Uma das possíveis constatações é que os protagonistas de Zimler são sobretudo jovens que crescem cedo demais em consequências das suas circunstâncias, maioritariamente históricas. Aliás, neste contexto, dos pontos de vista histórico e cultural, Teresa é a única verdadeira adolescente. Tiago, Sana e Sophie pertencem a uma outra categoria de jovens, em termos etários, mas em cujos contextos não há ainda a construção social de adolescência.
Teresa vive a nossa época. A sua circunstância permite uma maior identificação geracional e referências culturais populares. Mas do ponto de vista de uma construção e desenvolvimento emocionais, esta é talvez a personagem, das atrás mencionadas, que menos nos emociona, como é apanágio de Zimler. Talvez o seu contexto histórico menos trágico (não há holocausto, não há inquisição, não há terrorismo) lhe retire essa profundidade emocional. Talvez aos nossos olhos, e apesar do tema do suicídio, seja apenas mais uma adolescente, entre duas culturas, a perder a inocência, mas sem deixar de o ser.
Comparativamente, é possível constatar igualmente que a obra de Zimler é auto-referencial, o que é visível com a menção quase inicial a Os Anagramas de Varsóvia, outro livro ao autor, a que ainda não cheguei, mas lá chegarei. Depois, esta Teresa recordou-me em vários aspectos a Sophie de A Sétima Porta, sobretudo na sua relação com o irmão mais novo, que aqui me pareceu ter uma segunda e mais feliz oportunidade. Outros dos temas que também aqui podemos detetar são: uma certa inversão nos papéis parentais, a homossexualidade, o confronto de culturas e a diferença como elemento identitário. A grande ausência deste livro é um elemento da família Zarco.
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