Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

29.4.08

First she broke the sentence,
now she has broken the sequence.

Virginia Woolf, A Room of One's Own

28.4.08

Câmara Clara

O programa de hoje foi dedicado ao cinema de animação e foi interessante tentar perceber o porquê de algumas “temáticas” recorrentes nesta área. Primeiro, a conotação com o público infantil, que se deve em grande parte à sageza de Walt disney em perceber o potencial do público infantil que traz consigo o público dos adultos. Segundo, a personificação de animais, pois, tendo em conta as técnicas de animação na sua fase de implementação, permitia uma construção de personagens de linhas mais verosímeis. Terceiro, a constância da música, pois mais do que animar bonecos, o cinema de animação procura dar alma ao movimento e ao ritmo.

27.4.08

Palavras #77 a 79

Cilício - do Lat. ciliciu < kilíkion; s. m., ant., pano grosseiro de pele de cabra com que se cobriam os soldados e marinheiros; túnica ou cinto largo de crina ou lã áspera, por vezes provido de puas, que se trazia sobre a pele por mortificação; fig., tormento, martírio, sacrifício voluntário. de Cilícia, n. pr.; adj., que se refere à Cilícia.

coifas - do Lat. Cofea; s. f., rede com que as mulheres envolvem o cabelo; cobertura da escorva nas peças de artilharia; membrana que protege a parte extrema das raízes; membrana que envolve a cabeça do feto, ao nascer.

anamnese - do Gr. anámnesis, lembrança; s. f., Ret., recordação do que se finge esquecido; reminiscência; recordação.

26.4.08

Num domingo chuvoso


A chuva bate no vidro num ritmo ora quase imperceptível ou com uma violência que faz estremecer a caixilharia da janela.
Sinto um arrepio e aperto-me mais ai teu corpo quente e adormecido sobre mim. Moldo-me ao teu tronco displicentemente deitado sobre a cama e pelas tuas pernas entreabertas coloco a minha que sente o calor das tuas coxas e a carícia dos teus pelos na minha pele. Aconchego-me mais.
O braço sobre o teu tronco, a minha mão sobre o teu peito. Deixo-me embalar pelo ritmo calmo do teu coração e já não há chuva lá fora que me acorde, nem frio que me arrepie, nem tremor que me assalte. Guardas-me no teu abraço e seguras-me a mão.

25.4.08

50 livros marcantes, by The Telegraph

Slaughterhouse-Five by Kurt Vonnegut (1969)
The Alexandria Quartet by Lawrence Durrell (1957-60)
A Rebours by JK Huysmans (1884)
Baby and Child Care by Dr Benjamin Spock (1946)
The Beauty Myth by Naomi Wolf (1991)
The Bell Jar by
Sylvia Plath (1963)
Catch-22 by Joseph Heller (1961)
The Catcher in the Rye by
JD Salinger (1951)
The Celestine Prophecy by James Redfield (1993)
The Dice Man by Luke Rhinehart (1971)
Chariots of the Gods: Was God An Astronaut? by Erich Von Däniken (1968)
A Confederacy of Dunces by John Kennedy Toole (1980)
Confessions by Jean-Jacques Rousseau (1782)
The Private Memoirs and Confessions of a Justified Sinner by James Hogg (1824)
Dianetics: the Modern Science of Mental Health by L Ron Hubbard (1950)
The Doors of Perception by Aldous Huxley (1954)
Dune by Frank Herbert (1965)
The Hitchhiker’s Guide to the Galaxy by Douglas Adams (1979)
The Electric Kool-Aid Acid Test by Tom Wolfe (1968)
Fear of Flying by Erica Jong (1973)
The Female Eunuch by Germaine Greer (1970)
The Fountainhead by Ayn Rand (1943)
Gödel, Escher, Bach: an Eternal Golden Braid by Douglas R Hofstadter (1979)
Gravity's Rainbow by Thomas Pynchon (1973)
The Holy Blood and the Holy Grail by Michael Baigent, Richard Leigh and Henry

I Capture the Castle by Dodie Smith (1948)
If on a Winter’s Night a Traveller by Italo Calvino (1979)
Iron John: a Book About Men by Robert Bly (1990)
Jonathan Livingston Seagull by Richard Bach and Russell Munson (1970)
The Magus by
John Fowles (1966)
Labyrinths by
Jorge Luis Borges (1962)
The Leopard by Giuseppe di Lampedusa (1958)
The Master and Margarita by Mikhail Bulgakov (1967)
No Logo by Naomi Klein (2000)
On The Road by Jack Kerouac (1957)
Fear and Loathing in Las Vegas by Hunter S Thompson (1971)
The Outsider by Colin Wilson (1956)
The Prophet by Kahlil Gibran (1923)
The Ragged Trousered Philanthropists by Robert Tressell (1914)
The Rubáiyát of Omar Khayyám tr by Edward FitzGerald (1859)
The Road to Oxiana by Robert Byron (1937)
Siddhartha by Hermann Hesse (1922)
The Sorrows of Young
Werther by Johann Wolfgang von Goethe (1774)
Story of O by Pauline Réage (1954)
The Stranger by Albert Camus (1942)
The Teachings of Don Juan: a Yaqui Way of Knowledge by Carlos Castaneda (1968)
Testament of Youth by Vera Brittain (1933)
Thus Spoke Zarathustra by Friedrich Wilhelm Nietzsche (1883-85)
To Kill a Mockingbird by Harper Lee (1960)
Zen and the Art of Motorcycle Maintenance: an Inquiry into Values by Robert M Pirsig (1974)

Legenda: Lido - Filme

24.4.08

Wimbledon


Há comédias românticas que valem pelo modo como apresentam os conflitos amorosos e como as suas personagens constroem ou questionam as suas várias relações humanas. Wimbledon não é o caso. Vale pouco enquanto objecto romântico, vale mais enquanto imagem, embora ligeira, do mundo desportivo e das motivações dos seus atletas. E vale por Paul Bettany.

23.4.08

conversas com Carlota Lagido

o espaço Eira recebeu uma exposição retrospectiva da carreira de Carlota Lagido, bailarina, coreógrafa e figurinista. No âmbito dessa retrospectiva, foram convidados alguns amigos e colegas de trabalho ao longo dos últimos 20 anos. Uma dessas amigas e colegas é Aldara Bizarro que, questionada sobre o porquê dos afastamento entre os públicos e a dança contemporânea, apontou para a possibilidade de se dever ao fechamento que a dança tem efectuado sobre si mesma, enquanto linguagem, e para o corpo do bailarino, enquanto instrumento.

21.4.08

Nestes olhos azuis

Ninguém sabe como é
Ser o homem mau
Ser o homem triste
Nestes olhos azuis

E ninguém sabe como é
Ser odiado
Ser fadado
A dizer mentiras solitárias

Mas em sonhos, não são tão vazias
Como a minha consciência parece ser
Tenho momentos, em que apenas só
O meu amor é vingança
Que nunca é livre

Ninguém sabe como é
Ter estes sentimentos
Que tenho
E culpo-te

Ninguém retrai tão ferozmente
A sua raiva
Nenhuma da minha dor e desgosto
Pode transparecer

Ninguém sabe como é
Ser espezinhado
Ser vencido
Nestes olhos azuis

E ninguém sabe como dizer
Que lamenta
E não te preocupes
Não estou a mentir

Behind Blue Eyes, Limp Bizkit

20.4.08

Dou murros na mesa porque só me consigo magoar a mim e não a outrem. Bato no que não devolve nem riposta.

Dou murros até que o mais leve toque me arrepia toda e me encolho até fechar ferreamente toda a púbis.

Dou murros e continuo porque só assim acabo com o vazio que lá sinto.

18.4.08

Workshop semântico #20

Exercício 1

Devia ter desconfiado do olhar rapace do adeleiro ao vender aquela camisola. Agora tinha o corpo coberto de prurigem.

Exercício 2

Caramba. Outra vez um mês comprido demais para o ordenado. E o problema é que a situação se está a tornar sistemática e não há qualquer perspectiva de mudança próxima. Outro mês magro com os tostões contados ao mínimo cêntimo e todas as compras ponderadas. E depois, quando menos jeito dá, há sempre despesas extras sem as quais é difícil passar.

Agora, foi a vez do casaco grosso, velho de guerra dos últimos Invernos, se rebentar literalmente pelas costuras. E Inverno sem casaco quente é um inferno gelado.

A solução é recorrer a um qualquer adeleiro de roupa e procurar algo quente o mais barato possível. Não é uma má solução. O problema é muitas vezes a qualidade e a higiene dos produtos. Desta vez foi azar: uma prurigem tremenda na zona do pescoço. Além do incómodo, obrigou ainda à limpeza do casaco semi-novo, à compra de uma pomada para a irritação e a usar camisolas de gola alta ou cachecóis durante quase duas semanas.

O pior é que nem satisfações à loja podia pedir, pois não havia como comprovar se o problema era de limpeza do casaco ou uma simples (credo!) alergia minha. Nem adiantava falar da situação ao dono rapace, mas a vontade de fazer outra compra do género ficou bastante abalada. Não será para repetir num futuro próximo. Aliás, num futuro próximo não será de repetir seja qual compra for que não se destine às necessidades, quer do consumo da casa, quer alimentares.

É a crise!

17.4.08

16.4.08

Hoje comecei o laborioso processo de analisar, catalogar, organizar e arrumar a minha vida. Preparei-me atempadamente. Comprei marcadores coloridos, pos-its para as anotações à margem, pastas e caixas simples, mas bonitas à vista. Disperso todo o material de forma acessível.

Mas tristemente ao pegar no meu objecto de trabalho percebi que se resumia a um simples epitáfio:

n. 1976 – m. ?

15.4.08

casei com uma feiticeira


Casei… era uma série da década de 60 que nos fazia rir, que mais não fosse pela simplicidade dos efeitos visuais existentes na época, quando comparados com os actuais. A série tinha uma mensagem simples (como se comporta um homem com uma mulher feiticeira), as personagens eram estereotipadas (a mulher feiticeira/dona de casa, o marido boa pessoa mas totó, a sogra do “pior”, a vizinha abelhuda e as visitas muitas vezes inesperadas) e o humor era servido por bons gags e a expressão de estapafúrdio do actor/marido.

Trazer a série ao cinema tinha os seus desafios: a sociedade mudou, e o papel social das personagens tinha de ser actualizado; a tecnologia evolui e abriam-se novas possibilidades narrativas. Mas se tudo parecia apontar, ou possibilitar, um bom resultado final, no entanto, o filme é inócuo, há falta de melhor expressão.

O filme não é uma recriação da série. Antes, acompanha as peripécias da equipa de produção de procurava fazer uma nova edição desta série. O problema é que a actriz que interpreta a feiticeira é mesmo uma feiticeira. Assim, temos uma continua passagem das personagens filmicas para as personagens televisivas, o que se torna confuso, porque não há transformações visíveis entre as diferentes personagens. Ou seja, complica-se o jogo e ao complicar perde-se a magia da sua simplicidade.

Caso fosse uma adaptação à realidade actual, possivelmente seria mais fácil conseguir gags melhores e com os quais o público se identificasse. Afinal, histórias divertidas e inusitadas entre casais, com enganos e mal-entendidos, ainda para mais quando um dos elementos tem poderes mágicos, é um terreno que dá pano para mangas. Mas a solução adoptada, faz com se veja, não uma adaptação da série, mas sim uma comédia pobre sobre os meandros da televisão. E não é a mesma coisa.

14.4.08

Para marcar o dia, executo o corte de cabelo mais radical dos últimos tempos.

Umas daquelas pequenas grandes mudanças que só as mulheres percebem.

13.4.08

Palavras #74 a 76

Adeleiro - de adelo. s. m., o que compra e vende objectos usados, especialmente roupas; ferro-velho; adelo.

Prurigem - do Lat. Prurigine. s. f., prurido; erupção cutânea acompanhada de intenso prurido.

rapace - do Lat. Rapace. adj. 2 gén., que rouba; rapinante; ladrão; ávido de lucro; s. f., Ornit., (no pl. ) ordem de aves carnívoras.

12.4.08

A efemeridade do teatro amador

O teatro amador é uma das práticas amadoras com menor expressão em Portugal. Muito longe dos níveis de participação visíveis em países anglo-saxónicos, como Inglaterra. No entanto, tem um impacto fundamental da dinamização cultural de um local, seja mais restrito como uma rua ou mais amplo, como um concelho ou distrito.

Sendo uma actividade voluntária, a sua prática depende muito das disponibilidades de tempo dos seus intervenientes. Devido aos vários ciclos de vida a que qualquer pessoa está sujeita, o teatro amador está sujeito a participações por vezes efémeras ou de curta e média duração. Isto significa que os grupos de teatro amador, nascidos em circunstâncias e pela mão de pessoas específicas, tenham também períodos curtos de vida. A continuidade de alguns grupos passa eventualmente pela profissionalização ou pelo associativismo. Contudo, é relevante perceber o que motiva ou quem motiva um grupo a manter uma longevidade. Bem como, perceber como mantêm uma estrutura associativa e as suas estratégias de captação de públicos.

11.4.08

De tudo o que quis, fugi

De tudo a que aspirei, fiquei

De tudo o que não fiz, arrependo

De tanto que quis, não vivi

10.4.08

O Gosto - Uma Reflexão

Só gosto de ti

Porquê, não sei

Mas estou bem assim

Heróis do Mar

Duas das noções mais próximas à de gosto são a de prazer e de irracionalidade. Tem-se uma reacção agradável, seja de carácter afectivo ou sensorial, por algo ou alguém, mas raras vezes se consegue perceber e expressar porquê. E também não se procura saber, receando que a racionalização do gosto anule o prazer simples e imediato da fruição.

Sendo o elemento gosto tão relevante na apreciação de bens culturais é fácil perceber como se pode entrar em contradição, uma vez que a análise de um bem pressupõe um juízo crítico justificado e o gosto, à partida, o exclui. Poder-se-á simultaneamente gostar e efectuar um juízo crítico válido? Essa é talvez o grande dilema que norteia qualquer criação cultural, o jogar num campo que impreterivelmente provoca reacções irracionais, mas que obriga a uma racionalização, quando o objectivo é uma difusão colectiva de um bem.

A definição de um gosto pessoal é um juízo que usualmente se exprime através dos adjectivos bom e mau, que sem a respectiva justificação, são termos tão relativos que pouco ou nada dizem sobre o bem cultural, uma vez que o bom para uma pessoa pode ser mau para outra. Bom e mau são assim conceitos extremamente dúbios. O conceito de bom, na sua acepção clássica, faz parte de uma trindade que tem por vértices as noções de beleza e verdade. Daí que a aplicação do adjectivo bom nos direccione imediatamente para a noção estética de belo e se o belo é verdadeiro, logo ascende a uma posição quase dogmática de verdade inquestionável. Daí a pouco comum necessidade de se justificar o gosto. Gosta-se porque é bom, logo belo, logo verdadeiro.

Esta trindade aplica-se não só ao gosto pessoal como ao gosto colectivo, patente no usual senso-comum. Tudo o que foge ao senso comum, ou seja, ao conjunto de juízos ou opiniões comummente aceites em determinado espaço, é facilmente rotulado de mau, logo rejeitado. É exactamente através do esforço de racionalização, sem perder de vista a capacidade de fruição, que se pode legitimar o esforço de criação artística, que na sua busca de novas perspectivas e fronteiras colide por vezes com noções tão quotidianas como bom, beleza e verdade.

9.4.08

A especificidade e identidade histórica portuguesa

Tentar perceber quais os traços específicos da identidade histórica portuguesa são os propósitos de Joaquim de Carvalho e Joaquim Barradas de Carvalho no textos “Os Descobrimentos e a acção colonizadora dos portugueses como factor do progresso cientifico e da civilização”* e “A la recherche de la spécificité de la Renaíssance Portugaise”**, respectivamente.

Como factor característico, Joaquim Barradas de Carvalho aponta o domínio que as actividades marítimas tiveram na vida nacional devido à localização geográfica do país que sempre permitiu manter um contacto marítimo quer com o Mediterrâneo, quer com os países do Norte da Europa. É esta prática que vai impulsionar os Descobrimentos e marcar a postura portuguesa de colonização, “une expansion du commerçant, une expansion qui serait beaucoup plus pacifique et commerciale”, por oposição à espanhola, “une expansion para la conquêtê” (p. 783). Tendo a expansão nacional sido mais pacifica e marcadamente comercial, visando sobretudo a troca de bens e o estabelecimento de acordos com os povos autóctones, esta possibilitou um contacto directo com gentes e costumes locais e é esta apreensão do outro que vai possibilitar uma mudança de mentalidades que mudará para sempre o modo como o homem percepciona o mundo, como constata Joaquim de Carvalho: “… o domínio de regiões e de povos remotos, deixaram sempre sulcos, mais ou menos profundos, na concepção do mundo e no acervo do saber, quer negativamente, …, quer positivamente…” (p.341).

Ambos consideram os Descobrimentos a época mais marcante da história nacional e mundial, e enquanto Joaquim Barradas de Carvalho procura fazer um levantamento interno das suas influências, Joaquim de Carvalho analisa as influências para o resto do mundo deste “… momento único, impossível de se repetir…” (p.342), em que se descobriu uma nova dimensão do mundo e com ela uma nova dimensão de pensamento cientifico e de igualdade humana.

Com base neste conceito de momento único e irrepetível de mudança, é possível estabelecer uma analogia com o momento actual, em que difusão das tecnologias informáticas estão a operar um novo sulco na concepção do mundo pelo Homem. Assim, a internet é o mais recente espaço de cultura que é imperioso compreender e, consequentemente, estabelecer métodos e estratégias de dinamização cultural. Este é o desafio actual.


* CARVALHO, Joaquim. Obra Completa. História da cultura. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1982, vol. III, p. 341-353.

** CARVALHO, Joaquim Barradas. A La Recherche da la specifité de la Renaissance Portugaise. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1983, p. 779-794.

7.4.08

Canção do Zéfiro

Dás-me a tua mão para escrever
Apenas um pedaço de perna para morder
Mas o suficiente para fazer voar o meu papagaio
Queres acender uma luz
Olha que está em exposição – para ti
Vem mas não hoje

Conheces o teu oráculo
Tira isso sem nenhum propulsor
Fá-lo está com a Stella
Que maneira de finalmente cheirá-la
Puxa mas não muito forte – para ti
Tira um bocado e passa-o

Voa para longe no meu zéfiro
Sinto-o mais que nunca
E neste clima perfeito
Encontraremos um lugar juntos

Voa no meu vento

Rebelde e libertador
Encontra maneira de ser skater
Embrulha para levita-la
Super amigo aviador
Olha que está em exposição – para ti
Vem mas não hoje

na água onde centro as minhas emoções
Todos me podem ultrapassar
Voa no meu zéfiro
Encontraremos um lugar juntos

vamos viver para sempre

Zephyr Song, Red Hot Chili Peppers

6.4.08

Workshop semântico #19

Exercício 1

O histrião torna venal até o mais reles tugúrio.

Exercício 2

Toda a vida tinha sido passada naquele tugúrio, a que nem os animais se chegavam. Nem como animal era reconhecido, quanto mais como homem.

Não era nenhum histrião, desses que via agir dissimuladamente e sem punição, apenas porque se apresentavam algo cuidados e com sorrisos aparentemente inocentes.

Não havia nada no seu aspecto que aparentasse inocência. Não com uma profunda cicatriz que lhe atravessa o rosto e impõe medo a quem o olha. E ninguém olha duas vezes. Todos julgam que um mero olhar é venal às suas crenças de pureza.

4.4.08

CNB

Como qualquer ser humano, ao possuir um corpo tenho noções de linguagem corporal, mesmo quando se fala de dança. No entanto, cada estilo de dança tem um código próprio de movimento e intenções por vezes imperceptíveis a quem não domina esse código. A dança contemporânea não foge à regra.

A Companhia Nacional de Bailado apresenta três composições de diferentes coreógrafos e com acompanhamentos musicais distintos. Mas sendo uma apresentação conjunta, coloca-se a questão de encontrar um fio condutor ou de união dos três momentos. Daí, que este seja um espectáculo no feminino. O primeiro momento reportará à adolescência em que os movimentos parecem denotar uma procura de identificação quer através da experiência individual quer pela imitação dos outros. Com ritmos que lembram o flamengo e o sapateado e o desenho de luz, em claro escuro ajuda a construir uma linguagem cinematográfica, relembram os antigos filmes slapstick. O segundo momento seria o do primeiro amor, na sua delicadeza e entrega. Já o último momento seria a representação da mulher nas suas vertentes de sensualidade, paixão e desejo, numa celebração da vida.

Sendo este um espectáculo pensado para itinerância é legitimo fazer um exercício mental de adaptação a salas com características técnicas diferentes da Sala Camões. Aliás, seria interessante adaptar o espectáculo a, por exemplo, um anfiteatro, que implicaria uma adaptação de luzes. Ou até em apresentações ao ar livre no período estival.

3.4.08

Desmundo


Inicialmente, a colonização do Brasil foi feita exclusivamente no masculino. Chegadas as primeiras naus e construídas as primeiras aldeias e chácaras, os colonos necessitaram de mulheres para constituir família e assim assegurar a continuidade da exploração do território. Era prática frequente solicitar aos responsáveis do reino o envio de noivas. Estas eram usualmente órfãs ao cuidado dos vários conventos existentes no país, que assim embarcavam numa viagem sem regresso rumo ao desconhecido. Uma dessas jovens é Oribela. Obrigada a casar com um homem mais velho que conhece no momento do casamento, vai tentar por tudo libertar-se desse mundo com regras próprias.

Este Desmundo é uma cuidada reconstituição de um período do qual usualmente não há uma perspectiva feminina. É também um exemplo muito interessante de reconstituição linguística.

2.4.08

Gostaria que a chuva levasse as minhas lágrimas, lavasse a minha alma, obliterasse a minha dor.

Mas as lágrimas misturam-se na chuva dançando pelo meu corpo, perpetuando-se, anulando-se. Hidratando o meu corpo. Alimentando-o do que quero expulsar.

Absorvo as minhas lágrimas, reintegro-as na dor que queria expulsa.

Não há depuração possível.