Quanto de nós conhecemos alguém que o tenha cometido? Creio que é algo que consideramos sempre longe, que acontece somente no leque de relações dos outros. Mas é uma situação mais próxima do que julgamos.
À primeira vista, recordo apenas a história da minha avó materna, morta ainda a minha mãe não teria dois anos e que a privou de mãe em troca de um fantasma. Depois o Hugo, marido de uma ex-colega de trabalho. Mas, aos poucos, vieram também as memórias do Teca, primo em não sei bem quantos graus. De um rapaz da escola que sobreviveu a uma queda de vários andares, e sobre o qual os rumores se dividiam: tentativa de suicídio ou desiquilibrio ao despedir-se da namorada, a Patrícia. Depois, há dois vizinhos que a memória de infância já não garante que tenham morrido por suicídio. Ah, sim, e o Alexandre, que pôs término à vida em frente a um comboio.
É impressionante concluir o quão próximo está de nós e como desenvolvemos estratégias defensivas de afastamento e esquecimento. Racionalizamos o facto de várias formas: impomos uma distância e escondemos a memória até que pareça que não é nada concnosco. São apenas noticias nos jornais: actos inconscientes, desesperados, vingativos, punitivos e outros mais.
Que motivos levam alguém a pôr fim à vida?
O desespero, a impossibilidade de perceber um futuro, a ausência de um presente satisfatório, (re)confortante, por vezes até amado. Se algumas razões consigo perceber, porque já todos nos sentidos em algumas situações limite sem conseguir perspectivar para além do momento, outras haverá que me são talvez até impossíveis de perceber. Seja por motivos culturais, educacionais ou de experiência de vida, o facto é que a morte e as suas circunstâncias são usualmente um assunto tabu, uma forma de evitar pensar no nosso fim certo e de perspectivar projectos de vida, com balanços e expectativas quiçá aquém do almejado.
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