Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
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28.12.10

Diálogo de partida

- vais ficar com ele?
- não. Não vou.
- queres que tentemos novamente?
- não, também não. Vou ficar só. Apenas isso. Isto não é uma competição entre vocês.
- eu sei, aliás se fosse eu recusava. Amei, e, apesar de tudo, ainda de amo, mas recuso-me a competir.
- já disse: não há competição.
Arrumei algumas roupas num saco de viagem e alguns produtos de higiene intima.
-para ti podem ser só palavras, mas, acredita, lamento. Não merecias.
- então, então, porquê? Porque é que te meteste na cama com ele?
- porquê… olha porque as coisas não estavam bem entre nós, porque já nem tentávamos nada para que melhorasse, porque me soube bem o galanteio, porque me fez sentir de novo o desejo e o prazer de ser desejada, porque o proibido tem uma adrenalina altamente aliciante, porque pensei que fosse encontrar o que não sabia ao certo que faltava, porque achei que não tinha nada a perder, por tantas coisas como vês.
- valeu a pena?
- não sei responder nem vou tentar descobri. O que está feito, feito está e, é verdade, mudou tudo. Agora, vou apenas seguir em frente com esta mudança.
- de entre todos esses porquês, algum foi amor?
- amor, como nós tivemos? Não. Gosto dele, como se gosta, sei lá, de um irmão mais novo. Bem irmão, não, talvez um primo. Percebes?
- continuo a perguntar-me porquê, o que é que viste nele?
- vi apenas alguém diferente de nós, sem a nossa história, sem aquilo que conhecemos um do outro. Uma página em branco sem passado. O novo. Só que percebi que se o que faltava não se devia só a ti e também não o encontrei com ele, então é em mim que o necessito descobrir e não vai ser com nenhum dos dois que o vou fazer. Vou fazê-lo sozinha, vou encontrar o que me falta, demore dias ou meses, mas vou fazê-lo.

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