Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
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30.6.07

Aos Filhos que jamais terei

Em Les Nuits Fauves, Cyril Collard, realizador e escritor francês, dedicava o seu livro aos pais em recompensa dos filhos que nunca teria, pela sua condição de homossexual. “Pour les enfants que j’aurais jamais” e jamais esqueci essas palavras.

Hoje, penso nela frequentemente. Pois cada vez mais a perspectiva de vir a ter filhos me parece mais distante e inverosímil. De uma realidade futura bastante plausível, tem lentamente passado apenas a um desejo cuja não concretização não implica frustração. Talvez apenas um pequeno vazio, como todos os outros provocados por outros ses não concretizados. É hoje uma ideia distante, um território já bastante nebuloso.

Não sinto talvez tão prementemente essa necessidade de ser mãe, porque consigo concretizar a maternidade através dos meus sobrinhos, os meus filhos possíveis e reias. Aqueles que me surpreendem a cada dia, me fazem sorrir e que me retribuem um amor simples e sincero que lhes dou desde o primeiro momento. São os abraços mais calorosos, os sorrisos mais abertos e os olhares mais cúmplices que me fazem saber que eles estarão sempre ali, os meus filhos do coração.

28.6.07

Pequena História de Possibilidades Quotidianas

A é conhecido de B

A é colega de C

A apresenta B a C

B apresenta C a D, que também conhece A

C e D desenvolvem relação

… (muito tempo depois) …

C pergunta a B o que teria acontecido entre ambos se não tivesse D

B surpreendido diz que não faz a mínima ideia

C insiste

C quer beber café

C quer falar com B como se não tivesse conhecido D

C não quer que B conte a D

B diz a C que se não aconteceu nada é porque não tinha de acontecer e não há nada a falar

C diz que B interpretou mal, o que é possível, mas…

C é que puxou o assunto à baila

C é que insistiu no assunto

C é que quis conversar e “esclarecer” que não há nada, e depois…

B é acusado e má interpretação

B tem vontade de dizer: VAI À MERDA!

27.6.07

Geração de Ouro

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A minha “formação” futebolística foi feita a par com os campeonatos e jogos realizados pela chama “geração de ouro”. O meu primeiro jogo de futebol in loco foi o Portugal-Coreia do Campeonato do Mundo de Juniores de Lisboa em ‘91 no antigo estádio da Luz. O segundo foi a final contra o Brasil que vencemos. Depois disso, seguiram-se jogos de apuramento para fases finais. Não foi a nossa selecção que me fez gostar de futebol, mas foi certamente ela que me possibilitou desfrutar desse desporto.

Uma das reportagens do “Perdidos e Achados” da SIC retomou as pisadas de alguns jogadores dessa geração, mostrando onde chegaram, as suas carreiras, como terminaram a carreira futebolística e a sua visão da experiência que na altura os colocou nos píncaros das possibilidades.

Foi bastante interessante perceber e ver como reagiram muitos desses miúdos, que pareciam ter o mundo inteiro nas mãos, a várias adversidades que os tiraram bastante cedo dos relvados, ou cujas carreiras os levaram a trajectos mais ou menos obscuros no mundo do futebol.

Deu para perceber que quem ingressa no mundo do futebol, o faz pela sua magia e aparente brilhantismo e que a estrutura e indústria que o assiste é muitas vezes cruel para esses desejos. E porquê? Porque em muitas outras áreas, quem atinge a fama e o estrelato são apenas um punhado de eleitos. E dificilmente poderia ser de outra forma. Já Warhol profetizava os famosos quinze minutos de fama e há quem diga que mais vale rainha por um dia do que princesa a vida inteira.

É certo que por momentos essa geração foi de príncipes encantados, mas depois da história vem a vida real com mais surpresas e armadilhas desagradáveis. Depois dita quem são os grandes homens quem melhor lida e aceita esses revezes.

24.6.07

A eterna questão

A arte imita a vida ou a vida imita a arte?

Creio que primeiro está sempre a vida, ou a realidade, e depois a arte, o que não implica que a arte não nos leve mais alem na vida. A arte é sempre uma reflexão e uma questionação e assim funciona como uma alavanca que nos faz avançar.

Sim, a vida é o mais importante, mas a arte pode ser o factor mais importante na vida.

Não importa se esta é verdadeira ou não. Se é ou não realidade. Importa que nos faz ver a realidade mais além ou mais perto de nós. Faz-nos ver mundos distantes ou penetrar mundos interiores. Não importa que eu veja uma deturpação do real porque pelo menos tenho um contacto, uma chamada de atenção para esse real. A arte tem esse fascínio e esse dom.

23.6.07

A história tem diferentes contornos. Tantos quantos os olhares que sobre ela repousam a sua atenção. A visão da história não altera a nossa perspectiva de vida. É a nossa perspectiva que dá uma nova dia à história.

22.6.07

Todos Sofremos

Quando o dia é longo e a noite, a noite é somente tua,
Quando tens a certeza que estás farto da vida, então continua
Não te deixes ir, porque, por vezes, toda a gente chora e toda a gente sofre

às vezes, tudo está mal. Agora é tempo de entoar uma música
Quando o teu dia é uma noite só, aguenta, aguenta
Se sentes a vida a passar, aguenta
Se crês já ter aguentado tudo da vida, então continua

Porque toda a gente sofre. Conforta-te nos teus amigos
Todos sofrem. Não desistas. Oh, não. Não desistas
Se te sentes só, não, não, não, não estás só

se estás por tua conta nesta vida, os dias e as noites são longas,
quando achares que já ter aguentado tudo da vida continua mais um pouco

Bem, por vezes, todos sofremos
Todos choramos. E todos sofremos, às vezes

E toda a gente magoa por vezes. Então, continua, continua
Continua, continua, continua, continua, continua, continua
Todos sofremos. Não estás só

Everybody hurts, REM

21.6.07

Redescobrir Orfeu

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Mark Chagall

O Mito de Orfeu

O Mito de Orfeu foi um dos primeiros que aprendi e sempre me seduziu. Atraia-me a ideia de alguém se confrontar através da introspecção com o seus piores medos e receios, chegando ao que eu considerava a um ponto de auto-conhecimento que sentia ser invejável. Durante muito tempo esta foi a minha perspectiva do mito.

Hoje, tenho uma perspectiva um pouco diferente. Vejo Orfeu com alguém incapaz de completar um percurso ou objectivo por falta de confiança em si próprio, e que de algum modo procura retirar de si a culpa dessa não conclusão. Orfeu é o indivíduo que prestes a concluir o projecto a que se propôs se serve das mais variadas “desculpas” para o não fazer. Continuando deste modo num território sombrio de introspecção no qual analisa todos os pormenores da falha, mas sem ver a luz do sol que a sua conclusão aportaria. É um ser inseguro que faz depender dos outros ou de várias situações alheias a realização de projectos e o atingir de metas realizáveis apenas por si. Orfeu não teme que Euridice não o siga, teme que não seja motivo suficiente para ela o seguir.

É assim que vejo Orfeu, e, infelizmente, é também assim que me revejo em certas situações.

20.6.07

Lançamento de As Mulheres do Meu Pai

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Não tenho por hábito ir a lançamentos de livros e confesso que sempre pensei que seria uma coisa calminha. Oh, ingenuidade a minha!

Quer pela qualidade indiscutível de José Eduardo Agualusa, quer pelo recente prémio internacional, quer por outras razões que eventualmente desconheço, este, mais do que um evento cultural, foi um happening social. Sentadinha que estive, vi durante horas desfilar algumas personalidades do meio cultural lusófono.

Até parecia que parecia mal a quem não marcasse presença. Ah, má língua! Será?

Serão assim sempre os lançamentos de autores já conceituados?

19.6.07

Pé ante Pé, Real Companhia

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Foi-me recentemente oferecido o CD Pé Ante Pé da Real Companhia com interpretações de várias musicas infantis portuguesas e brasileiras. Já tinha visto vários CD da Real Companhia à venda, mas nunca tinha escutado. Faze-lo, revelou-se uma grata surpresa. Gostei imenso, não só pelo relembrar de algumas canções da minha infância, mas também pelo tom extremamente relaxante das suas melodias. Foi uma descoberta prazeirosa e a repetir.


18.6.07

Carlos Drummond de Andrade

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A ideia que tinha desta poeta era de alguém muito conceituado no mundo literário lusófono, mas desconhecia o seu trabalho, com excepção de alguns poemas musicados. Então, foi com algum espanto que deparei num site com alguns dos seus poemas de teor erótico. Não que sejam maus poemas, muito pelo contrário. Denotam ritmo, cadência, jogos de palavras, ironia, mas também uma grande explicitez. Que foi o que mais me surpreendeu.

É muito fácil cair no preconceito de que autores maiores não se dedicam a certo tipo de temáticas ou géneros e depois quando o descobrimos surpreendemo-nos. Este facto só veio alargar a minha perspectiva sobre o autor e o seu trabalho. Bem, além de, é claro, divertir-me.

A língua lambe as pétalas vermelhas

da rosa pluriaberta; a língua lavra

certo oculto botão, e vai tecendo

lépidas variações de leves ritmos.

E lambe, lambilonga, lambilenta,

a licorina gruta cabeluda,

e, quanto mais lambente, mais ativa,

atinge o céu do céu, entre gemidos,

entre gritos, balidos e rugidos

de leões na floresta, enfurecidos.

A carne é triste depois da felação
Depois do sessenta-e-nove a carne é triste.
É areia, o prazer? Não há mais nada
Após esse tremor? Só esperar
Outra convulsão, outro prazer
tão fundo na aparência mas tão raso
na eletricidade do minuto?
Já dilui o orgasmo na lembrança
E gosma
escorre lentamente de tua vida

17.6.07

ZODIAC

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Com Zodiac, David Fincher demonstra a sua mestria na criação de ambiências e atmosferas. Se em Seven, nos apresenta um qualquer centro urbano que nunca é identificado com um lugar especifico e que pode ser qualquer um, em, Zodiac recria com grande realismo a S. Francisco da década de setenta. Ambos retratam a procura de um serial killer e a violência e morte a eles inerentes.

Apresenta uma grande fidelidade aos acontecimentos dando-lhes o tempo necessário ao seu relato. É uma realização que dá primazia às personagens e que me relembra Woody Allen e Clint Eastwood. E creio mesmo que Fincher é um dos melhores realizadores da actualidade.

É nas cenas de localização que aparentemente Fincher dá mais largas a pequenos pormenores de pura beleza estética, como por exemplo o acompanhamento da construção de um edifício.

Outro pormenor interessante é a ligação imediata que se faz com Os Homens do Presidente, pois os ambientes de redacção parecem reconstruídos ao milímetro.

16.6.07

Albânia

Tenho andado ultimamente por viagem literária no espaço geográfico da Albânia e dos Balcãs através da obra de Ismaïl Kadaré. E foi com alguma curiosidade que descobri que é a este espaço que se reporta a antiga Ilíria, também ela cenário de outras histórias como o Rei Lear de Shakespeare e que este é nada mais que Leandro, O Rei da Ilíria de Alice Vieira.

Ao consultar a enciclopédia, no intuito de perceber um pouco da sua história, compreendi que esta é bastante complexa, o que se deve em muito à sua situação geográfica que faz da Península Balcânica um lugar estratégico onde se unem povos oriundos da Europa interior, Mediterrâneo e Ásia.

Toda a Península tem sido palco constante de conflitos e vários interesses políticos (esteve na origem da I Guerra Mundial, dos conflitos do Kosovo e muitos outros) que tornam a sua história bastante sangrenta. E esse factor é bem visível na obra de Kadaré. Especialmente em Abril Despedaçado, mas também em O Palácio dos Sonhos em que está patente a figura de um estado controlador e omnipresente, mesmo em áreas aparentemente tão pessoais e intransmissíveis como os sonhos.

Este é realmente um espaço geográfico muito complexo e complexas são as relações dos povos que o habitam. Torna-se agora para mim mais compreensível a grande instabilidade política que ainda hoje aí se constata. E também não é de admirar que um autor como Shakespeare, cuja obra tem como fio condutor o desejo de ascensão ao poder e as suas estratégias de legitimação, tenha também escolhido este espaço para servir de cenário ao seu Lear. Daqui advêm também a constatação de que o poder, e o desejo de o atingir, é transversal ao ser humano.

14.6.07

Cinema: a Moderna Alegoria da Caverna

A Alegoria da Caverna de Platão é uma procura de demonstração de que qualquer tentativa de apreensão da realidade sem ser através dessa mesma realidade é sempre errónea pois qualquer representação da realidade não é a própria realidade e logo, não a sendo na sua plenitude não poderá ser tomada como tal.

Para Platão a realidade tinha somente lugar na dimensão das ideias e até toda a percepção sensorial que usualmente tomamos como realidade não o era, era somente uma cópia imperfeitas dessa dimensão ideal. Nesse sentido, toda a arte, que tenta apreender essa realidade quotidiana, deveria ser banida pois afasta os homens cada vez mais dos ideais. A arte seria assim uma cópia de uma cópia da verdadeira realidade.

Para demonstrar a sua teoria utilizou a referida Alegoria da Caverna, onde um grupo de homens encerrados de costas para a entrada da mesma só consegue apreender o que se passa lá fora através das sombras oriundas do exterior que se projectavam na parede da caverna. O que poderia induzi-los sempre num erro de apreciação.

O conceito mais semelhante no nosso quotidiano para essa alegoria é o do cinema, onde os espectadores se sentam usualmente de costas para a entrada e visionam as sombras e luzes projectadas numa parede. Das muitas pessoas que recorrem a estas modernas cavernas para observar as mais variadas histórias, muitas consideram ver espelhadas nesses ecrãs brancos a realidade. Mas será que vêem? Será que a arte é realidade ou será apenas uma cópia ou uma cópia de uma cópia.

Para muitos de nós haverá respostas diferentes. Para mim a resposta é que a arte é real e pode transformar-se na realidade, mas não é realidade originária. No entanto, não pode estar dissociada da mesma realidade, do que nos rodeia ou do que nos preenche. Pode ser uma representação dos nossos mais variados sentimentos: medos, angústias, desejos, fantasias. Mas é sempre relacionada e relacionável com essa nossa realidade, mesmo que interior. E se essa relação conseguir ser de diálogo melhor ainda, porque acredito que a partir do diálogo se vai mais além.

12.6.07

Joga-se na vida e joga-se no amor. Em cada um se colocam fichas proporcionais ao que estamos dispostos a perder no caso de não sairmos vitoriosos. Quantas depende em muito do que já se perdeu ou ganhou em anteriores partidas.

11.6.07

Pirata das Caraíbas: nos Confins do Mundo

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E Nos Confins do Mundo se finda uma das mais populares trilogias cinematográficas dos últimos tempos. Mas será que finda? Talvez para os mais incautos, porque este “último” capitulo, e é importante realçar a importância das aspas, lança simultaneamente os alicerces para uma futura demanda por terras de fantasia e magia onde quase tudo será possível.

Mas, voltando a este capítulo, concluímos que os seus grandes triunfos não passam pelo enredo que se mostra apenas como mero veículo para a exibição do que de melhor se faz actualmente a nível de efeitos especiais. Aí, sim, temos que dar crédito ao filme, pois os efeitos digitais são dos melhores que têm aparecido no grande ecrã. Bem como todo o trabalho de caracterização, guarda-roupa e cenografia. Nem sei mesmo qual destes aspectos será o melhor, todos no seu conjunto são de um deleite visual. O enredo é mesmo o elo mais fraco do capítulo. No que diz respeito a novas personagens, há que realçar a interpretada por Ken Watanabe, como pirata oriental. E esta incursão pelo oriente permitiu um guarda-roupa extraordinário.

Quanto aos efeitos especiais, já no segundo capítulo achei extraordinário o realismo da personagem de Davy Jones. Neste capítulo, considero que o episódio dos caranguejos um dos mais bem conseguidos.

Surpresas mesmo, há a reviravolta final no destino da personagem do Will, o que põe em movimento a engrenagem para uma nova aventura.

Quem me conhece sabe que não gosto de contar a história dos filmes para não estragar a surpresa a quem ainda não viu, mas é-me difícil explicar a previsível tese de enredo da próxima aventura sem abrir o jogo. Por isso, quem não viu recomenda-se acabar a leitura por aqui.

Quase no final, Will sofre um ferimento mortal e a única maneira que Jack tem de o fazer sobreviver é fazendo-o ocupar o lugar de Capitão do Holandês Voador, anteriormente ocupado por Davy Jones, o tal do Cofre do Homem Morto. Nesta condição de semi-vivo, ou semi-morto conforme o ponto de vista, Will vê-se na condição viver neste entre-mundo durante toda a eternidade e tem somente a oportunidade de ir a terra de 10 em 10anos. E só aí poderá ver a sua Elisabeth.

E é aqui que entra o 4º capítulo. Como ela é uma simples mortal, o tempo acabará por lhe trazer não só a velhice, mas também a morte. Ora bem, é aqui que entra Jack, que no final da aventura consegue ficar com um mapa que indica a localização da fonte da eterna juventude. Como vêem, estão lançados os dados para a quarta aventura.

9.6.07

Cientologia

A SIC transmitiu recentemente uma reportagem sobre a cientiologia e a sua presença em Portugal. Não vi a reportagem desde o início, mas segui com algum interesse até para perceber o que esta tem para oferecer para que seja tão reconhecida no estrangeiro, nomeadamente na comunidade hollywoodesca.

A verdade é que do que vi achei tudo uma grande treta, como tantas outras seitas que por aí existem que exploram a necessidade das pessoas de se encontrarem dando-lhes algumas fórmulas bem testadas e um bom marketing.

Tudo aquilo me pareceu funcionar à base de livros e workshops de desenvolvimento e auto-ajuda que permitiriam às pessoas atingir vários níveis de descoberta, aceitação e utilização da sua espiritualidade.

Talvez o objectivo até seja louvável: as pessoas encontrarem-se, entrarem em contacto, com a sua espiritualidade e viverem-na. mas o modo como esta é obtida em nada me parece diferente das outras seitas. Ou seja, tudo passa por uma espécie de lavagem cerebral, com a realização de sessões pagas (lá anda o dinheirinho à baila) e sem previsão de término. Só faltava falarem em dízimo, pois não há dúvida de que quem adere desembolsa um quanto dinheiro.

Há sempre algo que me intriga nas pessoas que aderem a estas seitas. Até compreendo que algumas estejam em situações desesperadas e que se agarrem a tudo o que lhes pareça uma bóia de salvação, mas há outras que simplesmente me parecem muito tótós. Há tanta maneira de desenvolvermos a nossa espiritualidade, de fazermos algo por outrem, de sermos melhores pessoas, sem ter de recorrer a este tipo de instituições um tanto ou quanto estranhas e obscuras. A ideia que fiquei desta é que funciona como uma máfia, ou qualquer coisa do género, em que fazendo-se parte do grupo tem-se benefícios sim, mas não exactamente de ordem espiritual.

8.6.07

A Mosca

Oh, querida criança
Não é segredo que as estrelas estão em queda do céu
Não é segredo que o nosso mundo está em escuridão esta noite
Dizem que o sol é por vezes eclipsado por uma lua
Sabes que não te vejo quando ela entra na sala

Não é segredo que um amigo nos deixa ajudar
Não é segredo que um mentiroso não acredita em mais ninguém
Dizem que um segredo é algo que se diz a outra pessoa
Então digo-te isto, criança

Amor… brilhamos como
Uma estrela em chamas
Quedamo-nos do céu
Esta noite

Um homem pedirá
Um homem rastejará
Na face alegre do amor
Como uma mosca na parede
Não é segredo nenhum

Não é segredo que a consciência pode ser uma peste
Não é segredo que a ambição roí as unhas do sucesso
Cada artista é um canibal, cada poeta um ladrão
Todos matam a sua inspiração e cantam a sua dor

um homem ascenderá
Um homem cairá
Da face alegre do amor
Como uma mosca na parede
Não é segredo nenhum

Não é segredo que as estrelas estão a cair dos céus
O universo explodiu devido à mentira de um homem
Vê, tenho de ir, sim estou a ficar sem mudança
Há tantas coisas que se pudesse reorganizava

The Fly, U2

7.6.07

6.6.07

Uma Solidão Demasiado Ruidosa

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Esteve em cena no Convento das Mónicas, casa dos Artistas Unidos, esta peça interpretada por António Simão, que com a mesma comemora 10 de carreira como actor.
O texto, de Bohumil Hrabal, na tradição do teatro do absurdo, acompanha a solidão de um homem que preenche o vazio da sua vida com o som da sua própria voz, discorrendo sobre os mais variados episódios da sua vida: o seu trabalho mecânico e aparentemente estupidificante, mas que se revela uma oportunidade única de conhecimento; a sua incapacidade para uma relação amorosa viável; a ameaça do progresso tecnológico.
É um texto bastante interessante e que através da ironia desmistifica algumas ridicularidades da condição humana.

5.6.07

O poder dos Sonhos II

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Já disse e escrevi várias vezes que adoro sonhar. Ou melhor, adoro assistir aos meus sonhos, pois na maioria das vezes é essa a sensação que tenho: a de assistir muito confortavelmente a um sonho como se de um filme se tratasse. Já dei inclusivamente por mim a raciocinar sobre o que estou a ver, a perceber porque o estou a ver e I porquês de algumas situações mais inusitadas. Já pensei até que só faltavam as pipocas. E tudo isto enquanto sonhava.
Tenho a noção de sonhar todas as noites, embora muitas vezes de manha não consiga fixar mais as imagens a que assisti durante a noite. Tenho pena. Gostaria de retê-las, de ter noção do que vi, pensei ou associei nessas noites. Mas nem sempre é possível.
Como quase todos os sonhos, penso eu, os meus são surrealistas. Creio que a maioria são bem dispostos, mas não posso garantir. Lembro-me de rir, de me espantar e de por vezes ficar angustiada com um peso no peito. Medo? Nem por isso. Creio que tenho um sono suficientemente lúcido para reconhecer que quando estou numa situação imaginária de perigo, numa fase antes do terror ou medo, consigo accionar um qualquer dispositivo de despertar. Já não é a primeira vez que penso, durante o sono, isto não está a correr muito bem e vai ficar pior ainda, por isso, das duas uma, ou continuo e tenho um pesadelo horrível, ou acordo um pouco angustiada, acalmo e torno a dormir sossegadamente. Que tenha memória, há já vários anos que faço a segunda opção.

3.6.07

O Poder dos Sonhos

Esta noite sonhei que recebi um sms (nem telemóvel todo xpto) em que a S. me participava o nascimento do seu filhote com 51 cm e 3.850 gr. Ora bem, o T. só está previsto nascer para o início de Agosto, embora ache que vai ser antes.

Já não é a primeira vez que sonho com o T. aqui há uns dois anos sonhei que a S. e o N. tinham saído e eu tinha ficado em casa deles a tomar conta do filho deles, um bebé com cerca de ano e meio. Quando contei à S. que me lembrava nitidamente de lhe estar a dar papa e de lhe chamar T., ela arregalou os olhos espantada, pois era o nome de rapaz que gostavam.

Só depois me lembrei que vários meses antes, numa conversa casual, tínhamos todos falado sobre nomes que gostamos. A mente tem destas coisas, recorda-se de coisas que já julgávamos perdidas.

Então, quando a S. ficou grávida disse-lhe logo que teria de ser um rapaz, para bater tudo certinho. Agora que se confirmou que ele vem aí, resta esperar que se confirme se tem realmente 51 cm e 3.850 gr. Se assim for, vou apostar forte e feio no euromilhões. Ou isso, ou dedico-me ao negócio da interpretação de sonhos ou leitura de cartas. Assim, pelo que vejo, também dá dinheiro. Nunca se sabe se não estará aqui o meu verdadeiro dom.

2.6.07

Vermelho, Mafalda Ivo Cruz

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Este foi o primeiro livro que li desta autora, mas, no entanto, não sei se voltarei a ela. Gostei de alguns elementos da história, nomeadamente o enredo exótico que envolve a personagem de Afonso de Amadeus, que me fez lembrar o simultaneamente racional e também demente Kurtz de O Coração das Trevas, com os seus valores e prepotência quase divinos, como que rei em terra de cegos.

Já o modo como a história é desnovelada assemelha-se muito a Vergilio Ferreira e em especial ao seu Alegria Breve, o livro dele que li mais recentemente. Apresenta o mesmo tipo de saltos, a mesma divagação temporal, e inclusive algumas reflexões. Houve mesmo duas ou três passagens extremamente parecidas: o discorrer sobre a aparente pureza da máquina; algumas quase citações, como a vida assinar de cruz; a noção da mulher inatingível, aquela que se ama mas nunca se consegue perceber permanecendo sempre enigmática e por isso mesmo cativante; e até mesmo a noção da escrita como poder divino, como re-escrita possível de uma vida.

Quanto ao título, é bastante emblemático nesta obra, correspondendo quer ao sangue que dá e assegura a vida, mas, neste caso, sobretudo o sangue que a vai corroendo.