Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

30.1.07

Crimen Sollicitationis

Crimen Sollicitationis é um documento confidencial e oficial emitido pelo Vaticano e enviado a todas as suas dioceses a nível mundial. O conteúdo deste documento é um manual de actuação para as respectivas dioceses no caso de um padre ser acusado de assédio e abuso sexual de menores.
Dos vários elementos chocantes neste documento a frieza do seu conteúdo é claramente o maior. No entanto, destaca-se que este não é o documento punitivo para os infractores. É o manual que explica como a diocese deve actuar, abafando o caso, desde o início. Incentiva a manipulação psicológica das vítimas fazendo com que as mesmas se considerem não vítimas mas culpadas de toda a situação. Quanto ao abusador, este simplesmente é mudado de diocese, perdendo assim os paroquianos um pouco o seu rasto. Depois, não há a mínima preocupação em que a deslocação do “abusador” seja para um local / serviço onde o seu contacto com possíveis vítimas esteja condicionado,. Normalmente, este é enviado para um local igual ao anterior, possibilitando assim a ocorrência de novos abusos. Mas esta é apenas uma pequena ideia sobre o documento.
Este documento foi emitido durante a década de setenta e o responsável pela sua elaboração e difusão foi Joseph Ratzinger. Faz-nos pensar, não?

29.1.07

Scoop

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Este filme tem diálogos deliciosos. É curioso como para mim o humor é algo que se saboreia. E cada tipo de humor tem um sabor diferente: há o humor leve e fresco, há o subtil, o de sabor intenso, há o que deixa azia e mau estar, e há aquele de que às vezes só percebemos o sabor no último pedaço. O humor alivia-nos a alma e sacia-nos o espírito.
Esta é uma das razões pelas quais gosto do trabalho de Woody Allen: pelas doses de humor com que nos brinda, às vezes mais subtis, outras mais explicitas, mas sempre de uma grande inteligência. Não só através dos seus filmes, mas também através da sua escrita, o que cada vez mais aprecio é a inteligência deste homem. Acho que invejo as suas celulazinhas cinzentas.
Quanto ao filme, é alegre e bem disposto. Mas, no entanto, não é tão bom quanto foi Match Point, cuja grandeza era toda a sua subtileza: na direcção, na composição das personagens e na utilização do humor. Está lá tudo mas quase não se percebe a sua presença.
Scoop é claramente uma comédia com tropeções especialmente visíveis na edição em que há mudanças de cena, quiçá também de bobines, demasiado bruscas e que dão a sensação de que algo foi excisado por falta de tempo, ou seja, a passagem não é natural.
Johanssen e Jackman movem-se bem no universo Allen, apesar das suas personagens desiguais. Dir-se-ia que a trama foi escrita para fazer brilhar Allen e Johanssen e que Jackman é apenas um moço jeitoso que lá anda e pouco mais. A sua personagem é um bocado inócua.
Apesar das suas faltas, como dizia alguém, não lembro quem, ainda assim um Allen menor é sempre um bom filme.

28.1.07

As Bandeiras dos Nossos Pais

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A História, tal como a conhecemos, é um equívoco. Uma mera interpretação do acontecido e que pode não coincidir com o mesmo.
Este filme propõe uma reflexão, sem procurar culpados ou fazer acusações, sobre um desses equívocos da história. Mais do que sobre o equívoco propriamente dito, sobre o impacto desse equívoco.
Aliás, creio que não há história de acontecimentos, há a história do impacto, de como algo influência, de como chega a alguém e de como é que esse reage. Aliás, se não houver reacção, não há história. Não há memória. É por isso que nunca há uma verdadeira história dos vencidos e omissos dos palcos dos acontecimentos. Não houve quem reagisse aos mesmos. Sobre esses apenas a ficção se dedica.
Como ponto de partida para o enredo, temos o filho de um ex-combatente que às portas da morte do pai procura finalmente entender como foi a experiência de guerra do pai. Para isso, contacta vários ex-combatentes na batalha de Iwo Jima para tentar perceber o impacto da mesma na vida do seu progenitor. Ao acompanharmos essa busca, vamos tomando conhecimento dos acontecimentos da batalha e a sua consequente promoção numa campanha de angariação de fundos.
Passado em três tempos/espaços, o argumento tenta dar as várias perspectivas daquele momento decisivo no desenrolar da Segunda Guerra Mundial. Primeiro, o ambiente da guerra e de como jovens inexperientes e imaturos lidam com o ambiente de combate e do que deles és esperado no campo de batalha. Segundo, no regresso a casa, o que se espera deles enquanto soldados “promovidos” a heróis por força das circunstâncias e não por mérito próprio. Terceiro, como estes reagem ao circo mediático e de como assumem a sua heroicidade imposta. Quarto, como a guerra e os seus horrores permanecem nas suas mentes ao longo dos anos e como cada soldado lida com o seu drama.
O tema é tratado com humildade e sobriedade e, esteticamente, cada tempo tem uma componente cromática que o difere. É de salientar a excelente cinematografia, com a recriação da batalha e a fidelidade às imagens a preto e branco da época.
Eastwood confirma os seus créditos como realizador e aguça-nos a apetite para a estreia a 22 de Fevereiro de As Cartas de Iwo Jima, a perspectiva do lado Japonês deste batalha, e que conta com várias nomeações da Academia.

27.1.07

Prision Break

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Já tinha lido boas críticas e ouvidos excelentes elogios, especialmente do público masculino. E compreendo-os. Finalmente uma série de gajos para gajos, mas que também gostamos de ver, não fossem os mocinhos tão bem apessoados. Gostei da premissa da série e da racionalidade do protagonista. Vejamos agora a continuidade, apesar do péssimo horário em que é transmitida pela RTP1.

26.1.07

Constatação

… em Inglaterra nenhum mordomo foi jamais autorizado a usar óculos – nem bigode, aliás.

Contos do Imprevisto, R. Dahl

24.1.07

Palavra #3

chulipas - do Ing. Sleeper, s. f., nome vulgar de cada uma das travessas sobre que assentam os carris dos caminhos-de-ferro; dormente; pancada com o lado exterior do pé nas nádegas de outrem.

22.1.07

Sabedoria

Você estará a pedir-lhe algo que o ultrapassa completamente quando lhe pede que compreenda o labirinto da sensibilidade feminina.

Somerset Maugham

21.1.07

Stuck on You - Agarrado a Ti

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Como será viver literalmente agarrado a alguém? Como será ser um indivíduo que não é fisicamente uno? São questões intrigantes e que poderiam ser os temas dominantes deste filme. Mas este filme aborda a temáticas dos gémeos siameses do ponto de vista da comédia e, deste modo, o filme não é tanto sobre os seus dramas pessoais, mas antes pega nas suas vivências e utiliza-as como meio para criticar o star sistem americano.

Deste modo, acompanhamos as peripécias dos dois siameses em que o sonho de um deles é ser um grande actor e que decide tentar a sua sorte em Hollywood. Ou seja, como se comportam e adaptam dois “anormais” à terra das anormalidades e excentricidades por excelência.

Esta visão crítica do star system hollywoodesco põe o dedo na ferida na sua capacidade de fazer tudo por tudo para promover a sua indústria e é curioso ver como se produzem/vendem estrelas. Nesse aspecto, é também curioso o papel de Cher, que ao interpretar a si própria, se permite ridicularizar a sua imagem pública.

20.1.07

Nome de código: Sintra

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O grande pecadilho da RTP não é o seu conteúdo programático, são os seus horários, e não há meio de entender as decisões dos seus responsáveis. Pelo menos, eu não entendo. Tinha compreendido que esta seria a aposta da estação para as noites de Domingo, mas vejo que também é transmitida à sexta-feira. Será transmitida em mais algum dia, ou será quando bem lhes entender, como tem sido seu apanágio.

Agora a série propriamente dita. A televisão portuguesa não tem muita tradição na concepção de thrillers, por isso esta incursão na área é por si só um ponto a seu favor. É claro que pode não ser uma máquina muito oleada, mas não deixa de ser um exercício de aperfeiçoamento.

O elenco é de luxo, referindo-me ao facto de que a grande maioria dos actores pertence à família das novelas nacionais e, nesse aspecto, está bem habituada à linguagem televisiva. E em apenas dois episódios, não me apercebi de nenhum erro de casting flagrante. A intriga está lançada, com personagens dúbias q.b. e a acção a decorrer em dois planos temporais, o que me parece ser o mais interessante.

Interessante, é ainda, a redescoberta de um clássico, relido e adaptado à actualidade, o que é sempre bom no aspecto didáctico. E assim, insere-se na função de serviço público, o que a RTP tem feito muito bem.

19.1.07

-Tens um sabor diferente.

-Ah sim? talvez…

-Sim, mais adocicado. Diria que sabes a castanhas.

18.1.07

Palavra #2

Mugem - do Lat. Mugile, s. m., Ictiol., peixe acantopterígio; corrente de metal usada ao pescoço como adorno, na Índia e África; cinto de metal ou missanga usado por negros da África Oriental.

17.1.07

Ao Sabor das Ondas

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Este filme pode até ter uma ideia interessante, mas ao ser desenvolvida através de tantos clichés e estereótipos, só consegue que se torne num filme mau, francamente idiota e ridículo.
O enredo conta-nos a história de uma senhora de sociedade, que devido ao seu poder económico, se dá ao luxo de por e dispor da dignidade dos seus empregados. Mas, a dado momento, é obrigada a conviver numa ilha deserta com um dos empregados maltratava e os papéis invertem-se. Estes lá acabam por se apaixonar e prometem que ao sair da ilha irão continuar a viver esse amor. No entanto, após o seu salvamento por alguns desencontros, tal não acontece.

Esta versão moderna de Robinson Crosue poderá querer demonstrar que amor e uma cabana é um ideal muito bonito, mas que tal só funciona se realmente não houver mais “mundo” ao redor. Pois a vida real apresenta-nos demasiadas exigências para que quotidianamente nos possamos abstrair do nosso papel na sociedade e simplesmente deixemos tudo para trás.

No entanto, o filme também aborda o tema da mudança. São-nos apresentadas personagens que evoluem ao longo da trama, no entanto, no final não têm a coragem necessária para realizarem na sua vida mudanças condizentes com essa evolução. Os acontecimentos da vida mudam-nos, fazem-nos ver coisas que anteriormente não víamos, a dar valor a algumas coisas e também a não nos preocuparmos com outras. Às vezes precisamos de uma pedra de toque, no entanto, não podemos fazer depender de alguém a necessidade de mudança, porque ela depende apenas de nós. Se estivermos sempre à espera de algo ou de alguém para realizamos mudanças nas nossas vidas nunca o faremos e viveremos sempre aquém das nossas possibilidades.

16.1.07

Serendipity

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Acaso ou destino? Avisos ou sinais? São as eternas questões que se colocam quando inesperadamente se conhece alguém que pode ser o tal. Haverá uma conjuntura cósmica encarregue de juntar corações ou, simplesmente, as pessoas surgem nas nossas vidas e cabe a nós definirmos a sua importância nelas?
Não sei, mas relembro a frase de Lars Gustaffson “as pessoas verdadeiramente importantes nas nossas vidas, cruzam-se connosco pelos menos 20 vezes, antes de levarmos os avisos a sério.” O que significa que o nosso alguém pode estar bem próximo. Basta estar atento.

15.1.07

Cautela

Este fim-de-semana ia batendo com o carro. Um acidente estúpido e evitável, como quase todos os acidentes o são. Um cruzamento, um carro que não se observa porque a sua localização coincide com o ângulo morto e a pressa de não esperar mais 2/3 segundos para evitar surpresas.

Todos nós que temos um carro nas mãos apanhamos de quando em quando sustos e devemos ter a noção que esses sustos são avisos para uma maior cautela, porque num futuro poderão deixar de ser avisos e poderão ser acidentes com consequências graves. Todo o cuidado é pouco. Não bati com o carro, sei lá, porque não tinha de ter batido, talvez tenha sido isso. Mas foi por tão pouco que ainda sinto um peso no peito ao relembrar a situação.

14.1.07

The Departed - Entre Inimigos

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O que acontece quando se é simultaneamente o gato e o rato, a caça e o caçador? Um dia ganha-se, um dia perde-se. E quando o confronto é directo? A vitória é apenas aparente. Porque há sempre trunfos escondidos e a justiça nem sempre é poética.
É um excelente filme em vários aspectos: no argumento e desenvolvimento das personagens; nas interpretações, com várias cenas dignas e antologias; na cinematografia; nas ambiências sonoras; na direcção magistral.

É um sério candidato a vários prémios, podendo ser destronado, no entanto, por algum drama mais humanitário.

13.1.07

You Are Apple Red

You're never one to take life too seriously, and because of it, you're a ton of fun.
And although you have a great sense of humor, you are never superficial.
Deep and caring, you do like to get to the core of people - to understand them well.
However, any probing you do is light hearted and fun, sometimes causing people to misjudge you.

12.1.07

O Outro pé da Sereia, Mia Couto

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O outro pé… é uma viagem por uma África interior na qual se conjugam expectativas idealizadas e a África real. Uma África onde encontramos uma influência colonizadora escravizante e uma religiosidade de retalhos: o cristianismo mescla-se com os deuses autóctones e com o misticismo dos deuses goenses. Esta África é vista por vários filtros: uma visão africana sem ilusões, uma visão exterior do Brasil e a visão de uma América negra em busca de uma raiz idealizada e impossível de encontrar e concretizar.
As grandes personagens deste livro são as mulheres. As mulheres que com as suas sensibilidades encontram no seu âmago a mais inesperada força e fé para a continuação. As mulheres: as grandes sereias que enfeitiçam os homens com o seu misterioso canto. Canto que seduz porque encerra em si os mistérios da vida a que os homens apenas aspiram atingir.

11.1.07

A Escola

Sinto saudade da escola. De aprender os nomes e os conceitos e algumas datas que nunca retive bem na memória. Tenho saudades deste aprender simples e despreocupado da vida que nada tem a ver com as mais dolorosas lições da vida. É um outro aprender, feito de suavidades e curiosidades, e que a vida só nos dá em pesadas ironias.

Voltar à escola. Sentar nas pequenas carteiras e desfolhar livros de cores e desvirginar folhas de cadernos. Deixar voar o olhar enquanto os ouvidos ficam presos às palavras soltas pela sala.

Recordo esse sorriso que me iluminava o dia.

10.1.07

Porque a vida nos dita a necessidade de não nos darmos por vencidos.

Não nos rendemos. Recomeçamos!

9.1.07

No metro do Porto

Ao realizar a viagem no Metro do Porto entre S. Bento e o Jardim do Morro e percorrendo a Ponte de S. Luís ao inicio da noite, juntei uma nova imagem à minha colecção pessoal de luzes na cidade.

As luzes do Porto juntaram-se assim às luzes de Lisboa, de Paris e de Londres. São luzes especiais. Luzes captadas pelos meus olhos nesses momentos indefinidos em que o dia encontra a noite e a sua escuridão é pontilhada pelas mil e uma luzes de uma cidade. São momentos mágicos, belos e eternos.

As luzes de Lisboa vieram ao meu encontro ao sobrevoa-la. Lisboa é das mais bonitas cidades para se sobrevoar e aterrar. De dia, pela sua proximidade ao mar em que os azuis cerúleo e marítimo se fundem recebendo placidamente o rio com um toque de vermelho sobre o mesmo. De noite, pelo vislumbre da irregular superfície da cidade, como dizia o poeta, a ponto luz bordada. O regresso a Lisboa de noite é um regresso de beleza e de calma.

Subir a torre Eiffel ao final da tarde e ver o enorme e indefinido cinzento da cidade dar lugar a milhares de centelhas cujo número cresce diante dos nossos olhos quase até ao horizonte é um espectáculo natural. Adivinhar os locais pelos contornos de luz, refazer os passos do dia pelas pegadas de luz é compreender a magia da cidade-luz.

Londres é baça. Não é exactamente cinzenta, mas é quase impossível vê-la sem um filtro que esfume quase todos os contornos, fundindo o tempo, os edifícios, o rio. Ver a cidade a ganhar contornos definidos a partir do London Eye é fixar pontos concretos de observação, é fixar limites, é definir os contornos que anteriormente não estavam lá.

Agora, juntei à minha colecção as luzes do Porto e da sempre esquecida Gaia. A profusão de luzes que se dilui na grandeza da Foz para marcar a sua presença no farol.

Mais uma malha de luzes tecida na minha memória.

5.1.07

Que mudanças?

Que mudanças para um novo período nas nossas vidas? Encontro-me dividida entre as esperança do muito e a perspectiva do nada.
Então, que pequenos nadas poderei alterar para alcançar um grande muito?
Apostar mais nas minhas capacidades, acreditar que sou capaz. Não ficar pelas aspirações, pelos ses, pelos gostaria. Sim, esse é o grande desafio: superar a minha insegurança.

4.1.07

Eu já não sei o que é amar
Depois de tanto que te esperei
Acabou o meu poder amar
Secou medrou murchou
Sem a tua seiva

3.1.07

O temporal

A meteorologia previu um temporal para esta noite. A chuva começou. Já corri a casa a verificar se todas as janelas estavam fechadas. A chuva cresce de intensidade. Daqui a pouco o seu som a bater nas janelas será quase ensurdecedor. Os minutos parecerão uma eternidade.

O ribeiro irá aumentar de volume. Trará consigo o lixo dos outros, as plantas incapazes de resistir à força da corrente e até pequenos restos mortais de animais. A luz do candeeiro vai diminuir de intensidade há falta de quem iluminar. As gentes estão no interior das suas casas e apenas de quando em quando se deslocam à janela para tentar perceber no céu ou na escuridão algum indício de o final do mau tempo está para breve. Apenas algumas quase pessoas se abrigam como podem de baixo de vãos de escada que não protegem da humidade da noite nem da água que escorre pelos degraus abaixo.

Esta noite será de quase silêncios entre as gentes nas suas casas ansiosas pelo fim do dilúvio. Somente alguns poucos murmúrios emitirão algo como: isto hoje está mau; Deus queira que passe rápido; sabemos que a chuva é precisa, mas assim só vai estragar tudo; coitados desses desgraçados que andam aí na estrada ou dos que não têm um tecto em cima; só espero que não haja nenhuma inundação; e mais… mais…

E a certa altura ouvir-se-á um silêncio quase sepulcral lá fora. Dentro das casas, as gentes arrastarão ligeiramente s cadeiras para trás ao levantarem-se. Dirigir-se-ão às janelas e novamente olharão os céus; será que já acabou ou foi apenas uma pausa?

O vento levantar-se-á e fará estremecer os vidros. Aos poucos, começam os barulhos: vozes; carros que iniciam a sua marcha, os televisores dos vizinhos murmuram sons indecifráveis e ocupam os silêncios domésticos.

A ordem parece reposta.

2.1.07

Eu

Eu é a palavra mais vazia do universo
O buraco negro da humanidade
O egoísmo que tudo suga
E em que nada está porque tudo destrói na ânsia de deter, de se ser
Eu é o grande nada que tentamos encontrar e explicar
O grande vazio onde cabem todas as questões
E por onde se escapam todas as respostas
Porque não se sabe responder o que não existe
Adelaide Bernardo