Estes 3 Cantos são um relato ficcionado sobre o violento combate, que, na Primavera de 1389, opôs os vários povos balcânicos (de origem católica) contra o vizir muçulmano Murad. Foi a única ocasião em que estes povos, inimigos ancestrais, declararam tréguas em prol de combaterem um inimigo comum.
Mesmo ganhando o combate, Murad pereceu às mãos dos seus próprios homens, que não concordavam com a sua estratégia de governação. O seu sangue, derramado no campo de batalha da planície do Kosovo, terá amaldiçoado a mesma, que sempre continuou a ser palco de guerras fratricidas, culminado com os massacres no final da década de 90.
O relato de batalha, da sua violência e das suas implicações, é feita pelos rapsodos – cronistas dos senhores e cujo objectivo era louvar os feitos dos seus exércitos. Aliás, uma figura recorrente na obra deste autor, pela sua função de observador das grandes convulsões e acontecimentos determinantes nas vidas dos povos balcânicos.
Escrito na sequência dos massacres de 90, este 3 Cantos é uma inquietante observação sobre a perpetuação de ódios ancestrais, cuja origem se perde no tempo. É igualmente uma reflexão muito actual sobre a Europa (A Velha Senhora) e a sua (in)capacidade de encontrar um diálogo comum, sem subjugar nações irmãs.
Como sempre, a leitura de Kadaré é para mim uma lição de sensibilidade, de alegoria, de luto, mas onde reside, também, o resquício da esperança.
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