Só pela agenda, sei as cidades onde durmo. Tudo o resto são amalgamas de muitos escritórios cinzentos, os mesmos trabalhos, os mesmos objectivos a atingir em escassos dias, os incontáveis sorrisos falsos de quem nos que ver pelas costas.
Já nem percebo o que me leva, dia após dia, a embarcar num novo voo, a ligar o portátil, a ler relatórios, a ver os mesmos quartos de hotel, vezes sem fim.
Só percebo que o regresso não é o regresso. É só o pouso num outro quarto, onde os lençóis são lavados semanalmente e os motivos florais estão já esmaecidos. Os silêncios são pautados por interrogações interrogativas a que respondo com os habituais e esperados, mas já não sentidos, chavões. Invariavelmente, atingimos o nível em que 20 frases compõem o diálogo estipulado para os dois, três dias em que retorno a um mesmo quarto que reconheço, mas já não conheço. Onde dorme alguém que me é estranho.
O regresso é sempre a esses quartos que se perpetua de cidade em cidade, sem que perceba – ou queira perceber – a paisagem nocturna em redor.
Nuno Prata |
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