Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

31.7.10

inception – A Origem


is this real life,
or is this just fantasy?
Caught in a land slide,
No escape from reality

Os complexos meandros da mente são a pedra de toque do cinema de Chris Nolan, seja através do impacto da memória e da sua construção, como em Memento, e agora dos sonhos.
O grande trunfo deste filme é a capacidade de se identificar com todos nós. Todos nós sonhamos, todos recordamos parcelas de sonhos, todos sentimos os sonhos. Poucos conseguem controlar os acontecimentos oníricos, mas gostaríamos. Mas todos, em algum momento, tivemos a sensação de queda que nos faz acordar abruptamente, fomos perseguidos por ondas gigantes, vimo-nos perdidos em escadas e corredores labirínticos, apanhamos comboios que nos levaram a lado nenhum, acordamos dentro do sonho.
Assim, Nolan transporta-nos para um mundo que reconhecemos, explicando-nos simultaneamente alguns dos mecanismos mentais oníricos que desconhecemos, tudo isto numa história plausível, devidamente estruturada, complexa mas explicita. A isto juntam-se os efeitos especiais que servem a história e que apetece mesmo ver em 3d. A cinematografia remete-nos também para outros cenários à la james bond, hitchcock e matrix, que contribuem para a sensação de familiaridade numa história aparentemente estranha.

Outros devaneios oníricos:
Palácios dos Sonhos
O Poder dos Sonhos

30.7.10

Não procuro as relíquias, nem as palavras, nem a magnitude dos edifícios.
Procuro a serenidade de um horizonte ao pôr-do-sol.

27.7.10

Possíveis humilhações literárias

Apenas porque faziam parte dos programas escolares, mas sem vergonha, o que devia ter lido e não li:

Os Maias

Eurico, o Presbítero

Uma Família Inglesa

Os Lusíadas



 A tudo o resto respondo: ainda não cheguei lá.

26.7.10

Shrek para sempre

A premissa de Shrek foi sempre desconstruir o conceito dos contos de fadas, em que o amor, após encontrado, traria a felicidade a completa e, claro está, para sempre.

Ao longo da saga constatamos que o príncipe encantado pode na verdade ser um ogre, ou seja, a pessoa que idealizamos não é real. As pessoas reais têm defeitos e a pessoal ideal não é necessariamente o que desejamos, mas sim quem nos completa. O amor e uma cabana não existe. Ninguém vive isolado, tudo e todos os que nos rodeiam exercem pressões sobre os relacionamentos, por vezes intencionalmente, por vezes não. Isto sem esquecer que, por norma, a cabana está hipotecada. O desgaste do tempo corrói as nossas expectativas, mas tomamos as nossas opções e assumimo-las, e não podemos nunca esquecer e respeitar as opções de quem nos rodeia.

Shrek vale pelas técnicas de animação, o humor adulto, e pela esperança de felicidade votadas aos menos fadados pela beleza.

23.7.10

O contacto físico com o livro

O meu processo de leitura implica um contato muito próximo com o próprio livro. Ele é simultaneamente veículo da mensagem que me é transmitida, mas também receptor das minhas reações a essa mensagem. Os livros que leio são frequentemente sublinhados e anotados (com lembranças, pretensos devaneios poéticas), testemunhos da minha apropriação do livro, do meu sentir, da minha manipulação da informação.
Há livros que nos induzem reações físicas específicas. As obras de Vergilio Ferreira pela Bertrand primam pelo cheiro a vómito. As letras e o espacejamento demasiado pequeno da Europa-América impediram muitas leituras de empréstimo. As capas duras que não acomodam um lápis como marcador não são as leituras mais adequadas fora de casa. Os clips, os meus marcadores favoritos – pequenos e que não caem, deixam as suas marcas nas páginas ou até pedaços de ferrugem

22.7.10

Nova equipa de trabalho

Fruto de uma reestruturação efectivada desde o início do mês, integrei uma nova equipa de trabalho. O balanço do primeiro mês foi positivo, no entanto, ainda estamos em estado de graça. Espero com curiosidade o mês de Setembro, quando, findas a maioria das férias, a equipa estiver a 100% e se começar no ritmo normal de trabalho. Estou preparada para ver estalar alguns vernizes e para perceber melhor feitios e métodos de trabalho. Só depois poderei fazer um balanço mais correcto desta nova fase de trabalho.

21.7.10

Youth without youth – uma segunda juventude


No principio era o verbo.

Dominic Matei é um estudioso cujo objectivo é encontrar a origem da linguagem. Ao atingir a velhice, e ciente da impossibilidade de atingir esse objectivo, pelo qual abdicou tudo e todos, inclusive o seu grande amor, Dominic vive a mais traumática e extraordinária das experiências: tem a oportunidade de viver uma segunda juventude.

Dotado desta oportunidade, resta saber como se vive a juventude quando em posse da maturidade e sabedoria da velhice: que opções se tomam, que sonhos se seguem, que sacrifícios se fazem. Será que a maturidade nos impele para os mesmos erros ou nos permite fazer novos?

Este filme fala de buscas e dos caminhos que se percorrem, em detrimento de outros, para se atingir os objectivos, que julgamos essenciais. Esta busca pela origem da linguagem, da comunicação, da palavra primordial, logo divina, capaz de criar, deixa-nos com a convicção de que apenas a linguagem do amor justifica todas as opções e todos os sacrifícios. Mesmo que o homem pudesse ter acesso à linguagem divina, nunca teria capacidade de compreender toda a sua magnitude e abrangência. A linguagem do amor é a única universal e feita à sua medida.

19.7.10


...e inquieto é o meu coração enquanto descansa no teu.

18.7.10

Diálogo cético

- sabes, todas aquelas vidas que achavas estranhas e não compreendias quando eras jovem? Os divórcios, as separações, os encontros agendados, os afastamentos…
- sim, quando tínhamos a ilusão dos contos de fadas, do amor romântico como a solução de todos os problemas e do felizes para sempre? Claro que me lembro.
- às vezes queria regressar a essas expectativas simples, românticas e ingénuas.
- sim, mas por outro lado parece um retrocesso. Agora, que deixámos de acreditar em contos de fadas, já não há volta a dar: somos cépticos convictos.
- diz antes: céticos conformados. Sou cética, mas não tenho prazer em sê-lo. Ainda gostava de manter uma certa inconsciência de juventude, aquele sentir apenas, sem análises, ponderações e medos.

15.7.10

A HORA DO CANSAÇO, Carlos Drummond de Andrade

As coisas que amamos,
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade.

Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
Dar-lhes moldura de granito.
De outra matéria se tornam, absoluta,
Numa outra (maior) realidade.

Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um ou outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária,
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.

Do sonho de eterno fica esse gosto acre
Na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar.

13.7.10

Diálogo em fuga


- tens fugido de mim.
- Tenho?
- sabes que sim.
- sim, acho que sim.
- assustei-te. Não estavas à espera de ouvir o que te disse e levantaste o teu campo de defesa. Gostava de perceber porquê. Não esperava que fosse recíproco, não por enquanto, mas também não esperava uma fuga.
- parece que sou especialista em fugas, acabo sempre por fazê-lo.
- mas queres fugir?
- não, mas os meus mecanismos de defesa impelem-me.
- não te vou magoar. Pelo menos intencionalmente, se bem que de boas intenções está o inferno cheio, eu sei.
- sei que não me queres magoar. E não precisas fazê-lo, acredita que consigo fazê-lo muito bem sozinha. Mas sim, as tuas palavras assustaram-me. Adoraria dizer o mesmo, mas não consigo.
- não te peço.
- agora não, mas vais pedir. E não sei se no futuro conseguirei dizê-las. Não te quero magoar, por isso acabo por afastar-me.
- isso é uma atitude covarde.
- sim, seu sei. Mas já me está tão interiorizada que é complicado evitar. Sou a minha pior inimiga.

12.7.10

sabedorias

Porque por norma apenas damos ao outro aquilo que sabemos dar e não aquilo que o outro precisa que lhe demos.
Helena Sacadura Cabral, in Fio de Prumo

11.7.10

O nome dos meus filhos

Sempre imaginei que nome daria aos meus filhos. Poucos me pareciam apropriados e havia sempre algo que desgostava (um som, um sentido).

Agora que finalmente encontrei os nomes desejados, compreendo que o Miguel e a Sofia jamais existirão.

10.7.10

Homenagem a António Lobo Antunes

Não sou leitora de António Lobo Antunes, mas agradou-me a notícia de que será homenageado em França no primeiro semestre de 2011.

A homenagem engloba mais de 50 eventos, entre os quais leituras, conferências, ateliers, instalações e espectáculos, que terão lugar no complexo cultural MC93.

A importância desta homenagem prende-se com a excelente oportunidade para a divulgação de um autor de língua portuguesa e com o eventual factor de contaminação, suscitando a curiosidade sobre outros autores nacionais.

9.7.10

Mesmo a morte passa por ser isso mesmo: as pessoas não desaparecem da nossa vida, desaparece apenas o corpo, o volume. O espaço que ocupam desaparece fisicamente, mas em nós ele pode crescer. Quase sempre cresce, quando as amamos.

8.7.10

Dizem-me organizada.

Não sou.

Aparentemente, talvez, porque planeio a organização: esquemas, agendas, calendários, pastas, dossiês, ficheiros, objectivos, tarefas.

sim, faço tudo isso. Mas sou uma organizadora falhada, porque nunca cumpro a minha organização.

7.7.10

Diálogo (des)interessado

- és uma pessoa interessante.

- obrigada. Não sei se sou, mas tento ser. Ou melhor, pelo menos procuro ser uma pessoa interessada.

- uma pessoa interessada é inevitavelmente interessante.

- discordo. Uma pessoa interessada é meio caminho para ser interessante. No pior dos casos pode ser apenas interesseira.

1.7.10

As pessoas não mudam, 
modificam-se, 
adaptam-se.