Não considero imperativo conhecer a vida do autor para conhecer e apreciar a sua obra. Sendo a obra um objecto de reflexão do autor, é também um reflexo mais ou menos explicito da sua vida. Conhecer a vida do autor é ter uma perspectiva pessoal da sua obra, mas mal da obra se esta não excede a via do autor.
Se a biografia do autor se pretende um relato fiel, a diaristica pode e deve ser encarada como uma mais uma vertente da sua escrita. Uma reflexão, quiçá, mais intima do seu ser. Mas que não deixa de ser um discurso escolhido, em que a selecção de temas, abordagens e tons são opções mais próximas da narrativa ficcional.
Uma das minhas últimas opções de leitura tem recaído sobre a diaristica de dois dos meus autores de eleição: Migual Torga e Vergílio Ferreira. Neste Conta Corrente, ano de 1969, predominam a reflexão literária, bem como observações sobre acontecimentos pessoais, dentro da esfera familiar e de amizades. Das várias reflexões literárias saliento a temática da edição, revisão e tradução, bem como da construção do romance. Das reflexões pessoais, saliento a temática do tempo e da morte.
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