Procuramos os nossos desejos em tudo o que fazemos, e contudo leva tanto tempo a compreender o que queremos realmente. O significado é como um eco adiado, e só começamos a ouvi-lo muitos anos depois de fazermos as nossas perguntas. (p. 366)
Sophie Ridiesel é uma jovem alemã surpreendida pelo invulgar grupo de amigos que o seu enigmático vizinho Isaac Zarco lhe apresenta. A amizade que se tece entre esta jovem e o insólito grupo talvez não fosse de estranhar, se Sophie não habitasse na Berlim da década de trinta e se este grupo não fosse composto por judeus, artistas de circo, portadores de algum tipo de deficiência ou apenas diferentes, entre outros.
A jovem Sophie vai crescer e atingir a maturidade da forma mais dura: em plena ascensão do regime nazi, em que vê desaparecer perante os seus olhos tudo e quase todos os que fazem parte da sua vida. O espírito rebelde e resistente de Sophie vai permitir a sua sobrevivência durante este período hostil, em que encontra o amor e a compreensão não de quem espera, mas dos seus improváveis amigos, a sua família do coração.
É através da vida deste grupo que acompanhamos o escalar de violência imposto pelo regime nazi de Hitler e percebemos ainda mais o horror, o medo, a perseguição, a tortura e o impacto de todos estes sentimentos na vida não só de um país, mas de um continente e de milhões de pessoas, vítimas ou carrascos, ou apenas sobreviventes. Acompanhamos as graduais perseguições, as várias políticas de extermínio, as radicais lutas pela sobrevivência, mesmo que implique a mudança de identidades e traição de todos os valores anteriormente defendidos.
A Sétima Porta é uma lição de história que nos revela as vidas, os amores e as aspirações dos muitos que foram as vítimas nazis. É também uma lição de humanidade e de respeito pela diferença, seja ela qual for, porque somos todos humanos e diferentes somos nós, os que não conseguimos aceitar e compreender os demais.
A escrita de Richard Zimler é sensível, irónica, culta, fluente e comovente e, uma vez mais, conseguiu arrancar-me muitas lágrimas, o que é muito raro. Por isso, a saga da família Zarco, e outras, continuará na minha senda de leituras.
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