Há uns tempos, na hora de almoço, um brilho no passeio chamou-me a atenção. Uma lâmina de barbear com aspecto de nova estava assim, caída no chão, completamente descontextualizada. Pensando no perigo que poderia ser se fosse apanhada por uma criança ou outras pessoas de índole mais duvidosa, baixei-me e apanhei-a com cuidado. Sem um caixote à vista, guardei-a no porta-moedas, entre os cartões plásticos menos utilizados. Acabei por me esquecer e ali andou uns dias. Até que, ao procurar um recibo, senti um surpreendente ardor. Passada a surpresa, quedei-me ensimesmada pelo brilho de um quase imperceptível traço de sangue. Vi-o demoradamente engrossar e aumentar de volume.
Não o corte banal, mas a estranha conjunção entre o vermelho escuro e o brilho cinza da lâmina prenderam-me e fui incapaz de deita-la fora. Guardei-a na pequena bolsa do necessaire. Ali permaneceu mais uns dias, mas aquela imagem não me saia da cabeça. De tal modo, que uma destas noites a fui buscar e fiquei a observa-la longamente. Incapaz de esquecer a imagens de dias antes, puxei a saia até descobrir as coxas. Passei o fio da lâmina vagarosamente enquanto um traço de vermelho escuro se desenhava contrastante sobre a palidez da pele.
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Kenton Nelson |
...muito bom...
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