Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
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12.12.13

Começo a entrar em curva descendente e não consigo perceber como sair desta situação. Estou desempregada há 8 meses e o pouco de dinheiro que tinha guardado esvaiu-se nas necessidades do quotidiano. Por mais contas que faça, o dinheiro é reduzido e as contas e dívidas acumulam-se. Há dias em que não sei como conseguirei chegar ao fim do dia e cumprir os meus compromissos.

Um dos primeiros choques foi ter de deixar a minha casa. Não era grande, era um pequeno t2 que satisfazia as minhas necessidades. Mas a renda e as despesas correntes iriam por em causa as minhas economias. Vi-me obrigada a cessar o contrato e a procurar um quarto acessível e com o mínimo de condições. Não me posso queixar, estou em casa de um casal idoso que me trata bem e até respeita a minha privacidade, o mesmo já não posso dizer da família, que está à espera que a qualquer momento roube seja o que for que consideram ser de valor em casa dos velhotes. Mas habituada a dispor do meu espaço e dos meus horários a meu belo prazer, tive de transformar os meus hábitos e hoje sou mais votada à reclusão.

Deixei de gastos que hoje chamo fúteis porque não me alimentam o corpo, mas alimentavam-me a alma. Nunca mais fui ao teatro, nem ao cinema, concertos, visitas. Tudo ficou para outro plano e outro futuro. Restam-me alguns passeios, a biblioteca pública e os filmes de fim-de-semana à tarde na televisão. Acabaram-se os jantares amigáveis, acabaram-se inclusive algumas amizades, que talvez não o fossem. Talvez fossem apenas exibições de gostos comuns ou de gostos sociáveis, ou outro adjectivo que agora me falhe. Acabou-se as roupas novas mensais, restam-me os saldos e promoções e só ocasionalmente.

Acabou-se tanta coisa, que o meu sorriso, embora sincero, agora, é apenas triste.

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