Ao
aproximar-se de qualquer aldeia ou lugarejo, as gentes gritavam a anunciar:
- Almogávar!
Almogávar!
A sua tez
mais escura fazia-o passar por árabe e nunca se preocupou em desfazer equívocos.
Era mais rentável para o negócio julgarem-lhe esta a proveniência do que
saberem a sua ascendência romani. Com um árabe pode-se garrular e discutir
preços, mas com um cigano todas as cautelas são poucas para não se ser roubado.
Não levava a
mal este receio. Em tantos anos de estrada já vira tanta coisa que pouco ou nada
o surpreendia. Sobretudo quem roubava quem.
Fazia,
sobretudo, o circuito interior do sul, paralelo ao mar, mas não à sua beira. ,
onde qualquer mercador chegava facilmente. Os seus compradores estavam nos
lugares mais pequenos e de fora dos caminhos mais calcorreados, onde qualquer
metro de tecido colorido e panela brilhante faziam as delicias das mulheres e o
tabaco fresco e a lâmina virgem de uma navalha a dos homens. Pequenos lugarejos
sem epónimo de protecção em que o tempo parava e os homens não envelheciam. Sucediam-se
em gerações que em gestos iguais amanham
a terra, criam meia dúzia de animais e alimentam outras tantas bocas e, por
fim, se quedam no cemitério da aldeia.
Por isso,
tanto lhe fazia se lhe chamavam Almogávar. Sorria porque se sabia errante
apenas de poiso.
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Beach Grove, Gustav Klimt |
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