Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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16.6.07

Albânia

Tenho andado ultimamente por viagem literária no espaço geográfico da Albânia e dos Balcãs através da obra de Ismaïl Kadaré. E foi com alguma curiosidade que descobri que é a este espaço que se reporta a antiga Ilíria, também ela cenário de outras histórias como o Rei Lear de Shakespeare e que este é nada mais que Leandro, O Rei da Ilíria de Alice Vieira.

Ao consultar a enciclopédia, no intuito de perceber um pouco da sua história, compreendi que esta é bastante complexa, o que se deve em muito à sua situação geográfica que faz da Península Balcânica um lugar estratégico onde se unem povos oriundos da Europa interior, Mediterrâneo e Ásia.

Toda a Península tem sido palco constante de conflitos e vários interesses políticos (esteve na origem da I Guerra Mundial, dos conflitos do Kosovo e muitos outros) que tornam a sua história bastante sangrenta. E esse factor é bem visível na obra de Kadaré. Especialmente em Abril Despedaçado, mas também em O Palácio dos Sonhos em que está patente a figura de um estado controlador e omnipresente, mesmo em áreas aparentemente tão pessoais e intransmissíveis como os sonhos.

Este é realmente um espaço geográfico muito complexo e complexas são as relações dos povos que o habitam. Torna-se agora para mim mais compreensível a grande instabilidade política que ainda hoje aí se constata. E também não é de admirar que um autor como Shakespeare, cuja obra tem como fio condutor o desejo de ascensão ao poder e as suas estratégias de legitimação, tenha também escolhido este espaço para servir de cenário ao seu Lear. Daqui advêm também a constatação de que o poder, e o desejo de o atingir, é transversal ao ser humano.

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