Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

30.9.14

Todos gostaríamos de poder reescrever a nossa vida, bastando para isso voltar a certos momentos chave e tomar outras decisões. Dizer sim ou não, ou até tomar as mesmas decisões, evitando, no entanto, algumas das suas consequências.
Hoje, se o pudesse fazer, e sem saber que outros impactos traria à minha vida, voltaria aos meus 18 anos e diria não a uma decisão familiar. Diria não ao sonho de outrem, o que na altura não tive voz, nem coragem para fazer. Será que 20 anos depois terei?
Será ilusão, com certeza, mas por vezes imagino que esse único não seria suficiente para que a minha vida hoje fosse diferente. É claro que um não ou outras atitudes a posteriori +poderiam ter mitigado algumas consequência. Mas dizer não na génese dá-nos a ilusão de tudo sanar, não é?

Quem seria, como seria se não fosse o que sou hoje? Seria quem me imaginava? Sinto-me tão longe dessa pessoa. Nem sequer me sinto como uma sombra do que me imaginava e de como me imaginava. Talvez o que teria de mudar não fossem os nãos, mas os sins.

29.9.14

É difícil explicar, e também aceitar, mas há momentos em que sinto que o mundo, vá o universo, está a comunicar comigo. Embora não consiga perceber o quê ao certo. São sonhos, sms nos momentos certos, frases na aleatoriedade da internet, necessidades inadiáveis de telefonar a alguém, de desabafar numa folha de papel, de fazer uma tiragem de cartas. Não sei se esses pequenos momentos de algum tipo de, sei lá, chamemos-lhe clarividência, tem algum impacto real no desenrolar da minha vida. Mas nesse instante, respondem a uma necessidade intrínseca de alguma estabilidade emocional.

Dividida entre o cepticismo e a crença, pu, à velha portuguesa, confiando desconfiando, creio que vou trilhando um caminho de maior abertura a alguns sinais, que ainda não consigo interpretar. Creio até que tenho receio em avançar num aprofundamento de conhecimentos, mas sobretudo em deixar-me levar por esse espectro de possibilidade. O desconhecido nem sempre é isento de receios. 


28.9.14

A madrugada ainda mantinha o pequeno trilho lúbrico e a soagem orvalhada, humedecendo o balandrau à sua passagem. 

Oliviero Masi

27.9.14

Decisões: timing e execução

Há momentos em que tomamos uma decisão, no entanto, esse não parece ser o momento ideal ou exacto para a sua execução. Sabendo que nunca há momentos ideais, temos a perfeita noção que, pelo contrário, são desadequados.
Este ano, tomei uma decisão profissional. Aliás, essa decisão foi tomada há cerca de 3 anos, mas, na altura, não estava pronta para dar o passo. Entretanto, essa intenção foi crescendo em mim, até que este ano explodiu ou implodiu, depende da perspectiva. Então, fiz um plano A, um plano B (sempre necessário) e até um plano C, que seriam sequenciais.
Fiz o que pude para cumprir o plano A, mas a decisão final não depende de mim. Então, teci o plano B, sobre o qual aguardo uma decisão que também não depende, de momento, de mim. Contava já ter dado andamento ao plano C, mas fui aconselhada a aguardar pela resolução do plano B. ou seja, de 3 planos, todos estão em stand by e a espera está a dar cabo de mim. Tento convencer-me que este hiato é normal. No entanto, a ansiedade está a levar a melhor sobre mim, porque não consigo perceber o que ou se posso fazer algo mais. Melhor, desatino sentir que não posso fazer mais nada. Desatino sentir que está tudo nas mãos de outrem. Preciso sentir que algo está nas minhas mãos.

Então, o que está nas minhas mãos: continuar a fazer o trabalho que me atribuíram e para o qual me definiram objectivos até ao final do ano; procurar ser, sempre que possível, uma colega útil, prestável e disponível; tentar ser sempre parte da solução. Ou seja, continuar a ser profissional e talvez pensar que realmente este não seja o momento certo para os novos passos que tanto anseio e almejo. Talvez eles surjam quando menos esperar. Espero!


26.9.14

this must be the place, Gabriel Resende Santos

Alvaro Sanchez Montanes
decadência era
voltar pra casa
     antes do irmão
dar boa noite pros pais
      engolir uma bisnaga de pão
e dizer nunca jamais 
              alguém me tente
          papai do céu
   não erro novamente.

    decadência é
  voltar pra casa
aqui nesta rua em que
o irmão não mora
   o mundo ora
ou já dormiu
           sem fome 
       ir deitar 
quebrar a lua
        de rivotril.

24.9.14

Como Perder Amigos e Alienar Outros (2008)

Um jovem escritor britânico é contratado por uma revista americana de renome. Ao procurar ascender ao glamour associado à imagem da revista, aproveita (e forja) todas as oportunidades para ver o seu nome reconhecido e tornar-se igualmente uma celebridade mediática. Pelo meio vai afastar aqueles que realmente gostam de si, inclusive o seu interesse romântico, protagonizado por Dunst.

Título original: How to Lose Friends & Alienate People * Realização:
Robert B. Weide * Argumento: Peter Straughan, baseado na obra homónima de Toby Young * Elenco: Simon Pegg, Kirsten Dunst, Megan Fox, Gillian Anderson, Jeff Bridges

23.9.14

22.9.14

Palavras #534 a 536

tíbio - adj. 1. Morno, tépido. 2. [Figurado] Frouxo, remisso, descuidado. 3. Falto de fervor, falto de zelo. 4. Frio, falto de entusiasmo.
açafata - (alteração de açafate) s. f. [Antigo] Dama do toucador da rainha
imanente - (latim immanens, -entis, particípio presente de immaneo, -ere, ficar, parar em) adj. 2 gén. 1. Inseparável do sujeito. = INERENTE 2. Que tem motivação ou efeito interior. 3. Que não desaparece ou não se vai. = CONSTANTE, PERDURÁVEL, PERMANENTE 4. [Filologia] Que é relativo ao concreto, ao material ou ao domínio da experiência possível, por oposição a transcendente.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo .

21.9.14

Restavam ainda muitos quilómetros a percorrer com o corpo atirado em várias direcções pelo andar desengonçado da velha carriola. A cada paragem sentia o corpo mais pesado do que se lembrava quando fazia o mesmo percurso a pé, embora a rapidez não fosse a mesma. Um pequeno sacrifício necessário para chegar a tempo de observar Sarah consagra-se a Adonai.
Não partilhava a sua devoção, mas amava-a o suficiente para respeitar a sua vocação. Ela fizera-lhe chegar o pedido a solicitar a sua presença em dia tão emotivo. Queria-o como testemunha do seu grande amor. Ele fora tão somente o seu pequeno amor de juventude. Agora adultos, outro amor falou mais alto.

Não sabia se a podia ofertar, não queria quebrar regras ou deixa-la mal. Mas o seu coração insistiu em que apenas faria sentido retornar-lhe o lenço que um dia Sarah lhe presenteara. De modo que segurava o melhor possível a matula onde guardava o lenço em que Sarah singelamente bordara “meu amor.”

20.9.14

#15 – a vida continua

“Enquanto há vida, há esperança!” é um antigo adágio popular que constata que apesar de todos os contratempos, dores e perdas, a vida continua. Mesmo quando tudo desaba e parece não haver sentido para continuar.
O fim é apenas um recomeço. Nada é como antes: circunstâncias, pessoas, expectativas de futuro. Mas a vida tem esta sapiência: não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Mesmo quando não conseguimos vislumbrar a luz ao fundo do túnel, só temos duas opções: continuar ou parar. E será que parar é sequer opção? Talvez sejam necessárias pausas, para descansar e recuperar fôlego e energias. Mas parar nunca.

Parar é desistir. E o que nos resta se o fizermos? Nada, absolutamente nada. Parece mais fácil desistir? Sim, parece. Mas a desistência tira-nos tudo o que vem depois: a aceitação doce e serena dos pequenos prazeres e conquistas que realmente dão sentido à vida. 

18.9.14

#14 – Resolver um problema de cada vez

Há períodos na nossa vida em que tudo nos parecer cair em cima. De tal modo que não conseguimos estabelecer estratégias para resolver situações. Cada novo problema parece interferir ou pôr em causa soluções prévias, criando a sensação de multiplica-los.
Já todos experienciamos momentos assim. Em que parece não haver qualquer tipo de solução, pelo menos a curto prazo. E, ainda que não o pareça, a única estratégia possível é mesmo resolver um problema de cada vez.
Se nos falha a flexibilidade para estabelecer prioridades rapidamente, não há nada como recorrer aos amigos para, com a sua perspectiva exterior, nos ajudar a relativizar situações e a delinear estratégias. Idealmente, estas devem permitir encaixar solicitações inesperadas, gerir energias, prever descansos e executar tarefas. Sendo que nenhuma solução é perfeita, é certo que perderemos algo pelo caminho. Mas é preferível sermos nós a escolher o que abdicamos, do que essa abdicação nos ser imposta. Porque, convenhamos, não somos inteiramente livres, mas escolhemos as nossas prisões.

Um dia de cada vez.

17.9.14

Até que Me Encontrou (2007)

Este filme marca a estreia da actriz Helen Hunt na realização de uma longa metragem. Não sendo grande apreciadora desta atriz, a verdade é que tem conseguido diversos papeis interessantes e apresenta neste filme um trabalho coeso, com interpretações eficazes, mas longe de se destacarem.
Hunt interpreta uma mulher que ao ser deixada pelo marido, e enquanto procura cumprir o desejo de ser mãe, se envolve com o pai de um aluno e descobre a sua mãe biológica. Tudo isto resulta num caldeirão emocional, cuja maior reflexão é sobre a maternidade e como esta se pode consubstanciar.

Título original: Then She Found Me * Realização:
Helen Hunt * Argumento: Alice Arlen, Victor Levin * Elenco: Helen Hunt, Colin Firth, Bette Midler, Matthew Broderick, Ben Shenkman, Salman Rushdie

16.9.14

Os Homens que odeiam as Mulheres, Stieg Larsson

Finalmente, incursei na trilogia que, no final da década, conquistou popularidade e o meio literário e posso confirmar o apelo da obra de Stieg Larson. Personagens atípicas e profundas, fortes temas socais e individuais, múltiplas histórias e camadas envolvem o leitor, prendendo-o até à ultima página.
Neste primeiro volume, conhecemos Mikael Blomkvist, conceituado jornalista económico de investigação, que, enredado num processo de difamação, é desafiado pelo patriarca da poderosa família Vanger a investigar o desaparecimento da sua sobrinha Harriet, 40 anos antes. Durante a investigação, conhece Lisbeth Salander, uma jovem hacker, à guarda do estado, com uma insuspeita capacidade de investigação e cujo passado de adivinha assombroso. Juntos vão desenterrar o passado da família Vanger e descobrir finalmente, o que realmente aconteceu com Harriet. Pelo meio são abordados temas como expectativas e estereótipos  sociais, abuso de poder, o papel da mulher na sociedade e o seu abuso, o mundo das finanças e distribuição de riqueza, o papel do jornalismo, relações pessoais e familiares.

Agora, venham os restantes volumes. 

15.9.14

Palavras #531 a 533

lúbrico - (latim lubricus, -a, -um, escorregadio, liso, incerto, perigoso, enganador, lascivo) adj. 1. Que não impede o movimento de deslizar ou escorregar. = ESCORREGADIO 2. Que tende para a luxúria, para a sensualidade. = LASCIVO, SENSUAL 3. Que tem perturbações intestinais, geralmente diarreia (ex.: ventre lúbrico). = SOLTO
balandrau - s. m. 1. Opa. 2. Capote ou casaco largo e comprido. 3. Antigo vestuário, com capuz e mangas largas.
soagem – s. f. [Botânica] Planta boraginácea.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo