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Mas, como não tenho o mesmo engenho do autor, comecemos pelo início: a história decorrer em Gafeira, uma localidade do interior litoral, cuja particularidade é a sua Lagoa, pertença da família Palma Bravo há gerações. O seu último representante – Tomás (nome de todos os primogénitos) – é engenheiro e casado – como mandam os preceitos sociais – com Maria das Mercês (à mercê dos ditames do senhor seu esposo). Os dois têm um casamento maninho – sem filhos -, não se sabendo por causa de quem. Entre os dois há também Domingos, um empregado mulato e maneta que Tomás acolhe e defende e Mercês procura educar. A relação com os patrões é de tal modo indefinida que quando este surge morto na cama deles, uns o julgam amante dela e outros – sem nunca serem explícitos – dele.
É com a notícia desta morte inesperada, e com o aparente sequente suicídio de Mercês e desaparecimento de Tomás, que o narrador – um escritor que anualmente visita a aldeia na época de caça – se depara num dos anos. E é através de diversas conversas com os habitantes locais – cada um com uma versão diferente – que vai reconstituindo a noite fatídica, sem nunca chegar a uma conclusão.
Situado na década de ‘960, esta é uma alegoria sobre o final inevitável de uma era e de um poder (a ditadura salazarista e os seus valores) e o poder de regeneração de uma nação (Lagoa), visto e relatado pelos olhos de um narrador participante que tem de reconstruir a verdade possível sobre o passado e contribuir democraticamente para o futuro de todos (os 98).
A ler!
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