Todos nós que conduzimos deveríamos saber a responsabilidade que é ter um carro nas mãos. Deveríamos – e até podemos ter -, mas nunca pensamos que o infortúnio nos pode acontecer a qualquer momento. A morte de Angélico Vieira só veio ilustrar esta inconsciência colectiva. Porque, aparentemente, todos os envolvidos no desafortunado acidente têm uma quota parte de responsabilidade: a não utilização de cinto de seguranças, que é uma opção individual; o levar ao máximo a performance de um automóvel que se desconhece; o “empréstimo” de um automóvel, sem acautelar eventuais seguros, talvez porque o condutor é alguém mediático e poderá ser um cartão de visita para futuros negócios; etc.
Todos os pormenores do acidente estão a ser esmiuçados pelos media, que procuram rentabilizar ao máximo a imagem pública do cantor/ator, e muitos outros pormenores e futuras repercussões legais serão igualmente exploradas, impiedosas com o luto familiares dos falecidos.
Há alguns anos, Francisco Adam, outro actor da geração Morangos, também perdia a vida num acidente de viação. Mas será a geração (de espectadores) Morangos capaz de aprender com a morte pública ou serão essas mortes, que provocaram tantas manifestações públicas de pesar, após a euforia, encaradas apenas como a mortes dos seus personagens que conhecem, e sem o real impacto das mortes reais e próximas.
A morte de alguém é sempre pesada. Espero apenas que esta despolete em todos nós uma oportunidade de reflexão, sobretudo para uma geração que nem sempre tem na televisão os melhores modelos ou exemplos.
30.6.11
29.6.11
Peso Pesado: reflexões
Com a primeira temporada nacional a atingir a última fase e a segunda a entrar em fase de produção, apraz-me tecer algumas considerações sobre este reality show, um dos poucos que sigo. A edição nacional tem, até ao momento, misturado numa só temporada elementos e adaptações que o original americano tem desenvolvido ao longo das suas 7 ou 8 edições (creio).
No original biggest loser brinca com a conotação entre perdedor e falhado. O vencedor do concurso tanto pode ser o maior perdedor (de peso) como poderia ser o antigo maior falhado e que por tal motivo atingiria o peso condizente com os critérios de admissão. A edição americana, emitida na SIC Mulher, teve a tradução de O Peso Certo, brincando com a fonética do popular concurso O Preço Certo, apresentado na RTP1 por Fernando Mendes, e o objectivo final de que os concorrentes atinjam o peso certo para as suas constituições físicas. Já a edição nacional optou pelo título Peso Pesado, talvez para se descolar de eventuais confusões com o Preço Certo, mas este também conjuga a dualidade de interpretação: a alusão do peso de entrada no concurso e à capacidade de esforço e resistência exigidos ao vencedor.
Para quem seguia o formato americano, podemos ver concentrados na edição nacional a uma profusão de regras de jogo em constante alteração e que sintetizam as regras destas várias edições. Esta edição começou com os participantes a concorrerem em pares, depois em equipa e agora individualmente. É de salientar que as alterações de regras não são de conhecimento prévio dos concorrentes, vão sendo alteradas ao longo jogo.
Tal como na vida, julgamos que as regras de jogo são umas, mas estas são inesperadamente alteradas, obrigando-nos a alterar todas as estratégias ou planos futuros e testando a nossa capacidade de resistência a adaptação. O(s) jogo(s) e a vida testam continuamente a sobrevivência do mais fortes, seja física, espiritual ou intelectualmente. E, independentemente da circunstância, uma das mensagens a salientar é que senão nos esfalfarmos, não vamos a lado nenhum. Pena é que, também na vida, isso não implique que consiguemos sair do mesmo sítio.
Tendo sempre evitado reality show, levei igualmente o meu tempo a perceber o fascínio deste formato televisivo: o comportamento humano. Realmente, tem sido educativo analisar comportamentos, perceber os desgastes emocionais, as motivações e as estratégias de grupo e individuais, os valores e as eventuais éticas. E é impossível não transpor igualmente para as nossas vidas algumas das situações apresentadas e vividas.
No original biggest loser brinca com a conotação entre perdedor e falhado. O vencedor do concurso tanto pode ser o maior perdedor (de peso) como poderia ser o antigo maior falhado e que por tal motivo atingiria o peso condizente com os critérios de admissão. A edição americana, emitida na SIC Mulher, teve a tradução de O Peso Certo, brincando com a fonética do popular concurso O Preço Certo, apresentado na RTP1 por Fernando Mendes, e o objectivo final de que os concorrentes atinjam o peso certo para as suas constituições físicas. Já a edição nacional optou pelo título Peso Pesado, talvez para se descolar de eventuais confusões com o Preço Certo, mas este também conjuga a dualidade de interpretação: a alusão do peso de entrada no concurso e à capacidade de esforço e resistência exigidos ao vencedor.
Para quem seguia o formato americano, podemos ver concentrados na edição nacional a uma profusão de regras de jogo em constante alteração e que sintetizam as regras destas várias edições. Esta edição começou com os participantes a concorrerem em pares, depois em equipa e agora individualmente. É de salientar que as alterações de regras não são de conhecimento prévio dos concorrentes, vão sendo alteradas ao longo jogo.
Tal como na vida, julgamos que as regras de jogo são umas, mas estas são inesperadamente alteradas, obrigando-nos a alterar todas as estratégias ou planos futuros e testando a nossa capacidade de resistência a adaptação. O(s) jogo(s) e a vida testam continuamente a sobrevivência do mais fortes, seja física, espiritual ou intelectualmente. E, independentemente da circunstância, uma das mensagens a salientar é que senão nos esfalfarmos, não vamos a lado nenhum. Pena é que, também na vida, isso não implique que consiguemos sair do mesmo sítio.
Tendo sempre evitado reality show, levei igualmente o meu tempo a perceber o fascínio deste formato televisivo: o comportamento humano. Realmente, tem sido educativo analisar comportamentos, perceber os desgastes emocionais, as motivações e as estratégias de grupo e individuais, os valores e as eventuais éticas. E é impossível não transpor igualmente para as nossas vidas algumas das situações apresentadas e vividas.
28.6.11
Francisco José Viegas
Não dominio o quadro de competências dos cargos políticos para poder aferir concretamente o que se pode perder com a extinção do Ministério da Cultura. Mas compreendo que se perca autonomia orgânica e poder de decisão.
No entanto, considero promissora a nomeação de Francisco José Viegas, porque há muito que sigo a sua carreira de escritor, editor (LER) e jornalista. Aliás, o nome deste blog foi buscar inspiração ao seu A Poeira que cai. Reconheço-lhe uma opinião válida e fundamentada, mesmo quando não partilhada (blog A Origem das Espécies). À sua prestação futura a sua ligação ao mundo lusófono ser á com certeza uma mais valia no estabelecimento de novas parcerias e de novos projectos de promoção cultural e de divulgação da língua portuguesa.
27.6.11
Sobre a revisão de textos*
Uma das actividades profissionais que mais gostei de fazer e a que, apesar de ter perdido o apuramento, gostaria de voltar, foi a revisão de textos. É verdade que o faço informalmente sempre que solicitam a minha ajuda para rever projectos e outros documentos de trabalho, mas não é o cerne das minhas funções.
Há vários tipos de revisão:
• Normativa, efectuada, regra geral, em ficheiro digital;
• Linguística. Realizada já em provas, procura verificar situações estruturais, como notas de rodapé, referências, translineação, etc., bem como proceder a algumas adaptações de linguagem;
• E literária, em que se procura aferir o rigor dos conteúdos. É neste tipo de revisão que decorre o verdadeiro processo de edição de texto e eventual reescrita do mesmo.
Um texto – literário ou não – pode incorrer em qualquer uma destas tipologias de revisão. Dai que seja válido falar em duas abordagens:
• Restritiva, que implica apenas correcções de ordem linguísticas e/ou tipográfica;
• E extensiva, que engloba o melhoramento linguístico e a correcção de conteúdos.
Ao rever textos e trabalhos, procuro não me restringir apenas aos aspectos formais e linguísticos. Se o objectivo é sempre melhorar o trabalho, e embora nem sempre domine as áreas técnicas dos mesmos, procuro sempre sinalizar incoerências e sugerir alterações que considero serem mais objectivas, mais explicitas, menos repetitivas. Se depois estas alterações são efectuadas ou não, acho que é um critério do autor, afinal ele, melhor do que ninguém, sabe o que procura dizer.
* síntese de Sérgio Coelho disponível na B:MAG#03. http://www.booktailors.com/files/bmag_03.pdf
26.6.11
25.6.11
Concepção de projectos: reflexões
Ter ideias nem sempre é fácil e concretiza-las é um desafio e “pêras”. Para uns é mais fácil apresentar ideias, para outros é mais fácil executa-las. Qualquer que seja a nossa facilidade, é um contributo válido.
Transpor uma ideia para um projecto, implica suscitar uma série de questões, entre as quais desafios e constrangimentos. A ideia é um esqueleto em redor do qual vão crescendo músculos e pele e também muitos pormenores estéticos.
A determinado momento, podemos com clareza perceber se os nossos projectos têm pernas para andar, com ajuda, manco ou se simplesmente não vai a lado nenhum.
Sem ter lido o clássico de Collodi, apenas sei que Gepeto queria ser pai. Dados os constrangimentos “biológicos”, Gepeto levou a cabo o seu projecto de vida com os materiais que tinha a seu dispor. Não sendo os ideais, não desistiu do seu intuito, nem perdeu a motivação. É claro que nem sempre os projectos têm os resultados que esperamos, mas isso são outros quinhentos.
O que parece óbvio é que criamos um projecto porque queremos ver uma lacuna suprida, mas interessante é pensar em criar um projecto que crie uma lacuna.
Transpor uma ideia para um projecto, implica suscitar uma série de questões, entre as quais desafios e constrangimentos. A ideia é um esqueleto em redor do qual vão crescendo músculos e pele e também muitos pormenores estéticos.
A determinado momento, podemos com clareza perceber se os nossos projectos têm pernas para andar, com ajuda, manco ou se simplesmente não vai a lado nenhum.
Sem ter lido o clássico de Collodi, apenas sei que Gepeto queria ser pai. Dados os constrangimentos “biológicos”, Gepeto levou a cabo o seu projecto de vida com os materiais que tinha a seu dispor. Não sendo os ideais, não desistiu do seu intuito, nem perdeu a motivação. É claro que nem sempre os projectos têm os resultados que esperamos, mas isso são outros quinhentos.
O que parece óbvio é que criamos um projecto porque queremos ver uma lacuna suprida, mas interessante é pensar em criar um projecto que crie uma lacuna.
24.6.11
Mar me quer, Mia Couto
Este conto, editado pela primeira vez no âmbito da Expo 98, é o relato do(s) amor(es) de Zeca Perpétuo e Dona Luarmina, com o mar e o seu misticismo como pano de fundo.
Mia Couto aborda as suas temáticas habituais - as raízes, a memória e a identidade -, na prosa poética a que já nos habituou e que é a sua imagem de marca.
Um pequeno livro para (re)ler com prazer.
Mia Couto aborda as suas temáticas habituais - as raízes, a memória e a identidade -, na prosa poética a que já nos habituou e que é a sua imagem de marca.
Um pequeno livro para (re)ler com prazer.
23.6.11
A mulher do poeta
A mulher do poeta sabe que apenas algumas palavras são sobre si.
Derrama lágrimas ocasionais ao perceber outros corpos nas suas palavras.
Mas a beleza das palavras surpreende-a sempre, porque a mulher do poeta ama-o por amor à poesia.
A sua dádiva é o lar de alguém que não pretende subjugar as palavras. Ela sabe-se há muito subjugada por elas. Elas são as grandes subjogadoras.
A mulher do poeta acarinha-o puerilmente. Aceita que não haverá outras crianças. Que o poeta apenas tem olhos para as palavras mesmo quando estes se distraem noutros corpos ávidos de palavras, mas sem a sua serenidade.
A mulher do poeta sente o que este não sente, vê o que este não vê.
Mesmo sem o registo do seu corpo, ela sabe que aquelas palavras também são suas.
Só ela sabe a humildade das palavras por interposta pessoa.
Derrama lágrimas ocasionais ao perceber outros corpos nas suas palavras.
Mas a beleza das palavras surpreende-a sempre, porque a mulher do poeta ama-o por amor à poesia.
A sua dádiva é o lar de alguém que não pretende subjugar as palavras. Ela sabe-se há muito subjugada por elas. Elas são as grandes subjogadoras.
A mulher do poeta acarinha-o puerilmente. Aceita que não haverá outras crianças. Que o poeta apenas tem olhos para as palavras mesmo quando estes se distraem noutros corpos ávidos de palavras, mas sem a sua serenidade.
A mulher do poeta sente o que este não sente, vê o que este não vê.
Mesmo sem o registo do seu corpo, ela sabe que aquelas palavras também são suas.
Só ela sabe a humildade das palavras por interposta pessoa.
Picasso, Mulher que Chora, 1937 |
22.6.11
So pitch
Tive conhecimento desta iniciativa, cujo objectivo é colocar frente a frente empregadores e possíveis futuros colaboradores. Nestes encontros não se fazem as habituais entrevistas de emprego, mas os candidatos apresentam propostas e/ou soluções úteis para os seus empregadores. Estas apresentações decorrem num ambiente informal, numa dinâmica de speed date. Após os vários encontros, empresas e candidatos desenvolvem os seus contactos e dai podem derivar contratações individuais, consultadorias, a criação de novas empresas e outros tipos de colaboração. O original desta iniciativa é a ênfase no dinamismo e empreendorismo dos candidatos e na busca de soluções que até podem ser transversais a vários sectores empresariais.
Seria uma iniciativa interessante para realizar em Sintra.
Seria uma iniciativa interessante para realizar em Sintra.
21.6.11
O fracasso é um acontecimento, não uma pessoa
Esta simples frase veio trazer-me alguma paz de espírito, porque ajudou a perspectivar muitos dos últimos acontecimentos na minha vida. Se o meu projecto de vida falhou, não quer dizer que eu como pessoa falhe. Tomei decisões erradas e deixou que outros as tomassem por mim. Isso obrigou-me a rever praticamente todos os valores pelos quais me regia e a encontrar um novo sentido de futuro. Este novo sentido ainda não está completamente definido, mas está a delinear-se e a tomar forma. Ainda vou encontrar muitos obstáculos e estou longe de saber como os resolverei – sabendo à partida que nem todos terão uma resolução, pelo menos pacífica. Mas é certo que estou a ganhar um novo alento e espero ter a capacidade de perseverança para levar quer esta situação, quer a minha vida futura a bom porto. Com a ajuda de várias pessoas que me rodeiam, hei de consegui-lo. E quero também retribuir o apoio que me têm dado, mas não tenho conseguido, enclausurada pelas perspectivas mais negativas. Ainda me esperam dias sombrios, mas não posso esquecer nunca – como já testemunhei – que mesmo no dia mais cinzento e tempestuoso o sol brilha acima de todas as nuvens.
20.6.11
Distúrbio de personalidade evasiva
Somos quase sempre avessos a nomear os nossos defeitos/feitios , porque assim admitimos a sua existência, e ao fazê-lo temos a obrigação de tomar uma atitude, não só introspectiva, mas também correctiva.
A fuga – seja a quem me rodeia, seja a novas relações – é uma atitude notória. Há demasiados episódios na minha história a demonstra-lo, mesmo depois de ganhar essa consciência. Embora ciente desta minha “arte da fuga”, muitas vezes me falhou a força para combater essa atitude, pois, sendo um caminho conhecido, torna-se sempre mais fácil segui-lo. E se pelo meio há danos colaterais, o maior dano é com certeza comigo própria.
Agora, sei que este comportamento é cientificamente designado por Distúrbio de personalidade evasiva. Estou a procurar saber mais sobre este distúrbio, para poder lidar melhor com situações e, sobretudo, com pessoas. Não só para evitar atitudes injustas, mas para harmonizar as minhas emoções e atitudes. Afinal, só está em mim a chave para ser o que desejo ser.
A fuga – seja a quem me rodeia, seja a novas relações – é uma atitude notória. Há demasiados episódios na minha história a demonstra-lo, mesmo depois de ganhar essa consciência. Embora ciente desta minha “arte da fuga”, muitas vezes me falhou a força para combater essa atitude, pois, sendo um caminho conhecido, torna-se sempre mais fácil segui-lo. E se pelo meio há danos colaterais, o maior dano é com certeza comigo própria.
Agora, sei que este comportamento é cientificamente designado por Distúrbio de personalidade evasiva. Estou a procurar saber mais sobre este distúrbio, para poder lidar melhor com situações e, sobretudo, com pessoas. Não só para evitar atitudes injustas, mas para harmonizar as minhas emoções e atitudes. Afinal, só está em mim a chave para ser o que desejo ser.
19.6.11
Horas de vidro, Urbano Tavares Rodrigues
Como o autor do prefácio deste volume afirma, Urbano Tavares Rodrigues não prima por uma produção poética quantitativa e Horas de vidro compila poemas que abarcam quase 60 anos de produção escrita.
Talvez em parte devido às circunstâncias de leitura deste volume, o mesmo não me suscitou qualquer prazer, para além da acção de relaxamento que o processo de leitura me provoca. Não me suscitou qualquer sensação de acrescento, nem me atraiu particularmente ao ponto de salientar alguns dos seus poemas, o que é raro.
Regra geral, mesmo quando não aprecio uma obra, há sempre algo que me merece destaque. Não foi o caso. De resto, também nunca me senti tentada a ler o trabalho de Tavares Rodrigues, excepto pelo facto de que este goza de grande renome nacional e me importasse perceber os seus temas e estilo. Resta-me agora uma segunda leitura para confirmar a minha não atracção por este autor ou, como seria desejável, poder mudar a minha percepção.
Talvez em parte devido às circunstâncias de leitura deste volume, o mesmo não me suscitou qualquer prazer, para além da acção de relaxamento que o processo de leitura me provoca. Não me suscitou qualquer sensação de acrescento, nem me atraiu particularmente ao ponto de salientar alguns dos seus poemas, o que é raro.
Regra geral, mesmo quando não aprecio uma obra, há sempre algo que me merece destaque. Não foi o caso. De resto, também nunca me senti tentada a ler o trabalho de Tavares Rodrigues, excepto pelo facto de que este goza de grande renome nacional e me importasse perceber os seus temas e estilo. Resta-me agora uma segunda leitura para confirmar a minha não atracção por este autor ou, como seria desejável, poder mudar a minha percepção.
18.6.11
#90 @ 101 em 1001 - Clube de Leitura da Casa Museu Ferreira de Castro
Já há muito que queria participar num Clube de Leitura, mas era sempre daquelas coisas que ia adiando. Ou porque o livro proposto não estava lido, nem havia tempo par ao fazer, ou porque o local não era prático, ou a calendarização, ou outra coisa qualquer.
No passado dia 3 de Junho, quebrei finalmente esta cadeia de boicotes (des)intencionais. Participei no Clube de Leitura da Casa Museu Ferreira de Castro, na Vila de Sintra, dedicado ao livro Mal me Quer, de Mia Couto. O clube reúne-se na primeira sexta feira de cada mês, com excepção ao mês de Agosto. Anualmente, é abordado um livro do patrono e os restantes títulos são sugeridos pelos participantes. O calendário de leituras pode ser consultados na barra lateral deste blogue.
Tendo participado apenas numa sessão, apenas posso dizer que o grupo me parece bastante interessante e interessado. Foi uma experiência balsâmica, após uma semana complexa e cansativa, e que estou ansiosa por repetir.
No passado dia 3 de Junho, quebrei finalmente esta cadeia de boicotes (des)intencionais. Participei no Clube de Leitura da Casa Museu Ferreira de Castro, na Vila de Sintra, dedicado ao livro Mal me Quer, de Mia Couto. O clube reúne-se na primeira sexta feira de cada mês, com excepção ao mês de Agosto. Anualmente, é abordado um livro do patrono e os restantes títulos são sugeridos pelos participantes. O calendário de leituras pode ser consultados na barra lateral deste blogue.
Tendo participado apenas numa sessão, apenas posso dizer que o grupo me parece bastante interessante e interessado. Foi uma experiência balsâmica, após uma semana complexa e cansativa, e que estou ansiosa por repetir.
17.6.11
Reserva Natural do Cavalo do Sorraia
Em Alpiarça, encontra-se a Reserva Natural do Cavalo do Sorraia, dedicada à preservação, criação e divulgação desta raça. A reserva providencia aulas de equitação, serviço de restauração e possui uma estufa, criação de galinhas, pavões, porcos vietnamitas, entre outros.
O local é bastante interessante para a realização de actividades escotistas, pois permite a realização de pioneirismo, observação e caminhadas. É de salientar a proximidade da vila e do Museu da Casa dos Patudos.
ASB |
O local é bastante interessante para a realização de actividades escotistas, pois permite a realização de pioneirismo, observação e caminhadas. É de salientar a proximidade da vila e do Museu da Casa dos Patudos.
ASB |
16.6.11
Mãe, eu quero ir-me embora - a vida não é nada
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram -
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora - os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim - tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora - nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sózinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique -
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora - esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua - a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.
daquilo que disseste quando os meus seios começaram
a crescer. O amor foi tão parco, a solidão tão grande,
murcharam tão depressa as rosas que me deram -
se é que me deram flores, já não tenho a certeza, mas tu
deves lembrar-te porque disseste que isso ia acontecer.
Mãe, eu quero ir-me embora - os meus sonhos estão
cheios de pedras e de terra; e, quando fecho os olhos,
só vejo uns olhos parados no meu rosto e nada mais
que a escuridão por cima. Ainda por cima, matei todos
os sonhos que tiveste para mim - tenho a casa vazia,
deitei-me com mais homens do que aqueles que amei
e o que amei de verdade nunca acordou comigo.
Mãe, eu quero ir-me embora - nenhum sorriso abre
caminho no meu rosto e os beijos azedam na minha boca.
Tu sabes que não gosto de deixar-te sózinha, mas desta vez
não chames pelo meu nome, não me peças que fique -
as lágrimas impedem-me de caminhar e eu tenho de ir-me
embora, tu sabes, a tinta com que escrevo é o sangue
de uma ferida que se foi encostando ao meu peito como
uma cama se afeiçoa a um corpo que vai vendo crescer.
Mãe, eu vou-me embora - esperei a vida inteira por quem
nunca me amou e perdi tudo, até o medo de morrer. A esta
hora as ruas estão desertas e as janelas convidam à viagem.
Para ficar, bastava-me uma voz que me chamasse, mas
essa voz, tu sabes, não é a tua - a última canção sobre
o meu corpo já foi há muito tempo e desde então os dias
foram sempre tão compridos, e o amor tão parco, e a solidão
tão grande, e as rosas que disseste que um dia chegariam
virão já amanhã, mas desta vez, tu sabes, não as verei murchar.
Maria do Rosário Pedreira
15.6.11
Eutanásia, suicídio assistido ou outras formas de morrer com dignidade
O meu pai sempre proferiu que mais vali 10 anos alegres, que 20 tristes. Ou seja, preferia morrer cedo e bem, do que tarde e mal. Mas tal frase, vinda de um alcoólico, sempre me pareceu uma fuga à dor e aos problemas e não uma verdadeira compreensão de que a vida, em determinadas circunstâncias, já não fosse vida que valesse viver.
Quando foi diagnosticado cancro à minha mãe, nunca pensamos – embora sempre fosse uma hipótese real – que tal realmente aconteceria. A nossa negação, disfarçada pela crença na melhoria, levou até, quem sabe, a um desfecho mais rápido.
Foi conviver diariamente com a fase terminal da sua doença – embora sem essa consciência – que cimentou a minha crença de que a eutanásia, o suicídio assistido ou outra forma de morte digna devem ser um direito dos cidadãos. Acredito da criação de juntas médicas, tribunais ou outras formas de aferir – com as falhas que qualquer ser humano pode cometer -, doente a doente, das condições de vida, das fases da doença, da consciência das decisões e escolhas tomadas, etc. seja qual for(em) o(s) sistema(s) adoptado(s), acredito que o direito de escolha deve existir.
Talvez para isso deva explicar com o exemplo da minha mãe. Sempre me falhou a coragem para o dizer e por isso muito poucas pessoas o sabem, e sobretudo porque o presenciaram ou deduziram, mas que o tivesse revelado abertamente, creio que só a duas ou três pessoas.
A minha mãe desenvolveu um cancro no estômago que demorou quase um ano a ser diagnosticado, após muitos exames e hipóteses médicas. Numa primeira cirurgia, realizou-se uma gastrotomia – retirada parcial do estômago - a que se seguiram tratamentos de rádio e quimio terapia. Cerca de cinco anos depois, o cancro reincidiu e seguiu-se uma colostomia. A colostomia é a retirada de parte dos intestinos e implica a realização de um orifício na barriga por onde saem as fezes, que são recolhidas num saco que se muda regularmente.
Até esse momento, nunca me passou pela cabeça que tal procedimento existisse ou até que o corpo humano se degradasse assim, ainda em vida. Certas doenças não passavam de histórias, relatos que ouvia. Foi um choque mudar os sacos e os pensos, mas esse choque ainda viria a ser acentuado.
Os novos tratamentos de quimio, além da debilitação física, não tiveram o efeito desejado e a degradação do corpo da minha mãe continuou ao ponto de começar a vomitar as fezes.
Nunca ninguém está ou poderá estar preparado para esta realidade. Foram precisos mais de nove anos para o relatar e foi impossível conter as lágrimas ao fazê-lo.
Se me disserem que morrer assim é digno, é mentira. Ninguém merece morrer assim, nem de milhentas outras formas que se morre. Por isso, sou a favor de formas de morte digna e consciente. Para quem fica a ausência nunca é fácil, mas a memória doce pode ser uma herança única. Mas para quem parte, a paz e a minimização de dor têm de ser uma opção.
Quando foi diagnosticado cancro à minha mãe, nunca pensamos – embora sempre fosse uma hipótese real – que tal realmente aconteceria. A nossa negação, disfarçada pela crença na melhoria, levou até, quem sabe, a um desfecho mais rápido.
Foi conviver diariamente com a fase terminal da sua doença – embora sem essa consciência – que cimentou a minha crença de que a eutanásia, o suicídio assistido ou outra forma de morte digna devem ser um direito dos cidadãos. Acredito da criação de juntas médicas, tribunais ou outras formas de aferir – com as falhas que qualquer ser humano pode cometer -, doente a doente, das condições de vida, das fases da doença, da consciência das decisões e escolhas tomadas, etc. seja qual for(em) o(s) sistema(s) adoptado(s), acredito que o direito de escolha deve existir.
Talvez para isso deva explicar com o exemplo da minha mãe. Sempre me falhou a coragem para o dizer e por isso muito poucas pessoas o sabem, e sobretudo porque o presenciaram ou deduziram, mas que o tivesse revelado abertamente, creio que só a duas ou três pessoas.
A minha mãe desenvolveu um cancro no estômago que demorou quase um ano a ser diagnosticado, após muitos exames e hipóteses médicas. Numa primeira cirurgia, realizou-se uma gastrotomia – retirada parcial do estômago - a que se seguiram tratamentos de rádio e quimio terapia. Cerca de cinco anos depois, o cancro reincidiu e seguiu-se uma colostomia. A colostomia é a retirada de parte dos intestinos e implica a realização de um orifício na barriga por onde saem as fezes, que são recolhidas num saco que se muda regularmente.
Até esse momento, nunca me passou pela cabeça que tal procedimento existisse ou até que o corpo humano se degradasse assim, ainda em vida. Certas doenças não passavam de histórias, relatos que ouvia. Foi um choque mudar os sacos e os pensos, mas esse choque ainda viria a ser acentuado.
Os novos tratamentos de quimio, além da debilitação física, não tiveram o efeito desejado e a degradação do corpo da minha mãe continuou ao ponto de começar a vomitar as fezes.
Nunca ninguém está ou poderá estar preparado para esta realidade. Foram precisos mais de nove anos para o relatar e foi impossível conter as lágrimas ao fazê-lo.
Se me disserem que morrer assim é digno, é mentira. Ninguém merece morrer assim, nem de milhentas outras formas que se morre. Por isso, sou a favor de formas de morte digna e consciente. Para quem fica a ausência nunca é fácil, mas a memória doce pode ser uma herança única. Mas para quem parte, a paz e a minimização de dor têm de ser uma opção.
13.6.11
Parque das Merendas
12.6.11
Princesas
Todas as mulheres são princesas e rainhas, disso não à dúvida, mas que princesas e rainhas queremos ser?
Ana Teresa Fernandez |
O paradigma mudou e com ele as personagens que nos entretêm e refletem. Branca de neve? Que trabalha para dar um ar asseado a uma casa de sete homens - nem quero imaginar o estado daquela(s) casa(s) de banho – e fazer comida para aquela malta toda.
Hoje, não queremos, nem temos de ser assim, a não ser que sejamos camareiras ou cozinheiras. Somos mulheres que metem as mãos na massa e lutam para conseguir os seus objectivos. Não esperamos que um beijo nos acorde para a vida.
Se o paradigma Disney nos reflete, somos a Rapunzel, para quem a frigideira não é um utensílio de cozinha, mas uma arma de luta pelos nossos objectivos. Somos pragmáticas e sabemos o que queremos. E continuamos princesas, com um brilho e magia próprios, que ninguém nos consegue roubar.
Bryan Pickens, Arrest |
11.6.11
Que conselhos me daria…
Aos 18?
Não vivas os sonhos dos outros. Respeita-os, ajuda-os, mas lembra-te: não são teus.
Aos 22?
Não assumas as responsabilidades dos outros. É complicado para eles? É complicado para todos.
Aos 26?
Não deixes de viver os teus objectivos pelos outros. No fim, partirão e talvez só te reste a solidão.
Aos 33?
Não esperes que os outros se empenhem em resolver os teus problemas. Só o farão os técnicos especializados, a troco de dinheiro, e ainda assim é preciso olho neles.
Não vivas os sonhos dos outros. Respeita-os, ajuda-os, mas lembra-te: não são teus.
Aos 22?
Não assumas as responsabilidades dos outros. É complicado para eles? É complicado para todos.
Aos 26?
Não deixes de viver os teus objectivos pelos outros. No fim, partirão e talvez só te reste a solidão.
Aos 33?
Não esperes que os outros se empenhem em resolver os teus problemas. Só o farão os técnicos especializados, a troco de dinheiro, e ainda assim é preciso olho neles.
10.6.11
Liderança
Não creio ter capacidades de liderança. Falta-me a confiança necessária nas minhas capacidades de decisão, de gestão material e de recursos humanos, de timmings e de atingir objectivos, que não sejam corriqueiros.
A cada desafio, sinto que falho, e o pior é que as falhas são as mesmas de desafio para desafio.
A cada desafio, sinto que falho, e o pior é que as falhas são as mesmas de desafio para desafio.
9.6.11
#85 @ 101 em 1001 - Formação de Formadores para a Participação Juvenil
Estou, desde há dias, a frequentar uma Formação de Formadores para a Participação Juvenil, promovida pela associação juvenil Dínamo. O grande mote desta formação é a promoção da Educação Não Formal como forma de capacitar, motivar e promover a participação juvenil. Ao longo das várias sessões, têm sido explorados conceitos como formação e dinâmicas de grupo , gestão de conflitos, liderança, trabalho entre pares e concepção de projectos. Com esta nova experiência, espero sair mais capacitada para a realização do meu trabalho na área da juventude, que, infelizmente, é muitas vezes mais burocrático do que prático.
8.6.11
Público online
No passado dia 13 de Maio, na sua crónica quinzenal no Ípsilon, António Pinto Ribeiro abordou o tema dos públicos.
Dentro do enorme tema dos públicos, a sua ênfase vai para as mudanças no acesso a bens/produtos culturais provocadas pelo crescimento e difusão da internet. Salienta que a internet não é apenas um veículo de promoção de determinado evento/equipamento, mas que se tornou ela própria uma nova “experiência de recepção, sobre a qual muito está por saber”, tendo reformulado as existentes “possibilidades de aprendizagem e formulação de estéticas de recepção.”
Como ferramenta de divulgação/acesso à informação, a internet tem permitido curiosas e impressionantes experiências de aprendizagem/conhecimento, das quais me saltam à memória o Google Earth e o Google Art Project . Embora, por exemplo, estes não substituam a experiência in loco, não deixa de ser uma experiência que impressiona pelo investimento tecnológico e pelas possibilidades que apresenta.
Teoricamente, a internet vem permitir a democratização do acesso à informação e à cultura, obrigando a rever o paradigma de Bourdieu, cuja génese ideológica não era nova, mas não tinha sido até à data comprovada cientificamente. Hoje, potencialmente, todos temos acesso à internet, mesmo não sendo nas nossas casas, através, por exemplos, da rede nacional de espaços jovens e de outros serviços e instituições.
Resta-nos agora perceber os efeitos reais e o modo como os públicos - a “instância mais propicia à infidelidade” – virtuais podem deixar a sua marca e apreender o conhecimento e as instituições.
Dentro do enorme tema dos públicos, a sua ênfase vai para as mudanças no acesso a bens/produtos culturais provocadas pelo crescimento e difusão da internet. Salienta que a internet não é apenas um veículo de promoção de determinado evento/equipamento, mas que se tornou ela própria uma nova “experiência de recepção, sobre a qual muito está por saber”, tendo reformulado as existentes “possibilidades de aprendizagem e formulação de estéticas de recepção.”
Como ferramenta de divulgação/acesso à informação, a internet tem permitido curiosas e impressionantes experiências de aprendizagem/conhecimento, das quais me saltam à memória o Google Earth e o Google Art Project . Embora, por exemplo, estes não substituam a experiência in loco, não deixa de ser uma experiência que impressiona pelo investimento tecnológico e pelas possibilidades que apresenta.
Teoricamente, a internet vem permitir a democratização do acesso à informação e à cultura, obrigando a rever o paradigma de Bourdieu, cuja génese ideológica não era nova, mas não tinha sido até à data comprovada cientificamente. Hoje, potencialmente, todos temos acesso à internet, mesmo não sendo nas nossas casas, através, por exemplos, da rede nacional de espaços jovens e de outros serviços e instituições.
Resta-nos agora perceber os efeitos reais e o modo como os públicos - a “instância mais propicia à infidelidade” – virtuais podem deixar a sua marca e apreender o conhecimento e as instituições.
7.6.11
Leonard Cohen
Ainda que isto pareça um poema
prefiro avisá-los desde o início
de que não tinha que o ser.
Não quero converter tudo em poesia.
Sei tudo sobre o seu papel neste assunto
mas isso não me interessa agora.
Isto é entre tu e eu.
Pessoalmente estou-me a marimbar para quem seduziu quem:
De facto pergunto-me se isso me interessa.
Mas um homem tem de dizer alguma coisa.
A verdade é que lhe deste 5 cervejas MacKewan,
a levaste para o teu quarto, puseste os discos adequados,
e numa hora ou duas estava feito.
Sei tudo sobre a paixão e a honra
mas infelizmente isso nada tinha a ver convosco:
Oh! Tenho a certeza que houve paixão
e mesmo um pouco de honra
mas o importante era pôr os cornos a Leonard Cohen.
Com os diabos, mais valia dizer-vos:
Não tenho tempo para escrever mais nada.
Tenho de dizer as minhas orações.
Tenho de esperar à janela.
Repito: o importante era pôr os cornos a Leonard Cohen.
Gosto desta linha porque nela está o meu nome.
O que na verdade me põe doente
é que tudo continue igual:
Ainda sou uma espécie de amigo,
ainda sou uma espécie de amante.
Mas não por muito tempo:
é por isso que digo a ambos
O caso é que me estou a converter em ouro, a converter em ouro.
É um longo processo, dizem,
acontece por fases.
Só quero informá-los que já me converti em argila.
Poemas e Canções, Volume 1, Relógio D'Água, trad. Margarida Vale de Gato e Manuel Alberto, 1999
prefiro avisá-los desde o início
de que não tinha que o ser.
Não quero converter tudo em poesia.
Sei tudo sobre o seu papel neste assunto
mas isso não me interessa agora.
Isto é entre tu e eu.
Pessoalmente estou-me a marimbar para quem seduziu quem:
De facto pergunto-me se isso me interessa.
Mas um homem tem de dizer alguma coisa.
A verdade é que lhe deste 5 cervejas MacKewan,
a levaste para o teu quarto, puseste os discos adequados,
e numa hora ou duas estava feito.
Sei tudo sobre a paixão e a honra
mas infelizmente isso nada tinha a ver convosco:
Oh! Tenho a certeza que houve paixão
e mesmo um pouco de honra
mas o importante era pôr os cornos a Leonard Cohen.
Com os diabos, mais valia dizer-vos:
Não tenho tempo para escrever mais nada.
Tenho de dizer as minhas orações.
Tenho de esperar à janela.
Repito: o importante era pôr os cornos a Leonard Cohen.
Gosto desta linha porque nela está o meu nome.
O que na verdade me põe doente
é que tudo continue igual:
Ainda sou uma espécie de amigo,
ainda sou uma espécie de amante.
Mas não por muito tempo:
é por isso que digo a ambos
O caso é que me estou a converter em ouro, a converter em ouro.
É um longo processo, dizem,
acontece por fases.
Só quero informá-los que já me converti em argila.
Poemas e Canções, Volume 1, Relógio D'Água, trad. Margarida Vale de Gato e Manuel Alberto, 1999
6.6.11
5.6.11
Conheço o sal da tua pele seca
depois que o estio se volveu Inverno
da carne repousada em suor nocturno.
Conheço o sal do leite que bebemos
quando das bocas se estreitavam lábios
e o coração no sexo palpitava.
Conheço o sal dos teus cabelos negros
ou louros ou cinzentos que se enrolam
neste dormir de brilhos azulados.
Conheço o sal que resta em minhas mãos
como nas praias o perfume fica
quando a maré desceu e se retrai.
Conheço o sal da tua boca, o sal
da tua língua, o sal de teus mamilos,
e o da cintura se encurvando de ancas.
A todo o sal conheço que é só teu.
ou é de mim em ti, ou é de ti em mim,
um cristalino pó de amantes enlaçados.
Jorge de Sena
4.6.11
101 objectivos em 1001 dias – balanços dos primeiros 365 dias e qualquer coisa
Objectivos completos: 4
Objectivos iniciados: 4
Objectivos traçados até ao momento: 85
Taxa de concretização: c. 10%
Objectivos que já poderiam estar concretizados: pelo menos 12
Nível de satisfação: mais ou menos
Objectivos iniciados: 4
Objectivos traçados até ao momento: 85
Taxa de concretização: c. 10%
Objectivos que já poderiam estar concretizados: pelo menos 12
Nível de satisfação: mais ou menos
1.6.11
A não maternidade
No último ano, ficou claro para mim que dificilmente serei mãe. Este dificilmente significa 99% de certeza e 1% ao provérbio: nunca digas nunca. Como ficou claro, quando questionada sobre aspirações maternais a minha resposta é evidentemente negativa.
As reacções têm sido algo inesperadas. As pessoas acham estranho que uma mulher da minha idade não perspective ter filhos. Sobretudo, acham estranho que aos 35 não tenha todas as células do meu corpo a clamar por um filho. Bem, na verdade não estão. Já estiveram há uns anos, é certo. Agora não.
Agora, o mais inesperado – ou talvez não – é que estas reacções são sobretudo masculinas. Estarão os homens tão habituados a lidar com o desejo feminino de ser mãe que parecem ficar desarmados quando uma diz que não?
As reacções têm sido algo inesperadas. As pessoas acham estranho que uma mulher da minha idade não perspective ter filhos. Sobretudo, acham estranho que aos 35 não tenha todas as células do meu corpo a clamar por um filho. Bem, na verdade não estão. Já estiveram há uns anos, é certo. Agora não.
Agora, o mais inesperado – ou talvez não – é que estas reacções são sobretudo masculinas. Estarão os homens tão habituados a lidar com o desejo feminino de ser mãe que parecem ficar desarmados quando uma diz que não?
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