Heine em LX

Mais trabalhos de Ben Heine.

Jantar de idiotas

Um jovem executivo (Paul Rudd), para conseguir uma almejada promoção, necessitar convidar um idiota (quanto mais idiota, melhor) para jantar com os seus superiores. E o destino (essa misteriosa entidade) coloca-lha à frente o melhor dos idiotas: um contabilista (Steve Carrel), cuja mulher o trocou pelo chefe (dele) - com quem convive diariamente - e cujo hobbie é a taxidermia de ratos.
Que se pode dizer sobre o filme: faz pleno uso do seu título. Não é a comédia mais bem conseguida, mas tem momentos de perfeita idiotice. Especialmente as personagens de Steve Carrel e Zach Galniniakis (o seu chefe). Pelo meio, ficam algumas superficiais considerações sobre valores éticos, normalidade e idiotice.

11.7.11

As Verdes Colinas de África, Ernest Hemingway

Esta foi a minha primeira incursão pela escrita deste autor, que nunca me suscitou a curiosidade. Do que li sobre o mesmo e sobre a sua obra, sempre me pareceu haver ali testosterona em excesso.
Estas Verdes Colinas são apresentadas pelo autor como sendo um relato verídico de um safari a África. Assim, a sua premissa é perceber se a realidade pode “competir com as obras de ficção.” Nesse sentido é interessante perceber como é a premissa do real pode funcionar como estratégia não só de escrita como de ficção, pois lá diz o ditado: em cada caçador, há um mentiroso.
Curioso, acaba por ser a espécie de ética de caça descrita ao longo dos vários capítulos, com as suas regras e adaptações necessárias a manter a adrenalina do caçador.
Como relato, tem momentos bem conseguido, mas está longe de ser um livro cativante e cujas inúmeras incorrecções de tradução e gralhas prejudicam inclusive a compreensão de certos excertos.

O bom pastor

Edward Wilson é um homem calado, de fronte inexpressiva e carácter controlado. Edward Wilson é um homem que, num ponto decisivo da sua carreira, recorda os momentos marcantes da sua vida, que gradualmente marcaram aquilo que é hoje: o responsável de uma agência de espionagem que não confia em ninguém e cuja família sempre renegou em prol da sua carreira. Wilson analisa as opções feitas e impostas e o modo como actuaram para a sua situação actual: um peão num jogo de xadrez em nada nem ninguém são merecedores de confiança e em que a própria família é uma vitima das suas acções.
Um filme interessante pelo lado pessoal desta personagem que apenas sorri duas ou três vezes durante o enredo.

10.7.11

A lâmina

Há uns tempos, na hora de almoço, um brilho no passeio chamou-me a atenção. Uma lâmina de barbear com aspecto de nova estava assim, caída no chão, completamente descontextualizada. Pensando no perigo que poderia ser se fosse apanhada por uma criança ou outras pessoas de índole mais duvidosa, baixei-me e apanhei-a com cuidado. Sem um caixote à vista, guardei-a no porta-moedas, entre os cartões plásticos menos utilizados. Acabei por me esquecer e ali andou uns dias. Até que, ao procurar um recibo, senti um surpreendente ardor. Passada a surpresa, quedei-me ensimesmada pelo brilho de um quase imperceptível traço de sangue. Vi-o demoradamente engrossar e aumentar de volume.

Não o corte banal, mas a estranha conjunção entre o vermelho escuro e o brilho cinza da lâmina prenderam-me e fui incapaz de deita-la fora. Guardei-a na pequena bolsa do necessaire. Ali permaneceu mais uns dias, mas aquela imagem não me saia da cabeça. De tal modo, que uma destas noites a fui buscar e fiquei a observa-la longamente. Incapaz de esquecer a imagens de dias antes, puxei a saia até descobrir as coxas. Passei o fio da lâmina vagarosamente enquanto um traço de vermelho escuro se desenhava contrastante sobre a palidez da pele.

Kenton Nelson
Os avanços acontecem porque alguém tem medo de parar.
Dimitri Laudin

9.7.11

Fala!, Alexandre O'Neill

Fala a sério e fala no gozo

fa-la p'la calada e fala claro

fala deveras saboroso

fala barato e fala caro

Fala ao ouvido fala ao coração

falinhas mansas ou palavrão

Fala a miúda mas fala bem

Fala ao teu pai mas ouve a tua mãe

Fala franciú fala béu-béu

Fala fininho e fala grosso

desentulha a garganta levanta o pescoço

Fala como se falar fosse andar

fala com elegância muita e devagar.

Belt Grimalt
Não digas que é amor
Posso iludir-me
Não por amar
Mas por querer amor

Não digas que é amor
A alegria dos corpos
No prazer de uma cama
Banhada pelo sol de verão

Não digas que é amor
As palavras são memórias
Hoje feitas de
Ausência e silêncio

8.7.11

Dignidade, Matilde Rosa Araújo

Fui falar-te como se fosse a uma casa de penhores
Empenhar o meu último casaco
Sem flores
Sem anéis
Sem colares
E os saltos tortos dos sapatos
Palavras não houve
Sorriso apenas meu
De pessoa serena sem passado e sem futuro
Entregaste-me a cautela dos dias inúteis
E eu assinei
Só eu sabia que vinha nua

Descobri-me mentirosa. É tão mais fácil efabular-nos de modo a atingir as reacções desejadas, do que revelar-nos. Entre a efabulação, a ilusão e a omissão, (re)crio-me. Não é complexo, mas requer certos pormenores estratégicos: memória, omitir pormenores identificativos de terceiras pessoas, elaborar pormenores inconsequentes mas que dão textura ao enredo, evitar que as várias redes relacionais se cruzem, desfazendo tramas. É um pouco esquizofrénico – ou genial – se formos capazes de imaginação e capacidade de improviso.

Talvez até nem minta, apenas crio mundos à minha medida e à medida daquilo que considero ser a compreensão alheia. Apenas não registo estes mundos em grandes romances, mas sim na trama desta minha passagem pelo planeta.

E como posso mentir, se crês verdadeiro aquilo que aqui lês.

7.7.11

Cansa sentir quando se pensa, Fernando Pessoa

Cansa sentir quando se pensa.
No ar da noite a madrugar
Há uma solidão imensa
Que tem por corpo o frio do ar.

Neste momento insone e triste
Em que não sei quem hei de ser,
Pesa-me o informe real que existe
Na noite antes de amanhecer.

Tudo isto me parece tudo.
E é uma noite a ter um fim
Um negro astral silêncio surdo
E não poder viver assim.

(Tudo isto me parece tudo.
Mas noite, frio, negror sem fim,
Mundo mudo, silêncio mudo -
Ah, nada é isto, nada é assim!)

Elisabeth Molin

O Sorriso das Estrelas

As histórias de Nicholas Sparks têm como motor o amor redentor, sublimado pela morte de um dos protagonistas. Neste Sorriso, e em As Palavras que nunca te direi, o amor é uma segunda oportunidade de vida, confrontada com a morte abrupta dos homens. Em O Diário da Nossa Paixão a morte também está presente, mas houve tempo para consolidar o amor, tendo a partida do destino como nome Alzheimer.
Nunca me dediquei à leitura de N. Sparks, mas as adaptações cinematográficas levam-me a constatar que a sua temática se esgota nesta síntese. Dá-me a impressão que será o Paulo Coelho dos americanos, ainda assim, futuramente, dar-lhe-ei o benefício da leitura, nem que seja para o tira-teimas.

6.7.11

A vida é o dever que nós
trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê já são seis horas!
Quando se vê já é sexta - feira!
Quando se vê já é Natal…
Quando se vê já terminou o ano…
Quando se vê já perdemos o amor da nossa vida
Quando se vê já passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade,
Eu nem sequer olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo
caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguiria o amor que está à minha frente
e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo
de que goste devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas a seu lado
por medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo
que, infelizmente, nunca mais voltará.

Mário Quintana

Milk

Na década de 60, a Califónia era a terra da liberdade na América, pelo menos assim era a crença geral. Mas a comunidade gay continuava a enfrentar várias descriminações e perseguições, nomeadamente linchamentos, boicotes a negócios e impossibilidade de acesso a cargos públicos. É neste contexto que Harvey Milk enceta uma longa luta para se tornar o primeiro gay assumido num cargo público no estado da Califónia . Através da sua luta podemos observar os bastidores da política, mas também o conservadorismo da época e o exacerbado puritanismo de certas facções sociais.
É um filme interessante pela demonstração de como se deram certas conquistas em termos de igualdade de oportunidades e eventual diminuição de tabus.

5.7.11

Poema de agradecimento à corja

Obrigado, excelências. Obrigado por nos destruírem o sonho e a oportunidade de vivermos felizes e em paz. Obrigado pelo exemplo que se esforçam em nos dar de como é possível viver sem vergonha, sem respeito e sem dignidade.
Obrigado por nos roubarem.
Por não nos perguntarem nada.
Por não nos darem explicações.
Obrigado por se orgulharem de nos tirar as coisas por que lutámos e às quais temos direito.
Obrigado por nos tirarem até o sono.
E a tranquilidade. E a alegria.
Obrigado pelo cinzentismo, pela depressão, pelo desespero.
Obrigado pela vossa mediocridade.
E obrigado por aquilo que podem e não querem fazer.
Obrigado por tudo o que não sabem e fingem saber.
Obrigado por transformarem o nosso coração numa sala de espera.
Obrigado por fazerem de cada um dos nossos dias um dia menos interessante que o anterior.
Obrigado por nos exigirem mais do que podemos dar.
Obrigado por nos darem em troca quase nada.
Obrigado por não disfarçarem a cobiça, a corrupção, a indignidade.
Pelo chocante imerecimento da vossa comodidade e da vossa felicidade adquirida a qualquer preço.
E pelo vosso vergonhoso descaramento.
Obrigado por nos ensinarem tudo o que nunca deveremos querer, o que nunca deveremos fazer, o que nunca deveremos aceitar.
Obrigado por serem o que são.
Obrigado por serem como são.
Para que não sejamos também assim.
E para que possamos reconhecer facilmente quem temos de rejeitar.

Joaquim Pessoa

Crime e castigo

O crime foi meu, o castigo também. E quando castigo outros, castigo-me ainda mais, incapaz de me achar digna de outra acção que não o castigo. Impura, desmerecedora do perdão, da aceitação, do amor. Mártir. Mas o que esquecemos sobre os mártires é a profundidade da sua dor.

4.7.11

Para que o mal prevaleça, basta que as pessoas de bem nada façam. Para que a nossa vida descarrile, contribuem muitos factores, mas a nossa inércia ainda é o factor mais preponderante.

Transformei-me numa pessoa completamente inerte, subjugada pelo medo, com vergonha dos erros e sem a capacidade para pedir – e consequentemente – aceitar ajuda.

Como poderá o futuro que ainda me espera ser auspicioso se recuso até em aceitar o calor e o brilho do sol. Deixo-me encerrada entre quatro paredes e anulo-me perante uma janela eléctrica para o mundo ligada demasiadas horas, que me liga ao surreal mundo das tragédias, da impotência, dos pretensiosismos, das ficções.

O ar que respiro é rarefeito, tantas vezes expirado que já não renova o necessário oxigénio para sentir que há vida a lutar dentro de mim. A força que necessito não sei de onde advirá, mas necessito que não demore, pois as forças poderão já não ser suficientes sequer para abrir uma janela real.

Como é que me deixei afundar em mim, inerte para quase tudo, até para lutar por mim. Como? E como é que encontrarei as respostas que ninguém me pode dar, a não ser eu?
Bryan Pickens, Repose

3.7.11

The Celebrity Apprentice


Descobri nos últimos dias o reality show The Celebrity Apprentice, concebido, produzido e apresentado por Donald Trump e que visa transpor para um formato televisivo a sua postura profissional e empresarial. A temporada que tenho seguido é protagonizada por celebridades americanas vindas de várias áreas, como desporto, música e entretenimento.

O formato explora sobretudo o papel dos líderes de equipas de trabalho a sua capacidade de poder de decisão, os estilos de liderança escolhidos, a capacidade de gerir conflitos, de atribuir tarefas, consoante os membros das equipas (executivos, criativos, metódicos, e alguns incontroláveis).

Em última análise, quando uma equipa falha, a culpa é do gestor de projecto que não soube gerir os recursos ao seu dispor, mas nunca se pode menosprezar o factor sabotagem dos seus colaboradores. Ao gerir um projecto e as suas equipas há sempre que equilibrar os factos e números e pessoas. É necessário lembrar que as emoções e relações pessoais, embora essenciais, não podem dominar certo tipo de decisões e que a comunicação assertiva ainda é o melhor método para atingir objectivos.

Tem sido muito educativo.

A motivação da escrita

Há quem ache complicado ter uma imagem, um grupo de palavras ou uma ideia sobre a qual escrever, utilizando a nossa imaginação. Para mim isso torna-se mais complicado quando o produto escrito é um texto de trabalho. Sempre que tenho de elaborar projectos ou escrever relatórios, isso manifesta-se mais complexo e uma tarefa mais penosa do que efabular sobre a menina das tranças azuis. O facto dos objectivos dos textos serem diferentes, implica diferentes motivações e a motivação é um factor que não se pode menosprezar no processo de escrita.

2.7.11

A minha Sintra

Uma das mais recentes apostas camarárias na área da divulgação cultural e de ocupação de tempos livres é o site A Minha Sintra, que tem como alvo o público infanto-juvenil.

Sherlock Holmes

A minha imagem de SH será sempre indissociável da interpretação de Jeremy Brett, na mítica série da década de 80. O som do violino no genérico, o ambiente sombrio de Londres, o mítico 221B, são outros elementos inesquecíveis.
Esta nova aventura, realizada por Guy Ritchie, serve-nos o mesmo SH meticuloso, imperfeito nos seus vícios, mas numa linguagem modernizada, que visa captar uma vasta audiência de miúdos e graúdos. Há elementos clássicos dos contos de Conan Doyle aflorados, mas por explorar, dai que este verão poderemos ver SH 2. e será, com certeza, de ver.

1.7.11

FMI: um pequeno suspiro

Ainda sem ter lido Economia (ou qualquer coisa do género) para Totós, é perceptível que a União Europeia suspirou de alívio com a eleição da francesa Christine LAgarde para a presidência do Fundo Monetário Internacional. Se o Euro está em fase de ruptura, com os estados mais fortes muitas vezes a forçarem a eventual “expulsão” dos países mais problemáticos, a manutenção da presidência do Fundo em mãos europeias é um bom augúrio para que se encontrem soluções mais “amigáveis” para o futuro europeu.

Eu, daqui a …

… 1 ano
Terei muito provavelmente a mesma realidade pessoal e profissional.

… 3 anos
Haverá com certeza alterações na minha realidade pessoal. Profissionalmente, vejo-me talvez na mesma instituição, mas não na mesma área.

… 10 anos
Quero ter dois livros publicados e percorrer o país em acções de promoção de leitura, de desenvolvimento de competências comunicacionais, workshops de escrita, promoção da cidadania e da participação activa, entre outras. Pessoalmente, é uma incógnita.


Observações
Este exercício foi realizado no âmbito de uma formação, com o objectivo dos formandos terem uma maior consciência de si e das suas expectativas. Foi um dos mais complicados exercícios que realizei, pois nunca tive o hábito de projectar o meu futuro. Claro que já o fiz, mas nunca de forma tão concreta, tão obvia e tão realista.

Foi um exercício emocionalmente violento. As alterações que decorreram no último ano na minha vida, e as suas inerentes perspectivas, obrigaram-me a rever de modo bastante drástico um futuro que tinha por demasiado certo. Hoje, o meu futuro é por certo uma incógnita, mas há algo que me reconforta e dá alento: ainda tenho os meus sonhos para cumprir.