Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
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21.7.07

A gestão da expectativa

O problema das expectativas é que necessitam de uma apurada gestão que as impeçam de atingir níveis desproporcionais à realidade.

Estas tendem a inflacionar, mesmo que de modo bastante gradual, mas poucas vezes estagnam ou diminuem. Há que saber gerir todo o processo da expectativa.


P.S. Também pensei escrever algumas analogias com outros termos economicistas como taxas homólogas e coisas assim. Mas não percebo nada do assunto e fico-me por aqui. Há que reconhecer as nossas limitações.

20.7.07

Como salvar uma vida

Primeiro passo, dizes que precisamos falar
Ele caminha, sentas-te, é só uma conversa
Ele sorri educadamente
Educadamente, olhas através dele
Uma espécie de janela à tua direita
Enquanto ele segue para a esquerda e tu ficas direita
Entre as linhas do medo e da culpa
E começas a questionar porque vieste

Onde é que errei, perdi um amigo
Algures na amargura
Quando deveria ter ficado contigo toda a noite,
Tivesse sabido como salvar uma vida

Deixa-o saber que sabes melhor
Porque afinal tu sabes melhor
Tenta ultrapassar a sua defesa
Sem oferecer inocência
Enumera o que está errado
As coisas que sempre lhe disseste
E reza para que te oiça

Quando começar a aumentar o tom de voz
Desce o teu e dá-lhe uma última oportunidade
Conduz até perderes a Estrada
Ou quebrares com os que seguiste
Ele fará uma de duas coisas
Admitirá tudo
Ou dirá que já não é a mesma coisa
E começarás a questionar porque vieste

How To Save A Life, The Fray


19.7.07

Lady Chatterley

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Como já foi dito anteriormente, a linha que divide o erotismo do porno, ou de outros ismos, é na maioria das vezes muito ténue e a divisão de águas depende sobretudo da sensibilidade de quem vê. Se Shortbus para mim não é porno, também não é erótico, e daí a menção de outros ismos. Já Lady Chatterley é de um erotismo incontestável.

Baseado na obra de DH Lawrence, que chocou a sociedade da época pelas suas descrições explicitas do encontros sexuais dos protagonistas, e tendo já visto outras versões, a curiosidade era sobre qual o tom desta adaptação.

O que mais gostei nesta adaptação foi o desenvolvimento muito realista da relação entre os dois protagonistas. O que começa por uma atracção ou mesmo por uma necessidade sexual vai ao longo dos vários encontros transformando-se numa profunda relação emocional em que a intimidade se vai ganhando gradualmente. E é isso que faz o erotismo do filme.

18.7.07

O poder dos Sonhos III

As melhores horas para sonhar, independentemente de quantas horas se dormiu, são para mim entre as 8 e as 10 da manhã. Invariavelmente, quando o meu sono decorre ainda nesse horário, tenho os sonhos mais vividos e reais. Porque não me fico pelo simples visionamento do sonho, mas porque tenho as sensações físicas do mesmo.

Acho sempre incrível quando ao sonhar consigo sentir calor, alguém a tocar-me, sabores. Fascina-me como é que a informação é processada de tal maneira que o cérebro consegue corporizar essas sensações.

Espanto-me sempre.

17.7.07

P: O Amante Visual II

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Já tinha assistido a esta peça nos Recreios da Amadora, mas foi interessante revê-la no Teatro da Comuna. Primeiro, porque sendo um espaço diferente, houve adaptações que são sempre curiosas de ver. Segundo, last but not least, esta reposição tinha um pequeno texto da minha autoria e foi uma emoção diferente ouvir as nossas palavras ditas, e muito bem ditas, num palco.

Talvez me entusiasme a escrever mais.

16.7.07

Roma II

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Roma foi a melhor série que já vi até ao momento. Infelizmente, esta segunda temporada não conseguiu estar sempre ao mesmo nível da primeira. Seja pelas minhas demasiadas expectativas, seja por esta fase histórica ser eventualmente menos interessante, seja por já não haver o factor surpresa. A verdade é só a partir da segunda metade da temporada é que me pareceu ter o mesmo carisma. Ainda assim, isto é o que de melhor se fez em tv e será ainda durante muito tempo.

15.7.07

Ricardo II

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Esta era uma das peças de Shakespeare que ainda não conhecia, portanto não ia com nenhuma ideia sobre a mesma, a não ser que a temática da luta pelo poder por lá rondaria. Gostei bastante da encenação que vai buscar códigos visuais futebolísticos e os adequa, conseguindo momentos e metáfora muito interessantes. Pena foi as mais de três horas de peça que a tornaram muito cansativa.

14.7.07

Talvez pelo Verão ter chegado, ou pelo calor de Verão que traz consigo noites límpidas e lânguidas, apetece-me ouvir de novo.

13.7.07

Palavras #17 a 19

Ancilose - do Gr. agkúlosis, soldadura de uma articulação. s. f., privação de movimento em qualquer articulação.

Ricto - do Lat. Rictu. s. m., trejeito, contracção da boca, dando-lhe um aspecto de riso forçado.

Lúçúfe - esteio do Ing. stay? s. m., peça de pedra, metal ou madeira com que se sustém ou ampara alguma coisa; escora; espeque; fig., sustentáculo; amparo; ajuda; protecção.

11.7.07

A Vida Secreta das Palavras

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Este é um excelente filme de sensibilidades. Sem desvendar a história, que merece ser descoberta e sentida, há que reconhecer o trabalho sensível e sóbrio de Sarah Polley e Tim Robbins e da realizador Isabel Coixet. Recomendo.

10.7.07

Ocean’s 13

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Quando supostamente já se roubou o inroubável, como é que se sustém um terceiro filme? Com a amizade que une os seus protagonistas. Sim, porque esta terceira aventura em termos de enredo e de surpresa fica muito aquém. A sensação é que todos se reuniram para se divertirem e, porque não?, fazer um filme. Depois juntam-se uns quantos gags divertidos, mas que não fazem história, umas imagens bonitas, mas longe de outras ousadias estéticas de Soderberg, e dá uma hora e meia de entretenimento. Nada mais.

9.7.07

O Cerejal – Master class

Assisti recentemente ao exercício final de uma master class sobre O Cerejal, de Tchekov, desenvolvida em parceria pela Proto e pelo TPN – Teatro Passagem de Nível, e foi bastante interessante.

Primeiro, pela visita a um texto que desconheço e que funcionou como um apelativo cartão de visita para o mesmo. Segundo, pelo conhecer um “novo” espaço de teatro muito interessante e com óptimas condições. Depois, pelos vários exercícios de desenvolvimento de personagens adoptados. Apreciei particularmente o exercício de interactividade com o público, pois este foi convidado a entrar em diálogo directo com os personagens e a efectuar-lhes perguntas. Foi também interessante observar uma mesma personagem interpretada por mais do que um actor e as cambiantes que cada um lhes conferia.

P.S. - Post com algum atraso.

8.7.07

Néctar, Lily Prior

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Este livro foi-me oferecido por duas amigas, caso contrário, o mais provável é que nunca o lesse. Não o considerei um livro extraordinário, mas foi engraçado q.b. no entanto, a sensação foi sempre a de que poderia ser melhor, que poderia ser mais aprofundado. É uma história engraçada e exótica e rocambolesca com várias possibilidades, mas a que falta sempre densidade, porque o discurso é sempre muito leve, fresco e solto. E a descrição de cenários nunca comporta uma desejada construção de ambiências que transporte o leitor para os mesmos. Os cenários, situações e descrições nunca passam de palavras. Nunca ganham vida própria.

Em poucas palavras, diria que este livro é o reverso de O Perfume. Pois tendo como ponto fulcral o cheiro, é em tudo contrário. Se num há a falta de cheiro do protagonista, neste a protagonista é abençoada com um aroma natural que com ele seduz todos os homens, o que a leva às mais variadas pretensões e peripécias. Que tornam esta história mais leve e, infelizmente, também, menos densa. O que é uma pena pois tem elementos muito interessantes: a característica peculiar da personagem, uma galeria de personagens secundários que poderiam ser melhor explorados e que acabam por parecer apenas figurantes e um enredo engraçado. É pena mesmo.

7.7.07

Shortbus

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Shortbus é um filme curioso e divertido. Tem como espinha dorsal a história de uma conselheira sentimental/terapeuta de casais que, não obstante ter prazer no sexo, não consegue atingir um orgasmo. Na demanda para o conseguir, conhece as mais variadas criaturas e personagens reais que têm como ponto de encontro o bar Shortbus, um bar digamos que, no mínimo, alternativo.

Pelo meio vão acontecendo algumas situações hilariantes que mudam (eventualmente, claro!) a nossa visão sobre sexo. Mas, certo é que depois deste filme ouvir o hino americano nunca será como dantes.

O que tem este filme de diferente então? Como já alguém disse, é uma junção de filme de autor, em que os actores improvisam e vão desenvolvendo as suas personagens, com um filme porno. Sim, porque as cenas de sexo são explícitas.

E é um filme porno? Não, não é. Mas só vendo para perceber porque não é. Ou não fosse a linha de divisão entre pornografia e erotismo, ou outro –ismo que melhor se aplique, muito ténue. O resultado é realmente um filme engraçado e curioso, que vale pela experiência e não por ser uma obra de excelência.

6.7.07

Mil anos

Um milhar de anos, um milhar mais
Um milhar de vezes um milhão de portas para a eternidade
Posso ter vivido mil vidas, por um milhar de tempos
Um voltar de subidas de escadas sem fim
Para uma torre de almas
Se necessitar de outros mil anos, outras mil guerras
As torres sobem por inúmeros andares no espaço
Posso chorar outro milhão de lágrimas, um milhão de fôlegos
Um milhão de nomes mas apenas encarar uma verdade

Um milhão de estradas, um milhão de medos
Um milhão de sóis, dez milhões de anos de incerteza
Poderia dizer um milhão de mentiras, um milhão de canções
Um milhão de acertos, um milhão de erros nesta balança do tempo
Mas se há uma única verdade, uma única luz
Um único pensamento, um único toque de graça
Então a seguir a este único ponto, esta única chama
A simples memória da tua face

Ainda te amo
Ainda te amo
Os mistérios desdobram-se mil vezes
Como galáxias na minha mente

posso ser inumerável, posso ser inocente
Posso saber muitas coisas, posso ser ignorante
Ou cavalgar com reis e conquistar muitas terras
Ou ganhar este mundo nas cartas e perder a mão
Posso ser carne para canhão, destruído mil vezes
Renascer como filho da fortuna para julgar crimes de outros
Ou vestir esta capa de peregrino, ou ser um vulgar ladrão
Mantive esta única fé, tenho apenas uma crença

ainda te amo

Ainda te desejo
Os mistérios desdobram-se mil vezes
Como galáxias na minha mente
E os mistérios continuam a revelar-se
Eternidades ainda por dizer
Até me amares

A Thousand Years, Sting

5.7.07

O Palácio dos Sonhos, I. Kadaré

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Este foi o segundo livro que li de Ismaël Kadaré, após me ter apaixonado pelo seu Abril Despedaçado. De origem albanesa, o autor tem nos dois livros como tema central as tradições autóctones e o seu peso vinculativo sobre o futuro dos personagens, tornando cada história um exemplo da fatalidade em que se torna potencialmente impossível escapar às garra dessa tradição. As personagens são apanhadas na força centrifuga de uma cultura enraizada e da qual não têm forças suficientes para sair.

Se em Abril Despedaçado Kadaré nos levava para a realidade no interior das áridas e rústicas planícies balcânicas e nos dava a conhecer a implacável lei do cânone, em O Palácio dos Sonhos a intriga é literalmente palaciana e decorre nos meandros da politica, sendo uma análise alegórica a um governo totalitário. Aqui seguimos a trajectória de um jovem pertencente a uma família com uma intrínseca ligação à história do seu pais, tendo tido sempre papéis preponderantes nos acontecimentos mais relevantes. Com o peso e expectativas do seu passado familiar, o jovem Georg é nomeado para o enigmático Palácio dos Sonhos, uma surreal instituição estatal que tem como objectivo analisar os sonhos de toda a população do país. Aí, chegam diariamente relatos dos mais variados sonhos que são posteriormente seleccionados, analisados e interpretados. Com base neste processo, são tomadas algumas das mais importantes decisões de estado.

É um livro curioso, pois gradualmente vai demonstrando como a máquina estatal pode inferir em todos os planos da vida dos seus cidadãos, inclusive nos que se diriam mais íntimos e intransmissíveis, como os sonhos. Através de um ambiente kafkiano, demonstra-se como funciona um estado totalitário que com os seus tentáculos atinge profundidades de actuação e viola e explora a mais íntima liberdade de um individuo: a sua capacidade de sonhar. Ao observar e ver-se embrenhado nesta teia, o jovem Georg vai perdendo a sua inocência e tomando consciência das limitações do individuo na sociedade.

4.7.07

Crash

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Crash surpreendeu a grande maioria da indústria cinematográfica quando em ’06 venceu o Óscar de melhor filme. Primeiro, porque apesar da qualidade do elenco, este não era composto por grandes cabeças de cartaz. E depois, porque sendo um bom filme mas longe de extraordinário, o que o tornou escolhido quando competia com: Munique, Boa Noite e Boa Sorte, Capote e O Segredo de Brokeback.

Creio que a resposta está na humanidade das personagens, nas quais é possível cada um rever-se. São personagens que não são heróis, nem vilões, são apenas pessoas a tentar fazer o melhor e errando muitas vezes, numa sociedade injusta e cheia de preconceitos. O filme veicula uma mensagem de esperança, de fé e sobretudo de aceitação e perdão. Creio que foram estas características que o fizeram o filme vencedor do ano, quando concorria contra histórias de terrorismo, poder dos media, um assassinato cruel e brutal e homossexualidade. Tendo alguns destes temas presentes, Crash vence pelas situações reais com que nos deparamos frequentemente e que nos obrigam muitas vezes a rever alguns dos nossos valores e ideias.

3.7.07

Pequeno Dicionário de Albanês

Bessa – noção fundamental no código moral da Albânia. Fé, protecção jurada, respeito da palavra.
Chartabessa - contrário da Bessa.
Doreräs - guarda avançada de um clã, executantes da condenação à morte, e os primeiros a serem sacrificados no decurso da vingança.
Flamur – flâmula, bandeira, pendão. Território de extensão reduzida que reúne várias aldeias e, antigamente, sujeito à autoridade de um chefe local.
Gjakmarija – vingança.
Gjakhup - perda de sangue, ou seja, em que não é suposto haver resgate de sangue.
Gjaks – assassino, sangue, mas sem a conotação pejorativa ligada a este termo; o gjak cumpre o seu dever em termos do kanun.
Groche - unidade monetária.
Guslas – instrumento semelhante à lahouta.
Kanun – cânone, direito consuetudinário. Regula todas as áreas da vida em sociedade, desde a agricultura, até ao casamento.
Krouchs – acompanhantes de um cortejo matrimonial que levam a noiva a casa do noivo.
Krouchkapan - chefe do cortejo matrimonial.
Lahouta - instrumento musical de cabo longo e com uma única corda.
Landes – terras.
Murane - túmulo.
Rrafsh - planalto.
Salep - bebida quente.
Sarrail - sonhos.
Tabir - palácio.
Torre – construção que possua uma chaminé da qual saia fumo. Local de protecção dos gjaks.
Ura - ponte com três arcos.

2.7.07

Daqui a pouco é Natal

Há cerca de dois, três anos esta tornou-se uma frase recorrente no meu discurso. Há quem se ria porque a considera ridícula. Há quem se exaspere porque não a quer aceitar como verdade. Mas o certo é que o tempo flúi tão rápida e subtilmente que: daqui a pouco é Natal.
Ainda muita água correrá debaixo da ponte. É certo. Mas não será em velocidade de cruzeiro. Será em velocidade warp. As férias serão um piscar de olhos. Os miúdos vão começar as aulas e entre comprar livros, mochilas e restante material, Setembro será um ver se te avias. Em Outubro há uma série de aniversários e o tempo começa finalmente a esfriar um pouco. Novembro é calmo, mas já começamos a fazer planos para os feriados de Dezembro, o Natal e a passagem de ano. E entre descanso, canseira e correrias e festas, até o Natal se esfuma rapidamente e: daqui a pouco é 2008.
Carpe diem