Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

28.2.10

Sobre a organização

Gosto de organizar, embora me falte uma boa dose de perfeccionismo, que leva a que falhe sempre qualquer coisa.
Mas gosto. Espicaça-me a imaginação: a capacidade de resolver problemas, adaptar espaços e procedimentos a locais e actividades especificas, adequar conteúdos e materiais a objectivos e contingências, etc.
Para me ajudar, faço umas check lists, que nunca fizeram mal a ninguém.

27.2.10

20 Navios, Ruy Guerra

20 Navios é uma colectânea de crónicas do cineasta Ruy Guerra, que versam sobre os mais variados temas, sejam mundanos ou actualidades.

26.2.10

Terror de te amar..., Sophia de Mello Breyner Andresen

Terror de te amar num sítio tão frágil como o mundo

Mal de te amar neste lugar de imperfeição
Onde tudo nos quebra e emudece
Onde tudo nos mente e nos separa.

25.2.10

Diálogo etário


- mas ele é da nossa idade, sabes isso.
- Sim, mas sempre teve cara de miúdo e já não o via há alguns anos. Quando eventualmente pensava nele, era sempre com a mesma cara e miúdo e agora, pronto, tem cara de homem. Além de que não estava nada à espera de me cruzar com ele, então foi uma completa surpresa.
- Mas está assim tão diferente?
- Não está assim taaaão diferente. Amadureceu. Se tivéssemos mantido o contacto não teria achado nada estranho, mas acho que não o via há 5, 6 anos. É um bom bocado.
- Realmente uma pessoa pode mudar muito nesse tempo.
- Mudou nesse tempo o que era suposto, mais o que não tinha mudado até ai, percebes? Para mim parecia sempre que tinha 20, 21 anos, agora, com mais de 30, parece uma mudança muito drástica. Se não me dissesse o nome, juro que não o reconhecia.
- Acredito, a verdade é que estou a tentar imagina-lo mais velho e não consigo.
- Agora, imagina a minha cara. O que vale é que ele é sempre descontraído e fartou-se de brincar com a situação, é claro! 

23.2.10

Na maioria das vezes, sinto que acordei tarde demais para a vida.

quando quis escrever, já outros haviam encarrilhado as palavras necessárias e úteis e belas,
quando quis ensinar, faltou-me aprender tanto,
quando quis amar, não houve a quem,
quando quis ser mãe, o tempo esgotou-se.

21.2.10

David Mourão Ferreira

E por vezes as noites duram meses
E por vezes os meses oceanos
E por vezes os braços que apertamos
nunca mais são os mesmos E por vezes
encontramos de nós em poucos meses
o que a noite nos fez em muitos anos
E por vezes fingimos que lembramos
E por vezes lembramos que por vezes

ao tomarmos o gosto aos oceanos
só o sarro das noites não dos meses
lá no fundo dos copos encontramos

E por vezes sorrimos ou choramos
E por vezes por vezes ah por vezes
num segundo se envolam tantos anos.

20.2.10

Diálogo cinematográfico

-          aconteceu alguma coisa?
-          Não, mas já é tarde. vou para casa.
-          Não dormes cá? Mas já é tarde. Fica.
-          Não, vou dormir a casa. É melhor.
-          Até parece que te estou a mandar embora. É melhor ficares.
-          Obrigada. Mas prefiro ir dormir a casa. Assim, tomo banho com as minhas coisas e durmo mais descansada.
-          Podes dormir aqui. Ok, não são as tuas coisas, mas estás à vontade.
-          Não leves a mal, mas prefiro ir dormir a casa.
-          Eu preferia que ficasses, mas não vou insistir. Já vi que não queres.
-          Não é que não queira. É só que estou habitada a dormir sozinha e se ficar já sei que não vou dormir como deve ser. Prefiro assim.
-          Não costumas dormir acompanhada?
-          Não.
-          Vais sempre dormir a casa?
-          Quando a situação se proporciona.
-          Hummm. Isso quer dizer que nunca dormes em casa de um namorado?
-          Quer apenas dizer que não tenho namorado com quem dormir e que quando conheço alguém nem sempre se torna em namorado com quem dormir.
-          E isso acontece muitas vezes?
-          Acontece quando acontece.
-          Isso é uma resposta muito vaga.
-          Costumas convidar raparigas para dormir aqui?
-          Às vezes.
-          Isso também é uma resposta vaga, mas nem por isso vou tentar precisa-la. Somos adultos e agimos de acordo com a nossa consciência. Somos o que somos.
-          Certo, estava só curioso, mas também não me parece o momento certo para curiosidades. Volto a ver-te?
-          Havemos de combinar alguma coisa.
-          Ui, isso não é vago. É evasivo. Como queiras. Eu gostava de tornar a ver-te. Fica na tua mão. Liga-me e dá-me um toque quando chegares a casa, só para ficar descansado.
-          Ok, dou-te um toque.
-          Certo, dá-me um toque. Dorme bem.
-          Obrigada, também tu. … não sei se tens algum plano para o fim-de-semana, mas podíamos talvez ir jantar ou ao cinema.

19.2.10

sabedorias

Os bons acabam felizes, os maus infelizes. 
Isso é o que se chama ficção.
Oscar Wilde

18.2.10

As redes sociais

Ainda antes das redes sociais internaúticas, já todos nós pertencíamos a diferentes redes sociais: família, amigos, emprego, hobbies, interesses, etc. Hoje, na Internet, há muitas redes, para todos os gostos e com diferentes visibilidades. Mas se nos inscrevêssemos em todas, o efeito seria perverso: deixaríamos de ter relações pessoais e teríamos somente relações virtuais.
O tempo que consome consultar, actualizar, pesquisar apenas as mais comuns é já tão exigente, que um dia nos consumirá o tempo para as relações cara a cara. É verdade que as redes estão também cada vez mais interligadas, possibilitando a migração de informação. Mas valerá realmente a pena aderir a todas? Quando são ferramentas profissionais, é claro que não se podem descurar. Mas como ferramentas sociais, considero que não. Aliás, nem toda a informação lá veiculada é do meu interesse. Há demasiadas informações pessoais, inclusive dos meus amigos, que me são indiferentes e que funcionam como ruído. Mas cada um publica o que bem entender, está no seu direito.
A minha opção tem sido participar nas que considero mais relevantes, tudo o resto, como na vida, não temos tempo para tudo.

17.2.10

Era já noite quando Georg chegou à vila e poucas luzes iluminavam as ruas. Apenas com três ou quatro moedas de escasso valor no bolso, procurou um beco mais resguardado para parar a sua sege. Deu ao velo jumento um pouco do feno que ainda tinha e aproveitou para comer um pedaço do pão seco e do queijo rijo embrulhados já há dias no encardido lenço de bolso. Finda a refeição, acomodou-se como pode para passar o frio e o escuro da noite.
Com o clarear da madrugada, dirigiu-se para a entrada da vila onde permaneceu até o sol estar mais alto e assim tornar a entrar. Talvez com sorte encontrasse um biscate que lhe permitisse ganhar uns trocos para os mantimentos dos próximos dias ou até trabalhar em troca dos mesmos.
O velho jumento poderia sempre entreter-se com os cereais e folhagens comidos à socapa nos caminhos. Até o seu estômago também já está habituado ao que consegue surripiar em pomares e plantações nesses mesmos caminhos. Mas a verdade é que o seu estômago se sente mais reconfortado com um pedaço de pão com queijo ou chouriço.

16.2.10

Todos querem escrever e poucos são os que resistem a isso. Escrever muito parece ser derivante de um padecimento de angústia e de debilidade em viver; ou o modo de evitar paixões, ou sacia-las sem as sofrer.
Agustina Bessa-Luís

15.2.10

Diálogo questionável

- é impressionante como tudo muda.
- pensavas que não?
- teoricamente. A verdade é que me acomodei: a um emprego sem perspectivas, mas estável; a uma rotina sem emoção, mas confortável. Deixei de lutar, seja pelo que for. Fiquei à espera que a vida se resolvesse por si.
- a vida não se resolve, isso é trabalho nosso.
- sim, é como diz o ditado ou o provérbio: quando julgas que tens todas as respostas, vem a vida e muda todas as perguntas.
- que perguntas é que mudaram?
- creio que as normais: o que é que é realmente importante; pelo que é que estou disposta a lutar; o que estou disposta a sacrificar.
- perguntas difíceis.
- as perguntas não, mas as respostas sim, não são fáceis. Ou não deveriam ser. Deveriam ser bastante simples. O problema é exactamente esse: quando deixam de o ser, porque perdemos a perspectiva. É quando a vida dá uma guinada e nos baralha as referências e obriga a repensar tudo.

14.2.10

PIGS

O acrónimo do conjunto de países Portugal, Itália, Grécia e Espanha (Spain), que, segundo os analistas económicos, se encontram em risco de colapso, traz-me outras reminiscências.
Não será por coincidência que os quatro países são mediterrâneos, com as suas tradições gastronómicas e sociais, é impossível não recordar a tradição da matança do porco, momento em que famílias e comunidades se juntam para, normalmente num fim-de-semana, providenciar os alimentos que garantem a subsistência durante o Inverno. Esta tradição, hoje já muito em desuso, era um misto de convívio e de necessidade, em que homens e mulheres têm papéis definidos. Os homens matam, desmancham o bicho e preparam as carnes que seguem para a salgadeira, ou actualmente são congeladas. As mulheres cozinham as carnes e o sangue e preparam e fazem os enchidos, que permaneceram durante alguns meses ao fumeiro. Para muitos esta é uma tradição bárbara e primitiva, tal como o estado dos países que a praticam. Talvez…
Mas é também impossível falar de porcos, economia e política, sem fazer qualquer associação orwelliana. E tendo em conta os recentes escândalos e notícias sobre tráfico de influências, subornos e pressões mediáticas, é fácil perceber que nem todos são iguais, e quais são aqueles mais iguais do que os outros. Serão aqueles sobre os quais Sérgio Godinho cantava “eles comem tudo e não deixam nada.” 

13.2.10

Poemas Escolhidos (1990-2007), Fernando Pinto do Amaral

quem me ouve? Quem me vê?
A vida não me responde
E afinal ninguém me lê.

Este foi o meu primeiro contacto com a escrita deste autor, que é também um conceituado professor universitário e crítico literário.
A sua escrita transparece a formação clássica, de forma acessível, e aborda temas contemporâneos.

12.2.10

Açorda

Pão com pão
Azeite caseiro
Lascas de bacalhau
Alho picado miudinho
Sal
Coentros em abundância
Ovos escalfados

Satisfaz o estômago e a alma.

11.2.10

Georg iniciou a sua viagem ainda as nuvens negras de chuva eram apenas uma risca no horizonte. O frio intimava qualquer homem a ficar acoitado no interior dos seus casebres, mas para Georg essa não era uma opção.
Sentado encolhido na trave da pequena sege, segue no ritmo lento que o velho jumento impunha no muito calcorreado caminho ao longo da álea de macieiras que ligava as duas províncias. Com sorte, serviriam de protecção à chuva que avançava mais veloz que o velho e fustigado jumento.
Georg não é somente uma figura solitária a avançar lentamente no frio agreste, é um homem perseguido e sensível a qualquer sombra irregular sempre que olha sobre o ombro.

10.2.10

R. Lobato de Faria

Se eu morrer de manhã
abre a janela devagar
e olha com rigor o dia que não tenho.

Não me lamentes. Eu não me entristeço:
ter tido a noite é mais do que mereço
se nem conheço a noite de que venho.

Deixa entrar pela casa um pouco de ar
e um pedaço de céu
o único que sei.

Talvez um pássaro me estenda a asa
que não saber voar
foi sempre a minha lei.

Não busques o meu hálito no espelho.
Não chames o meu nome que não venho
e do mistério nada te direi.

Diz que não estou se alguém bater à porta.
Deixa que eu faça o meu papel de morta
pois não estar é da morte quanto sei.

8.2.10

Die hard IV

O 4º episódio da saga Die Hard é um bom exercício de entretenimento, mas apenas isso. A fórmula funciona, mas já sem qualquer surpresa. Recomenda-se para tarde de domingo chuvosa e sem qualquer vontade de puxar pela cabeça.

5.2.10

O sexo e a cidade


Durante 10 anos, a série acompanhou as (des)venturas de 4 mulheres com personalidades e perspectivas sobre o amor diferentes. Além de da reflexão sobre relações, a série era um guia de estilo e moda. O filme em nada muda essas premissas.
A diferença? Apenas a mudança de formato, que não se ressente ao aumento de tempo, parecendo um episódio especial. O enredo é sequencial à última série e as personagens coerentes.

2.2.10

sabedorias

Na vida não se deveria cometer duas vezes o mesmo erro: 
há bastante por onde escolher.
Bertrand Russel

1.2.10

Eragon



Nunca fui leitora de literatura fantástica, mas gosto muito de ver as suas adaptações cinematográficas, por considerar que, com actual tecnologia, são o veículo privilegiado a este género.
Eragon recupera o imaginário medieval e a mitologia dos dragões, misturadas em doses proporcionais com temas como coragem, liberdade, justiça, sacrifício e esperança.
Adequado a uma tarde de fim-de-semana.