Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

30.9.10

Vou terminar tudo o que comecei:

- colocar os pontos em cada final;
- encerrar cada capítulo;
- fechar cada livro.

Só assim serei livre para um novo futuro.

29.9.10

Sintra-Oriente

Um dos meus sonhos é viajar no Expresso do Oriente e ter a possibilidade de conhecer terras diferentes, paisagens inóspitas, desertas de vida …

Em vez disso, deparo-me diariamente com a paisagem urbana da viagem Sintra-Oriente:

• A construção desenfreada;

• A rede viária e a IC19;

• As ruínas na zona de Braço de Prata;

• O vislumbre da catedral benfiquista;

• O perfil do palácio;

• Um pedaço de rio com as luzes da Ponte Vasco da Gama;

• A mistura de turistas e trabalhadores;

• Os viajantes diários, homens e mulheres de trabalho, vidas de sacrifícios e sonhos fugidos.

28.9.10

O conde de Monte Cristo

Sempre tive a sensação de que o Conde de Monte Cristo era uma história para rapazes e homens, mas nunca li o livro. Segui a versão telenovelesca A Vingança, já de si uma versão de uma telenovela latina, e fiquei com alguma curiosidade. Continuo sem ler o livro, mas desta feita vi o filme com Jim Caviezel e Guy Pearce.

Sei saber ao certo se gostei ou não, pareceu-me uma boa reconstrução histórica, com interpretações eficazes, o enredo escorreito, mas no fundo nada de especial.

Consigo perceber o fascínio da história, mas o filme não me entusiasmou, talvez por ter seguido vários meses a novela, o que permitiu um maior contacto com as personagens. Daí que, o que este filme me suscitou foi a vontade de ler o original um destes dias.

27.9.10

As palavras insinuadas


Os sinais lidos

As mensagens elípticas

Os desejos não proferidos

Nós, na nossa viagem

24.9.10

O amor é…

O amor não existe por si só. O amor é um conjunto de tantas características que diferem que se transforma de ser para ser e, como tal, nunca é igual, permanecendo indefinível.

O amor é respeito, admiração, cumplicidade, descoberta, surpresa, riso, companheirismo, calor, ternura, carinho, desejo, … Mas, sobretudo, o amor começa com disponibilidade.

Disponível para o amor não é um título de filme, é um estado de espírito que nos temos de permitir, pois ninguém entra por uma porta fechada. O amor começa com disponibilidade e é um caminho percorrido em conjunto.

Não sei se há a pessoa certa, mas sei que há a pessoa no momento certo. No momento em que nos dispomos a aceitar alguém, encetamos uma viagem de descoberta e assim se inicia a conjugação de todos esses sentimentos que compõem o amor, esse sentimento que é…

23.9.10

Quando se é preso por ter cão e preso por não ter, prefiro ser por não ter, porque ao menos não tenho de me preocupar com ele enquanto estou presa.

22.9.10

A última ceia

O formato de talk show tem uma dinâmica muito peculiar que depende quase exclusivamente do seu apresentador. o modo como direcciona os seus convidados, os temas a abordar, como deixa ou não fluir, a empatia com os convidados: são características aparentemente fáceis, mas cujo treino e sensibilidades nem sempre se atingem. É por isso que muitos já o tentaram, mas pouco conseguem fazê-lo.
Um dos talk shows da minha preferência é a Última Ceia de Rui Unas. Com um tom assumidamente cómico, Unas apresenta-nos uma variedade de convidados, sobretudo da área artística, mas nem sempre conhecidos do grande público. O tom é irreverente e irónico e o formato/cenário simples.

21.9.10

Ao entrar por esta porta sabia que nada seria igual no futuro. Uma vez transpostas, há portas que nunca mais se reabrem.

20.9.10

Sobre o anonimato

A blogosfera é rica em opiniões, ficções, desvarios e fantasias.

Assinadas ou em nome próprio, pseudónimos ou sob pretensos colectivos, adicionei recentemente ao meu Google Reader vários blogues sobre Sintra. Se por um lado tem sido uma forma de conhecer melhor a realidade que me rodeia, por outro tem sido interessante perceber como a crítica se esconde sob o anonimato.

Alguns blogues são notoriamente alimentados por pessoas de forças políticas diferentes da actualmente À frente do município. Talvez nos corredores políticos se saiba exactamente quem os escreve, mas o público em geral acaba por conhecer apenas a crítica, sem saber exactamente quem a subscreve. Provavelmente pessoas dentro do aparelho municipal, mas cuja frontalidade se fica pelo anonimato, ou então alguém que notoriamente lá quer chegar.

É claro que neste país nem sempre é fácil assumir o que se diz: há consequência e que ninguém diga o contrário. É pena, porque uma censura velada é pior que uma censura explicita. Não há fair play para assumir uma voz crítica, porque o máximo que se ganha é palmadinhas no ombro de uns e outros, os primeiros a depois a abandonar o barco, em seu proveito.

Tenho pena que assim seja. Aprendi a respeitar pessoas – mesmo sabendo que estas são falíveis – e não blocos amorfos de opiniões.

19.9.10

Nós, os excluídos

Nós, os que não temos Nexpressos, nem Delta qs, nem bimbis, nem ipods, iphones ou ipads, nem e-books e outros gadgets que tais, somos os novos excluídos sociais.

Não estamos capacitados para tecer considerações sobre cores e aromas de café, não trocamos receitas e os nossos truques culinários são obsoletos, não aconselhamos aplicações informáticas ou digitais. De há anos para cá, alguns temas de conversa reduziram-se drasticamente. Há mesmo pessoas com quem já não há qualquer tema de conversa, pois a sua personalidade esgota-se nos aparelhometros que possuem. Quem são elas para além dos gadgets? Não consigo perceber.

Quem sou eu? Nem sempre sei quem sou. Inevitavelmente, a vida tem-me mudado, quero querer que para melhor, embora nem sempre o pareça. Mas sei que sou alguém para além de qualquer objecto de moda e status. Defino-me. Não sou definida pelos objectos que tenho.

18.9.10

Peso Certo

Primeiro pensei: um concurso sobre gordos a perder peso, só mesmo os obesos dos americanos para pensar nisso. Depois, vi um ou dois episódios e fiquei curiosa: será que conseguiram perder peso? Agora: sigo quase todos os dias as pesagens e desafios. Não torço por nenhum participante, mas fico espantada com as suas perdas de peso semanais. E é isso que nos mantém presos ao ecrã: o suspense. É claro que os participantes se encontram, em condições muito especiais para perderem os imensos quilos que perdem (há quem perca, no final do concurso, o equivalente a uma outra pessoa). por um lado, transmite ao público a sensação que é possível: basta determinação e disciplina. o que infelizmente não são as caracteristicas mais usuais num obeso. Mas ainda assim, a motivação e a competitividade que são induzidas nos concorrentes, tornam este concurso uma "gula" diária.

17.9.10

Perdi a minha capacidade de comunicar

Ao longo dos últimos meses, fui calando em vários momentos palavras que deveriam ser ditas. Por falta de coragem em admitir o erro. Para evitar verbalizar a dor e encara-la cara a cara.
Soterrei palavras na esperança de soterrar sentimentos e agora o meu peito pesa e de tão pesado já nem força para respirar. O cansaço toma conta de mim e a angústia deixou-me ancorada.

16.9.10

Quando se diz adeus para sempre é necessário olhar frente a frente o objecto da nossa despedida. O luto consequente necessita dessa última memória aonde voltar sempre que o coração aperta. Essa memória que garante a sua presença eterna em nós.

15.9.10

COGITO

eu sou como eu sou
pronome
pessoal intransferível
do homem que iniciei
na medida do impossível

eu sou como eu sou
agora
sem grandes segredos dantes
sem novos secretos dentes
nesta hora

eu sou como eu sou
presente
desferrolhado indecente
feito um pedaço de mim

eu sou como eu sou
vidente
e vivo tranquilamente
todas as horas do fim.


Torquato Neto
(1944-1972)

Visto no Poemargens.

14.9.10

O meu poema é de silêncio
Não sei as palavras para escrever
Em obsoletas páginas de papel
E impessoais tecnologias

13.9.10

Diálogo negligente

- Merda, já sabia que a negligência se pagava caro. Porque é que fui arriscar, ainda para mais neste momento, quando não me posso dar a esse luxo? - Porque a tentação está lá e há momentos em que precisamos de nos deixar ir, em que já não aguentamos ser racionais e não pensar em nada é um oásis.
- Mas as consequências… e se acontecer o pior?
- E se acontecer o melhor? É o que nos diz o diabinho no fundo da mente e por vezes ele leva a melhor sobre nós.
- E se acontecer o pior?
- Se acontecer, lidas com as consequências: vês quais são as tuas opções e optas pela menos má. É sempre assim…
- Fui tão negligente!
- Agora não adianta chorar sobre o leite derramado. Há que esperar e ver o que acontece. Se há coisa certa na vida são os nossos inúmeros erros. Diferentes, como convém, mas ainda assim erros.

11.9.10

Conta Corrente I (1969), Vergílio Ferreira

Não considero imperativo conhecer a vida do autor para conhecer e apreciar a sua obra. Sendo a obra um objecto de reflexão do autor, é também um reflexo mais ou menos explicito da sua vida. Conhecer a vida do autor é ter uma perspectiva pessoal da sua obra, mas mal da obra se esta não excede a via do autor.

Se a biografia do autor se pretende um relato fiel, a diaristica pode e deve ser encarada como uma mais uma vertente da sua escrita. Uma reflexão, quiçá, mais intima do seu ser. Mas que não deixa de ser um discurso escolhido, em que a selecção de temas, abordagens e tons são opções mais próximas da narrativa ficcional.

Uma das minhas últimas opções de leitura tem recaído sobre a diaristica de dois dos meus autores de eleição: Migual Torga e Vergílio Ferreira. Neste Conta Corrente, ano de 1969, predominam a reflexão literária, bem como observações sobre acontecimentos pessoais, dentro da esfera familiar e de amizades. Das várias reflexões literárias saliento a temática da edição, revisão e tradução, bem como da construção do romance. Das reflexões pessoais, saliento a temática do tempo e da morte.

8.9.10

Diálogo médico

- odeio ir ao médico.
- ninguém gosta de estar doente.
- com a doença posso eu bem, o que não gosto é de ser escrutinada, questionada. Mesmo com sigilos profissionais, não gosto de me explicar.

7.9.10

Por vezes, tantas vezes, demasiadas, tão embrenhados estamos nos nossos problemas que descuidamos dos problemas de quem nos rodeia.


Egoístas, julgamos que as outras vidas são rotineiras e apenas têm contratempos menores. Sobrestimamo-nos. Julgamo-nos os únicos com problemas aos quais se podem realmente chamar problemas. Só nós temos uma vida difícil de sacrifícios e desnortes.

Mas nas outras casas, para lá das outras portas, há também dramas, que do nosso umbigo, recusamos verm ou, vendo, dar importância.

Até na dor somos egoístas, queremo-la unicamente para nós, para sermos únicos mártires, dignos de compaixão.

Que triste… pois somos tão incapazes de compaixão com os demais.

5.9.10

O humor e a cidade – Seja ela qual for…

O humor está cada vez mais enraizado no espírito e na televisão nacional, alargando o seu espectro a programas sem tradição de produção cá pelo burgo, como é o caso dos magazines de viagens. À excepção da rubrica da SIC Ir é o Melhor Remédio, esta tradição anglo-saxónica chega-nos via produções estrangeiras como o Sem Reservas, de Anthony Bourdain.
A premissa é apresentar não só os lugares mais turísticos de uma cidade portuguesa, mas também explorar humoristicamente o seu património e idiossincrasias. Para algumas gargalhadas, Domingo, 21h30, RTPN.

4.9.10

"Os livros são espelhos:
só se vê neles o que a pessoa tem dentro."

Carlos Ruiz Zafón, A Sombra do Vento, p.224

2.9.10

Diálogo vergonhoso

- ontem fiz a walk of shame.
- Sério?
- Sim. Eram 10 da manhã, e só sentia o sol a ofuscar-me enquanto ia para o carro.
- Isso não é uma walk of shame. Walk of shame é serem 2 ou 3 da manhã e dizerem-te que já é tarde e que amanhã se levantam cedo, sem que pelo meio se mencione “dorme cá em casa.”

1.9.10

Chile subterrâneo

As notícias dos últimos dias têm-nos bombardeado com as mais ínfimas vitórias relativas à tentativa de resgates dos 33 mineiros soterrados numa mina no Chile.
Tanto tem sido dito e escrito e apenas me consigo sentir assombrada perante esta situação.
A resistência humana é por vezes inexplicável e este é um dos mais notórios exemplos: resistir durante duas semanas sem qualquer contacto exterior e, agora, quem sabe, resistir ainda meses antes de um resgate que ninguém pode garantir ileso.
O meu respeito por estes homens.