Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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20.2.09

O gosto amargo do tabaco

Comecei na adolescência a perceber a elegância do fumo.

Ajuda a estruturar o personagem social em construção que somos. Não se sabe onde chegaremos, mas nem se percebe. Os olhos alheios distraem-se no manejar do cigarro e no fumo expelido ainda sem arte e numa massa fugaz.

A pouco domina-se a corrente a corrente de fumo, que ora apresenta um lânguido fluir, ora se aventura em quase perfeitos e concêntricos círculos. Como cenário fica uma face que nos abstraímos de olhar e de perceber as subtilezas da expressão.

Também eu me refugiei nesta cortina de fumo que me deixava uma sabor amargo na boca. Seduzia mas não cativava os olhares que em mim repousavam.

Demorei o meu tempo a perceber que me escondia. Demorei o meu tempo a apagar esse cigarro que me tolhia. Demorei o meu tempo a achar-me, mas achei-me.

Hoje, relembro apenas o gosto amargo do tabaco com um esgar de incómodo: uma recordação que não posso apagar. Recuso agora diálogos sob o espectro de um cigarro. Olho nos olhos quem me fala e decifro os feixes subliminares do seu olhar. E não mais desfoco o meu.

2 comentários:

  1. Realmente, nunca imaginei ver tão tosca opinião a respeito do inicio da vida de fumante.

    O cigarro é ruim no inicio, no meio e no fim... não existe este bucolismo que vc relata.

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  2. Realmente, nunca imaginei ver tão tosca opinião a respeito do inicio da vida de fumante.

    O cigarro é ruim no inicio, no meio e no fim... não existe este bucolismo que vc relata.

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