Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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17.9.08

Diálogo amoroso

  • vais falar com ele?
  • Não, não vejo porquê.
  • Mas somos amigos.
  • Eu sei. Mas a partir do momento em que ele acabou a nossa relação, não tenho de lhe dizer nada sobre a minha vida.
  • Mais tarde ou mais cedo vai ter de saber.
  • Sim, eu sei. Mas não vou tomar a iniciativa de o fazer.
  • Devia faze-lo.
  • Talvez. Não te preocupes. Não estamos a enganar ninguém. Nunca aconteceu nada entre nós enquanto estive com ele.
  • Creio que para ti é mais simples. Para mim não. Posso ter sido um sacana em muitas coisas, principalmente com as mulheres, mas ele é meu amigo desde infância. Sempre contámos estas coisas um ao outro.
  • Ele sabe que andas com alguém?
  • Sim, pensa que é uma mulher casada.
  • Casada, heim...
  • Sim, como nunca contei pormenores sobre ti, pensa que deves ser casada.
  • Pormenores como?
  • Não desses, está descansada. É a tua descrição, a tua maneira de ser, é o facto de nunca te ter levado a nenhuma saída.
  • Um destes dias saímos.
  • Saímos?
  • Sim. Saímos com o grupo todo. Ficam todos a saber ao mesmo tempo e não há mais perguntas, nem boatos para ninguém.
  • Achas que é boa ideia?
  • Não sei se será a melhor solução, mas não temos nada a esconder.
  • Não tens medo dele não gostar?Não, não tenho. Ainda tenho alguma mágoa pelo que me fez, porque ninguém gosta de ser traído. Mas acabou tudo. Já processei o acontecido e já fiz o meu luto. Agora estou contigo. És tu que me interessa, é contigo que tenho de falar. Não é com ele, nem com mais ninguém.
  • Achas mesmo que simplesmente devíamos parecer juntos?
  • Talvez seja o melhor.
  • Se calhar. Está preparada para isso?
  • Acho que sim. Sim, estou. Embora, confesso que gosto de andarmos às escondidas.
  • Sim, tem as suas vantagens. Só nós dois.
  • Só nós dois.
  • Columbina e Arlequim, Almada Negreiros

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