Há muito que deixei de sentir. Automatizei os gestos, as rotinas e até os afectos. Até os afectos.
Dizemo-nos que são fases. Culpamos o stress, as responsabilidades, as exigências. Tentamos desculpar-nos, mas no fundo sabemos que desistimos. Deixamos de tentar.
Em nós pesam demais as iniciativas de carinho. Muito mais do que o prazer dado e recebido. Paramos. Esperamos a compreensão alheia, racional para a aceitação. Mas não tão racional que encontre a razão profunda do afastamento.
Afastamo-nos. Afastei-me. Parte de mim quer reencontrar-nos. Parte paralisa-me o olhar. O gesto. O retorno.
Sinto o teu olhar. O gesto que afastas porque me desvio aparentemente sem perceber a sua trajectória. Trocamos algumas palavras. Poucas. As suficientes para manter a aparência civilizada que se requer em todos os adultos.
Nem os silêncios já são partilhados. São apenas isolados e acostumados.
Julgo que não mais encontraremos as palavras que nos levarão um ao outro. Ficaremos talvez aqui num espaço comum. Até que nem o adeus se diga e um dia. Não estará neste espaço.
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