Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

31.5.14

Os Amantes Passageiros (2013)

Pedro Almodóvar brinda-nos com mais uma excêntrica deambulação pelos cmainhos do coração. Desta feita, o cenário é a cabine de um avião cuja avaria mecânica pode ditar o fim de todos os passageiros. É então o momento para se aceitar os afectos, as consequências das escolhas e tomar novas escolhas. É o momento em que os amantes deixam de ser passageiros e se tornam portos de abrigo.

Título Original: Los amantes pasajeros * Argumento & Realização: Pedro Almodóvar * elenco: Javier Cámara, Pepa Charro, Cecilia Roth

30.5.14

Nada entre nós tem o nome da pressa., Mª do Rosário Pedreira

O Abraço - 1917, Egon Schiele

Nada entre nós tem o nome da pressa.
Conhecemo-nos assim, devagar, o cuidado
traçou os seus próprios labirintos. Sobre a pele
é sempre a primeira vez que os gestos acontecem. Porém,

se se abrir uma porta para o verão, vemos as mesmas coisas -
o que fica para além da planície e da falésia; a ilha,
um rebanho, um barco à espera de partir, uma palavra
que nunca escreveremos. Entre nós
o tempo desenha-se assim, devagar.

Daríamos sempre pelo mais pequeno engano.


 in 'A Casa e o cheiro dos Livros'

28.5.14

Caro P.,

Lamento a tua decisão, embora creio compreende-la. Digo creio porque, não tendo merecido a tua confiança para desabafar, tenho observado o teu afastamento gradual. Pensei que não chegasse a esta situação que, embora não esperasse, não me surpreende.
Contigo é sempre tudo um acto consumado. Nunca uma dúvida que se possa acalmar, uma necessidade que se possa colmatar. Ou então, fui sempre incapaz de o ver e agir. És alguém de silêncio para contigo, embora tenhas sempre a palavra certa para os outros. Tenho pena que não consega(mos) ser para ti o tens sido para mim: um porto de abrigo.
Compreendo que muitas vezes atingemos encruzilhadas na nossa vida e temos de escolher um único caminho. Levamos demasiadas vezes caminhos paralelos que não nos levam onde queremos.
Espero sinceramente que chegues onde queres. Torço do fundo do coração por ti.
 
Berlin, Hin Chua

27.5.14

Todos temos o nosso milagrário pessoal.
Talvez este registo internaútico seja o meu.

Hecate, Patricia Ariel

25.5.14

Para Hannah, não era um sonho impossível. Se todos têm a sua carestia e todos se podem ajudar simbioticamente, então porque é que o seu ideal e por consequência ela, eram menosprezados? As pessoas afastavam-se dela como se afastava do odor a copal queimado com o intuito de afastar bichos e insectos.

B. Mourinha

24.5.14

Olho para trás e percebo que não há uma história de amor na minha vida. Há histórias de amor, mas não do amor romântico que é propósito de tantos livros, filmes e calções, ora felizes, ora curtidas de mágoa e tristeza.

Na minha vida, há apenas meia dúzia de encontros casuais, talvez dois dislumbres efémeros, algumas noites de sexo. Não há sonhos a dois, acordares de pernas entrelaçadas, surpresas que apenas os mantes partilham, silêncios de almas que entendem o momento, a certeza de um abraço seguro.

Não, a minha vida não teve esse desígnio. Nunca quis palavras inconsequentes ditas no calor do momento como palavra-chave para o sexo. Quis palavras que, quando proferidas, fossem sentidas, ponderadas e intencionadas.

23.5.14

Desperdício 4, Sebastião Belfort Cerqueira

Desperdizes ao vento muito embora
Cada vez mais embora
E um último cartucho
Cheguei a casa e joguei-o fora
Ao lixo
Por luxo.
Desperdizes ao vento muito ao vento
E eu morto
E agora
De tudo.

22.5.14

Sem Ti (2009)

Um jovem estudante universitário perde a vida num acidente automóvel, quando ia ao encontro da sua namorada recente. No processo de luto, os pais são confrontados com esta jovem cuja existência desconheciam e com o facto desta estar grávida com o seu neto. Assim, o processo de luto pelo filho mescla-se com a descoberta do jovem adulto em que este se estava a transformar, com a sua independência e com uma nova vida que desconhecem. Uma história sensível sobre perde e também sobre novos sentidos para a vida.

Título original: The Greatest * Argumento & Realização: Shana Feste * Elenco: Carey Mulligan, Aaron Taylor-Johnson, Pierce Brosnan, Susan Sarandon, Jennifer Ehle

21.5.14

A herança

A nossa contribuição para a humanidade será plena quando tivermos um filho, escrevermos um livro e plantarmos uma árvore. Se considerarmos equivalentes estas três contribuições, será que ao não cumprir alguma poderemos compensar através da duplicação (ou triplicação) de outra?
Esta herança tríplice é poética nas suas vertentes genética, cultural e ambiental. Mas também levanta dúvidas sobre a equivalência entre os elementos da equação. Pois, se para produzir um livro é necessário abater diversas árvores, então não basta plantar uma, há que plantar uma floresta. E quantos livros nos preparam para ser pais? Mas se não há livros suficientes que nos ensinem a sê-lo, valerão estes as árvores que abatemos? Não será mais justo para com este planeta simplesmente plantar uma árvore e esquecer tudo o resto?
Bernardo Baca

20.5.14

CLUBE DE LEITURA - LEITURAS NA JUVENTUDE 2014

A iniciativa “Clube de Leitura - Leituras na Juventude 2014” tem a primeira sessão marcada na Casa da Juventude da Tapada das Mercês, no dia 28 de maio, das 18h00 às 20h00.
A primeira leitura é da obra “O Leitor”, romance escrito por Bernhard Schlink, publicado pela primeira vez em 1995 e adaptado para o cinema em 2008, por Stephen Daldry.
As sessões realizam-se na última quarta-feira do mês de acordo com o calendário seguinte:
Mês, Dia: Sugestão de Leitura
Maio, 28: O Leitor, Bernhard Schlink
Junho, 25: No meu Peito não Cabem Pássaros, Nuno Camarneiro
Julho, 30: O Senhor das Moscas, William Golding
Agosto, 27: Livro sem Ninguém, Pedro Guilherme-Moreira
Setembro, 24: A Vida de Pi, Yann Martel
Outubro, 29: Manhã Submersa, Vergílio Ferreira
Novembro, 26: Incrivelmente Alto e Incrivelmente Perto, Jonathan Safran Foer
O “Clube de Leitura - Leituras na Juventude 2014” insere-se no projeto da Câmara Municipal de Sintra “Clube de Leitura” e tem como objectivos promover hábitos de leitura, conhecer novos autores e promover o diálogo e o debate de ideias sobre diferentes obras.
A iniciativa “Clube de Leitura - Leituras na Juventude 2014”, em particular, é promovida pela Divisão de Desporto e Juventude da Câmara Municipal de Sintra e pretende abordar obras com temáticas ligadas à juventude e promover o contato com novos autores.
Entrada livre

19.5.14

A semente

A escrita esteve desde sempre no meu anseio. E a outra face do meu anseio a é que chegasse a muitos, fizesse sentido e suscitasse reflexão.
Para o cumprir necessitei de me preparar. De recolher em mim histórias, vivenciais, grãos de poeira de tudo o que observo. Depois escolho os grãos e uno os de modo a reter num frasco o seu colorido e esboçar uma história que faça sentido a quem a olhe.
Para o fazer, não posse estar ocupada em esboroar os meus grãos. A recolha exige tempo, atenção, perseverança e capacidade de identificar os grãos relevantes e os acessórios. Ao produzir o nosso grão não temos a capacidade de o fazer milimetricamente. Por isso, desde cedo, que não poderia ser uma produtora de vida, teria apenas de ser recolectora de outras.
Grão a grão vou tecendo as minhas histórias e essa será a minha semente no mundo.
 

18.5.14

O receio de Georg não era ter de viver um fuga refugiando-se em sítios pouco melhores que uma lura. O seu receio era ser deixado para esquecer numa enxovia à mercê da brutalidade dos guardas, da fome e sem sequer uma pua que lhe aquecesse o corpo.

16.5.14

O Leitor, Bernhard Schlink

Cheguei a esta obra através da sua adaptação cinematográfica e na preparação deste ano do Clube de Leitura – Leituras na Juventude pareceu-me indicado inclui-la, pois nela cruzam-se o romance formação, a que hoje muitos chamam young adult literature, e a experiência dos campos de concentração e como os seus algozes e a as suas vítimas lhes sobrevivem.  
Neste sentido, não me interessa tanto a aparente impossível história de amor entre o jovem Michael Berg, de 16 anos, e a balzaquiana Hannah Schmitz. Interessa-me sim a reflexão que suscita sobre como é que podemos amar alguém criminoso. Como é que resolvemos para nós próprios o nosso afecto por alguém cujas acção e comportamento repelimos. Seja esse alguém o nosso interesse romântico ou como os nossos pais, por exemplo.
Outo motivo de reflexão é o modo como a leitura e, a informação e conhecimento que lhe são inerentes, é capaz de transformar alguém e como essa consciência pode influenciar quem não tenha essa capacidade e conhecimento. Como é que essa vergonha pode transformar os nossos actos em crime e transformar-se eventualmente no maior crime quando não se assume e procura corrigir?
Esta obra questiona a nossa capacidade e legitimidade para questionar o outro sem sabermos se este era livre nas suas acções. Ou seja, se conseguia perceber que havia outras escolhas possíveis. Bem como a ter um olhar mais compreensivo sobre as eventuais origens dos comportamentos de quem nos rodeia.

15.5.14

Fur - Um Retrato Imaginário de Diane Arbus (2006)

Diane Arbus, oriunda de uma abastada família de origem judia, desenvolveu a sua carreira fotográfica em paralelo com o seu marido na área da moda e do fotojornalismo. No entanto, ficara na história da fotografia pelos seus retratos de indivíduos considerados à margem da sociedade e em que procura mostrar um outro lado da cultura americana. O enredo do filme é, exactamente como o título indica, um relato imaginário dessa transição do glamour da moda para os retratos marginais.

Título original: Fur: An Imaginary Portrait of Diane Arbus * Realização: Steven Shainberg * Argumento: Erin Cressida Wilson, baseado no livro de Patricia Bosworth * Elenco: Nicole Kidman, Robert Downey Jr. e Ty Burrell

14.5.14

Célia cometeu um crime e cumpriu o que a sociedade considerou que havia a cumprir. A 29 de abril foi colocada em liberdade. Mas liberdade era algo que já anda lhe dizia.
Olhou para trás. Sabia que o seu lugar era ainda e sempre atrás daquelas grades e nada do que lhe dissessem a convenceria do contrário. No seu intimo não havia tempo suficiente que compensasse o seu crime. Não havia perdão possível.
Não queria ser perdoada por ninguém. A única pessoa que a poderia absolver nunca o faria. E essa pessoa não era a sua vitima, era ela mesma.
Pedro Dias


13.5.14

O Amor e Outras Coisas Impossíveis (2009)

Amelia, uma jovem advogada, apaixona-se por um colega de trabalho, mais velho, casado e pai de um rapaz, e torna-se assim uma 2nd wife. E com esta relação é confrontada com situações que colocam à prova a sua maturidade sentimental: a construção de uma relação afectiva com o enteado; o lidar com as exigências e mágoas da sua mãe; o luto inesperado pela sua filha recém nascida; a relação conturbada com o seu pai. Uma história sensível e realista de como o amor é obrigado a conviver com outras coisas impossíveis.

Título original: Love and Other Impossible Pursuits * Realização e Argumento: Don Roos, baseado no livro de Ayelet Waldman * Elenco: Natalie Portman, Scott Cohen, Lisa Kudrow, Lauren Ambrose

12.5.14

#7 – não me posso permitir

Financeiramente, tenho de definir prioridades e como tal evito gastos em áreas da minha preferência (formação, cultura, turismo), mas que não são vitais à minha sobrevivência. Ou serão? O prazer que obtenho destas, seja pela aprendizagem ou apenas de deleite, é-me vital: contribui para o meu bem estar. O que não é vital é a participação de iniciativas especificas.
Assim, tento compensar com formas de usufruir gratuitas ou a custos reduzidos. Participo em Clubes de leitura, frequento bibliotecas publicas, vejo cinema nos canais por cabo, aproveito as diversas ofertas culturais municipais. E a verdade é que tenho conhecido autores, realidades, situações que de outra forma não conheceria.
E o que mais não me permito? Talvez sonhar demasiado alto, mas continuo a sonhar. Sim, sempre.

11.5.14

Encostada à padieira, Hannah olhava o jardim orvalhado pela madrugada. Não conseguia perceber se a rutilância das plantas lhes era inerente ou se era uma reverberação da humidade matinal.
 

9.5.14

Desperdício 1, Sebastião Belfort Cerqueira

Desperdisse ao ouvido muitas coisas
Só pra provar o toque de uma orelha
Sem planos especiais para depois
E queria fazer disso como o outro
Uma linha que acaba em nós os dois
Pra rirmos e acompanhar à guitarra
Mas não tenho mais música pra dar.
Já fui visto na doca a perder tempo
A dizer coisas parvas sobre o mar
A um gajo que ninguém sabe quem era
E oh meu amor eu gosto de aqui estar
Mas nem aquilo que eu fiz foi estar à espera
Nem o que tu fizeste foi chegar
E se um dia leres isto vai-se andando.

in Forma de Vida nº4, www.formadevida.org

8.5.14

Algumas pequenas regras para se ser escritor – Zadie Smith


  1. antes de se começar a escrever, é preciso ler, ler muito, gastar mais tempo a ler do que com qualquer outra actividade
  2. devermos ler os nossos textos como se não fossem nossos, como se fôssemos outras pessoas e, de preferência, pessoas que não gostam assim muito de nós
  3. deixar o que escrevemos a marinar tempo suficiente antes de o editarmos:
  4. não confundir nunca um elogio com um feito, uma conquista: o facto de alguém ter gostado do que escrevemos não nos deve convencer de modo algum de que fizemos o melhor de que somos capazes.
  5. trabalhar num computador sem Internet!

7.5.14

O Exótico Hotel Marigold (2011)

Baseado no romance homónimo de Deborah Moggach, esta história relata a estadia de um grupo de seniores ingleses num decrépito hotel indiano. Um juiz homossexual à procura do seu primeiro e grande amor, uma viúva a fugir à falência do marido, um casal que descobre já nada ter em comum, uma antiga professora, todos procuram usufruir com a maior qualidade possível os últimos anos que lhes restam e descobrem que, afinal, a vida ainda lhes reserva umas quantas felizes reviravoltas.

Título original: The Best Exotic Marigold Hotel * Realização: John Madden * Argumento: Ol Parker, baseado no romance homónimo de Deborah Moggach * Elenco: Judi Dench, Bill Nighy, Maggie Smith, Tom Wilkinson, Penelope Wilton, Celia Imrie, Dev Patel

6.5.14

Ela parecia passar vagarosamente pela casa devolvendo cada objecto não só ao seu local de origem, mas ao seu lugar natural: uma roupa no armário, um livro na estante, a moldura com a imagem dos pais na lareira. Ele iludia-se ao julgar que o fazia em silêncio. Incompreendia que aquele era apenas um momento na conversa intima e eterna que acontece entre as mulheres e as suas tarefas.

5.5.14

Palavras #507 a 509

dilucidarv. t. Elucidar; esclarecer.
flogisto - (grego flogistós, queimado, inflamável) s. m.[Antigo] [Química] Fluído que era considerado responsável pela combustão quando libertado. = FLOGÍSTICO
toleimas. f.1. [Informal] Qualidade de atoleimado. 2. Tolice; parvoíce, necedade.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/

4.5.14

A rima é pobre e como tal também é humilde e verdadeira. O molosso é um colosso e basta a sua presença para afastar qualquer ameaça. Não são necessários quaisquer tipos de armas. Nem de fogo, nem brancas, nem látegas. A sua dimensão e amplitude dão a impressão de parietário e só nos espanta quando se movimenta.
 
Ana Gil

3.5.14

@ Vicio da Poesia
Não estava preparada para uma morte tão próxima e muito menos para uma segunda. Poder-se-ia pensar que um luto me consolaria do outro, mas a verdade é que o oblitera. São dois lutos diferentes. O segundo foi mais natural, a ordem da vida assim o ditava. Já o primeiro foi completamente inesperado e cedo de mais. Não deixou espaço para maiores sofrimentos. Absorveu todos os momentos de todos os dias durante meses e meses a ainda hoje ocupa grande parte dos meus dias.

2.5.14

[...] Há tempo para uma história
que eu não saiba e eu juro que, se não adormeceres,
serei tão leve que não hei-de pesar-te nunca na memória,
como na minha pesará para sempre a pedra do teu sono
se agora apenas me olhares de longe e adormeceres.
 
Maria do Rosário Pedreira, in A Casa e o Cheiro dos Livros