Não um daqueles pequenos seixos cor de burro quando foge que se pontapeiam se sequer se dar conta. Não. Isso não. Sou um grande maciço que se vê ao longe em formas imprecisas, algumas belas, outras quase grotescas. Sou composta de cores e formas e saliências e reentrâncias que variam desde o perigoso ao conforto de um abrigo.
Tenho cambiantes tantas que poderei ser tão constante e pesada como uma sedimentação ou leve e imprevista como uma erupção. Porosa e firme, compacta e frágil.
Reúno em mim as cores da emoção do mundo. O pálido do que virá a ser, os vermelhos do calor, os castanhos da criação, os irisados esparsos da felicidade saltitante e o negro da dor.
Sou uma pedra que vive e respira e pulsa e permanece no mundo na sua sábia serenidade. Tudo passa por mim: o vento que foge, as nuvens que buscam, as águas que lavam a cara e a alma. Às vezes ganho, às vezes perco.
Permaneço um lugar de criaturas que não encontram noutro lugar um abrigo. É difícil suportar o quente magnificado do sol que acolho. É difícil suportar o frio das minhas entranhas escuras. Habitam-me seres inóspitos que conhecem apenas a dureza e a implacabilidade da natureza. Assim fico para o mundo: dura e inóspita.
Apenas.
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