A leitura da obra de Primo Levi é uma leitura de vida, pois, se não nos transforma enquanto leitores, transforma-nos enquanto pessoas. Foi assim que me senti após a leitura de Se isto é um homem, o seu registo cru da experiência como prisioneiro num campo de concentração , no qual relata o modo como o homem pode ser rebaixado ao estatuto de animal e como a sua única qualidade poderá ser o seu instinto de sobrevivência. É um registo cuja não ficcionalidade nos toca e nos permite relativizar ou valorizar a nossa vida e experiências passadas.
Em O Sistema Periódico o registo flutua igualmente entre a memorialística,
mas mescla-se ora com o conto, ora com capacidade de observação poética da
vida. E toda esta experiência é filtrada pela perspectiva de uma escolha de
vida: a química. Aclamado já como o melhor livro de ciências escrito, é perceptível
para os entendidos e curioso e poético para os leigos. E para estes trespassa
um registo sentido, vivido, sem palavras supérfluas e uma perspectiva diferente
da realidade.
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