Há muito que
tinha a intenção de incursar na obra desta renomada autora cuja estranha
produção literária fascina leitores e teóricos e agora percebo porquê: primeiro
estranha-se e depois entranha-se. A primeira reacção foi de desconforto devido
ao quebrar e questionar das regras de construção narrativa, de enredo e de
personagens (atípicas). Mas também se percebe imediatamente que é exactamente esse
quebrar e questionar que fascina tóricos e leitores.
A Hora da
Estrela é protagonizada por Macabea - uma mulher servil, subserviente e
inapetente para a vida - ou pelo seu narrador – quiçá alter ego da autora, que
questiona constantemente o seu papel e o do escritor: “...só escrevo o que quero,
não sou um profissional...”; “...escrevo ... por motivo grave de força maio...”;
“... não, não é fácil escrever. É duro como quebrar rochas. Mas voam faíscas e
lascas como aços espelhados.” E sendo este trabalho por vezes tão dilacerante,
só é possível explica-lo exemplificando o acto da escrita através da
(re)criação de um personagem real, porque é real na mente do escrito/narrador: “...só
eu, seu autor, a amo.”
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