Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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27.3.14

Ficar e testemunhar o seu despertar. Perceber a sua surpresa e ver as suas barreiras erguerem-se no olhar e na expressão corporal. Explicar a presença na sua cama. Como não consegui evitar a curiosidade de a ver como nunca se mostra. Como não achava que alguma vez a veria: apenas uma mulher, serena no descanso seguro.

Partir e esperar no sofá. Explicar o que faço na sua casa num sábado à tarde, intrometendo-me no seu descanso sem que alguma urgência profissional o justifique.

Simplesmente partir e esperar que por algum milagre de esquecimento a sua companheira de casa omita que me deixou entrar enquanto ia aos seus compromissos.

Qualquer opção parece inverosímil e a única explicação existente também me parece difícil de aceitar: o desejo imperativo que me fez para o carro, aproveitar a porta aberta do prédio, o modo como a sua companheira de casa abriu a porta enquanto saia e sem qualquer dúvida sobre as suas intenções impronunciadas o deixou entrar.

Os atónitos segundos de espera na sala. Mas. Se o impulso o tinha trazido até aqui, onde mais o poderia levar? Pela configuração do apartamento era fácil perceber os quartos e uma porta encostada denunciava o seu.

Ficar ou partir.

Aqui chegado, ficava.

Primeiro o casaco, depois os sapatos. A cama quente. O seu corpo adormecido a acusar o movimento do seu corpo. A acusar, mas não a recusar. E a serenidade do momento a puxar para o onírico lugar onde tantas vezes nas ultimas semanas adivinhava e sentia o seu corpo.

Quente. O seu sonho era um agasalho enroscado. Assim despertou, para surpresa perceber que o sonho não acabara.

Adam Martinak
 

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