Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

30.5.11

Assertividade

Não sei se fruto do nosso passado ditatorial e respectiva repressão, mas a assertividade não é uma competência promovida, nem bem aceite em certas faixas da nossa sociedade. A assertividade é muitas vezes confundida com agressividade, insensibilidade ou superficialidade. Mas esta reacção talvez não passe de inveja de quem simplesmente não tem coragem de dizer o que pensa ou, sobretudo, de assumir as consequência de ter um pensamento próprio.

29.5.11

Há uma quietude de domingo

No canto dos pássaros
Sob o cinza azul do céu
Que se funde com fresco
anuncia a proximidade da noite
e abafa o rumor de carros

há uma quietude de domingo
no círculo dos teus braços

Picasso

27.5.11

Conflito

Por natureza, fujo ao conflito. Sou inatamente pacifica, não gosto de problemas com ninguém: são uma chatice.

Por esse motivo, tenho renunciado a certas decisões relevantes na minha vida. Como não fui capaz de impor-me e assumir a liderança da minha vida, hoje, encontro-me numa situação constrangedora com repercussões sérias para o meu futuro. E o meu ânimo para lutar encontra-se somente em modo de sobrevivência.

26.5.11

As formigas


Entre as teclas do computador

Traçam palavras desconhecidas dos dicionários

Laboriosamente encriptam os segredos do mundo

24.5.11

Aprendizagem

Inequivocamente, a disponibilidade para aprender faz parte de mim. Mas aprender é a parte fácil. O desafio é concretizar a aprendizagem.

Materializar os conhecimentos teóricos em situações práticas é, paralelamente, o meu calcanhar de Aquiles. Onde e como utilizar o que aprendo nem sempre me saí fácil.

Se falarmos em termos de competências (conhecimento, capacidade, atitude) falta-me alguma capacidade, mas sobretudo a minha falha está a nível da atitude. Racionalmente, consigo perceber várias formas de como chegar onde quero, utilizando e validando os meus conhecimentos. Mas quando chega o momento de os pôr em prática, algo no meu interior “congela” e dou por mim a boicotar os meus próprios projectos, ambições e aspirações.

23.5.11

tu e Eu Meu Amor


Tu e eu meu amor meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua a mão que segura
outra mão que lhe é dada
nua a suave ternura
na face apaixonada
nua a estrela mais pura
nos olhos da amada
nua a ânsia insegura
de uma boca beijada.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nu o riso e o prazer
como é nua a sentida
lágrima de não ver
na face dolorida
nu o corpo do ser
na hora prometida
meu amor que ao nascer
nus viemos à vida.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Nua nua a verdade
tão forte no criar
adulta humanidade
nu o querer e o lutar
dia a dia pelo que há-de
os homens libertar
amor que a eternidade
é ser livre e amar.

Tu e eu meu amor
meu amor eu e tu
que o amor meu amor
é o nu contra o nu.

Manuel da Fonseca, in "Poemas para Adriano"

22.5.11

Ridículo

The Opening Gambit, Jack Vettriano
- já reparaste no ridículo?
- De quê?
- Tu, com dois cigarros, uma na boca e outro na mão.
- O que é que tem? Talvez goste de fumar e saber que o prazer não termina com esse cigarro. Há sempre outro à espera de ser fumado. Ansiosamente à espera. Talvez até a promessa do próximo seja mais prazeirosa do que o actual.
- Parvoíces.
- Talvez. O que é que te dá mais prazer? Saber que te posso excitar ou excitar-te realmente.
- A ansiedade é excitante, mas se não for satisfeita é frustrante. Prefiro o real.
- Qual é a tua realidade.
- Sentir os teus lábios nos meus seios.

20.5.11

Rakushisha, Adriana Lisboa

O que liga o poeta japonês Matsuo Basho a uma menina de sete anos no rio de Janeiro, 300 anos depois? A teia invisível feita pelos caminhos cruzados de quatro personagens, que se encontram e desencontram, algures entre o Brasil e o Japão, duas culturas aparentemente tão diferentes.

Guiada, tal como os personagens, pelos versos e diários de Matsuo Basho, Adriana Lisboa tem a mestria de se apropriar - e reflectir na sua obra - de elementos fulcrais da cultura nipónica – o fluir do tempo, a contemplação, o cerimonial – e, através da sua geografia, explorar as fronteiras interiores e externas dos personagens, numa transformação gradual e indelével, mas não acabada.

Este livro teve na sua origem a atribuição de uma bolsa de criação artística da Fundação Japão. Ao longo das suas páginas, acompanhamos a viagem de duas personagens brasileiras – uma delas de origem nipónica, mas sem qualquer ligação quer à cultura , quer à língua – que seguem os passos do poeta. Nessa viagem, ambos acabam por descobrir mais de si e das suas expectativas e ambições futuras, bem como aceitar e fazer as pazes com o passado.

19.5.11

If you do not tell the truth about yourself,
you cannot tell it about other people.

Virginia Woolf

17.5.11



... muitas vezes escrevemos o que os nossos fantasmas querem que escrevamos.
Cristina Norton

16.5.11

Filhos e enteados

O hotel mamã é uma expressão que se tem vulgarizado e designa os jovens que se vão mantendo ad eternum em casa dos pais, usufruindo assim das vantagens e desresponsabilidades de se ter uma mãe e/ou um pai que cuidem do agregado familiar. Este filme explora a situação ao ridículo, acompanhando as desventuras de um casal que se apaixone e ao juntar-se leva como “herança”, cada um, um filho parasita. Inevitavelmente, a confusão instala-se.
O filme arranca-nos algumas gargalhadas, mas as personagens são tão infantilizadas, que por vezes aniquilam outras gargalhadas. Adequado a uma tarde chuvosa, não traz nada de novo à nossa experiência cinematográfica.

11.5.11

Pode-se escrever

Pode-se escrever sem ortografia
Pode-se escrever sem sintaxe
Pode-se escrever sem português
Pode-se escrever numa língua sem se saber essa língua
Pode-se escrever sem saber escrever
Pode-se pegar na caneta sem haver escrita
Pode-se escrever na escrita sem haver caneta
Pode-se pegar na caneta sem haver caneta
Pode-se escrever sem caneta
Pode-se sem caneta escrever caneta
Pode-se sem escrever escrever plume
Pode-se escrever sem escrever
Pode-se escrever sem sabermos nada
Pode-se escrever nada sem sabermos
Pode-se escrever sabermos sem nada
Pode-se escrever nada
Pode-se escrever com nada
Pode-se escrever sem nada

Pode-se não escrever

Pedro Oom," A Intervenção Surrealista"

10.5.11

É estranho como só tomamos consciência das nossas esperanças mais profundas quando já é tarde demais para fazer alguma coisa.
Richard Zimler, A Sétima Porta

9.5.11

Amor de cinema

Contigo quis fazer todos os filmes
Mesmo sem 9 semanas e meia

Escrevi no teu corpo
As passagens de cor
Do meu livro de cabeceira

Descestes as montanhas da lua
até à nascente da minha jóia
Salteaste o meu tesouro
Pessoal e intransmissível

O teu beijo paraíso
Água e chocolate
Combustão sedução

8.5.11

A promoção

Kenton Nelson
- então, elucide-me sobre as razões pelas quais considera que merece esta promoção.
- Considero que reúno várias qualidades que me tornam a pessoas adequada a exercer estas funções. Primeiro, possuo formação académica na área. Depois, e mais importante, tenho experiência na área de produção que adquiri ao longo dos últimos três anos em que trabalho nesta empresa. Este período permitiu-me igualmente conhecer a fundo a empresa e os seus vários sectores. Por fim, a minha anterior experiência profissional preparou-me para as funções a desempenhar.
- Muito bem. O seu currículo actual adequa-se realmente ao que pretendemos. Mas sabe que neste momento é arriscado apostar em nova pessoas. Quem ficar com o cargo terá de comprovar que é realmente uma mais valia e que está disposta a sacrifícios em prol da empresa. Diga-me Susana, qual é a sua mais valia e qual a sua capacidade de sacrifício?
- Sr. Meireles, não penso em termos de sacrifício, mas sim de investimento e trabalho. Não duvide a minha experiência é uma mais valia.
- Sim Susana, relembre-me qual era a sua anterior ocupação’
- Call girl sr. Meireles, Call girl.

7.5.11

Museu Ferreira de Castro

Apesar de ter vivido quase uma vida inteira numa rua que homenageia o autor, desconhecia a sua vida e obra. Visitar o museu homónimo foi uma oportunidade para conhecer o percurso de vida do autor e também para perceber a extensão da sua obra, o que me motivou para a sua leitura.

Embora de pequena dimensão, o museu – na vila, junto ao Hotel Lawrence - possui o espólio do autor, devidamente apresentado e catalogado. É também palco para diversas actividades culturais, como apresentações e uma tertúlia literária na primeira sexta-feira de cada mês.

6.5.11

Uma ideia para o futuro

by Nikki Krecicki
Se os velhos estão sós. Se os novos querem sair de casa dos pais, mas não têm como. Que tal, colocar os jovens a colmatar a solidão da velhice, ganhando em troca alojamento, quem sabe gratuito, numa espécie de voluntariado, ou a preços simbólicos, e não no regime de aluguer de quartos.
Poderá não ser muito diferente de viver com os pais, mas para uma população cada vez mais idosa poderá ser a diferença entre a vida e a morte. Para a população jovem poderá ser uma lição de vida, pois já se sabe que nem sempre as lições dos pais são devidamente apreendidas.

Utopias talvez, mas acredito que não.

5.5.11

Helena Pedro Nunes

Está patente até dia 10 de Maio, na Galeria Municipal de Sintra (Edifício do Turismo), uma exposição de pintura de Helena Pedro Nunes intitulada “Diamantes”.
A artista é possuidora de qualidade técnica e a sua temática versa sobre a aparência de pessoas e objectos. Assim, dedica-se à retratística e à reprodução de objectos associados ao glamour, como jóias e vestidos. O seu objectivo é fixar a visão que se tem destes objectos e pessoas.


4.5.11

Um regresso aos anos 80

À excepção dos últimos episódios, há muito que perdi o hábito de ver novelas regularmente. Faço o meu zapping, vejo uma ou outra cena, um ou outro personagem, e pouco mais.
Recentemente, estreou na TVI a novela Anjo Meu, cuja trama decorre numa vila alentejana na década de 80. Além do sotaque alentejano e de reviver algumas realidades sociais da época, o que me agrada na novela é a sua banda sonora. Contém muitos êxitos da época com novas sonoridades, mais em consonância com os actuais padrões, que se adequam perfeitamente aos núcleos e personagens que caracterizam. Gosto particularmente das versões de Telepatia e Rosa Branca. Na área dos originais, O Beijinho de Herman José dá sempre direito a risos e o Vá Lá Senhora não poderia ter uma sonoridade mais apropriada.

3.5.11

WPC 2011

Até 30 de Junho, está patente no Museu de Arte Moderna de Sintra a presente edição do WPC. À semelhança de anos anteriores, esta é uma oportunidade para conhecer trabalhos que suscitam riso, nos fazem pensar e que, também, são autênticos murros no estômago. O poder da síntese conceptual, da crueza e da frontalidade com que certas mensagens são veiculadas fazem desta iniciativa uma lição de democracia para todos.

2.5.11

Um Homem sem Pátria, Kurt Vonnegut

Este foi o meu primeiro contacto com a escrita deste autor, mais conhecido por Slaughterhouse 5, e a cuja obra irei definitivamente voltar.

Este volume agrupa diversas crónicas repletas de ironia, pragmatismo, acutilância e crítica sobre vários temas, como literatura, humor, política, religião, tecnologia e ambiente, mas com um grande pano de fundo: o profundo descontentamento com a gerência (acéfala) dos EUA por George W. Bush.

Gostei – ou identifiquei-me – de alguns dos seus pensamentos e foi impossível não fazer alguns paralelismos com a actual situação política nacional.

1.5.11

Não tão de repente, soube que a vida que me espera não é a vida que esperava e para a qual teci todos os planos: trabalho, família, conquistas, velhice e últimas disposições legais.


A única certeza é que a vida se cumprirá de alguma outra forma, contrária a tudo o resto. A vida resultará numa outra experiência, numa outra vivência, num outro aprendizado.

E tudo o que me sai da boca e do pensamento é OUTRA: pronome indefinido e indefinível em qualquer futuro possível.