Sonhos doces são feitos disto
Quem sou eu para discordar?
Viajo o mundo
E os sete mares
Todos procuramos algo
Alguns querem usar-te
Outros querem ser usados por ti
Alguns querem abusar
Outros ser abusados
Sweet Dreams (Are Made Of This), Eurythmics
Sonhos doces são feitos disto
Quem sou eu para discordar?
Viajo o mundo
E os sete mares
Todos procuramos algo
Alguns querem usar-te
Outros querem ser usados por ti
Alguns querem abusar
Outros ser abusados
Sweet Dreams (Are Made Of This), Eurythmics
Não parecia o mesmo aparador emanciado que encontrara abandonado naquele sótão poeirento e bafiento. Era apenas uma esconsa estrutura de madeira.
Agora, graças às mãos sensíveis e fortes de Georg, recuperara a beleza e brilho que se crê de outrora. Ou talvez até a tenha superado.
Com a calma necessária, Georg limpou todo o pó da madeira, polindo-a de seguida. Depois, espalhou várias camadas de greda, até que toda a madeira tivesse um tom homogéneo. Deixou repousar e voltou a polir todo o aparador. Finalizou o trabalho com duas demãos de verniz que lhe conferiram o aspecto viçoso e tablado que agora possui.
Ao acabar, Georg sorriu. Estava satisfeito com o seu trabalho.
Este é o título da crónica ficcional de J. E. Agualusa na nova LER. Nesta, o autor procura capturar o espírito e o estilo de um autor já falecido e assim produzir uma carta que este envia do além, seja lá de que sítio especifico. É sempre um exercício engraçado e com resultados curiosos, apesar de não ser um conceito inovador. Já a colecção Literatura e Morte, editada em Portugal pela ASA, tinha como pressuposto um conceito semelhante. No entanto, é sempre interessante ler estas páginas.
Dentro das problemáticas, salienta-se a tendência para a utilização deste tipo de trabalho como uma memória com utilidade pública, utilizada como modo promocional, por exemplo a nível autárquico, de determinada região, carecendo por vezes de imparcialidade de análise dos factos apresentados. Sendo por vezes este tipo de trabalho uma encomenda com fins específicos, apresenta apenas uma perspectiva única e não obedece a uma correcta pesquisa e exposição metodológica.
Mas apesar de alguns aspectos negativos, as monografias locais, muitas vezes levadas a cabo de boa fé por locais não profissionais nesta área, são instrumentos de preservação da memória que apresentam uma demonstração de vivência de espaço incapaz de ser captada por profissionais não locais. E mesmo quando são trabalhos “amadores” menos bem conseguidos, não é de descurar a sua importância para trabalhos futuros de maior profundidade de pesquisa e com outros métodos de análise.
Mas, mais importante do que observar as problemáticas e virtualidades, é relevante perceber as novas potencialidades que actualmente se apresentam e possibilitam este tipo de investigação. Primeiro, a nível de recursos, a proliferação e disponibilização de arquivos digitais e de conteúdos bibliográficos permite o acesso de informação a um maior leque de público. Também o contributo de novas fontes de informação como a iconografia, em particular a fotografia e o registo audiovisual, tem permitido novas abordagens aos quais se podem igualmente juntar os novos olhares advindos da arte, como literatura, e da cartografia, por exemplo. Igualmente relevante é a nova multidisciplinaridade que actualmente reveste este tipo de pesquisa e a necessidade de criar equipas com elementos das mais variadas áreas.
A monografia local é um relevante trabalho de investigação para a historiografia e para a compreensão de dinâmicas internas nacionais, daí que não deve ser descurada nem pelos meios académicos, nem pelos poderes, quer autárquicos, quer centrais.
A mais recente crónica de Pedro Mexia disponível na Ler é uma pérola. Denomina-se Livros Fúteis e é dedicado a todos aqueles livros que nunca deveriam ter ousado sair das escassas e deterioradas células cinzentas dos seus autores.
Nem todos têm estofo e/ou criatividade para ser escritor, mas também há gente muito iludida neste mundo e é verdade que as ilusões são tramadas, sejam quando ainda se possuem ou quando já se perderam.
Mas há casos em que não há sequer ilusões. Há apenas marketing de um nome que se julga poder vender tudo.
Sambenito - do Cast. Sambenito s. m., hábito ou balandrau, em forma de saco, que se enfiava pela cabeça dos condenados, quando eram levados para os autos-de-fé.
Cibo - do Lat. Cibu s. m., alimento, comida (especialmente das aves); fam., pedacinho de qualquer coisa.
Calau - s. m., Ornit., ave de tamanho relativamente grande, de bico muito desenvolvido e que vive em bandos na Ásia, África e Austrália.
Como o nome indica, este é o relato de uma morte anunciada, ou como o narrador frisa “morte mais anunciada que esta nunca houve na história”. De tal modo, que parece incrível como é que a mesma se concretiza sem que ninguém realmente tente evitá-la e “obrigando” os seus perpetuadores a leva-la a cabo. Temos aqui o relato o mais “sincero” e explicito possível da apuração dos factos e do que correu mal no impedimento desta morte, relembrando a máxima de que “para que o mal triunfe, basta que os homens de bem nada façam”. E neste caso, os homens de bem, na sua incredulidade, na sua incapacidade para ver não o mal, mas o erro, foram capazes de permitir um crime horrendo.
Há algo errado no mundo de hoje
E não que seja
Algo errado com os nossos olhos
Vemos de um modo diferente
Que Ele sabe não ser o Seu
E não é nenhuma surpresa
vivemos no limite
Há algo errado no mundo de hoje
As luzes enfraquecem
Há fusões no céu
Se podes considerar um homem sábio
Pela cor da sua pele
Então, és melhor do que eu
Vivemos no limite
Sem conseguir evitar a queda
Vivemos no limite
Sem conseguir evitar nada
diz-me o que pensas da nossa situação
Complicação. agravamento
Está a afectar-te
Se alguém diz que o céu está a cair
Mesmo que não esteja ainda te rastejarias
De volta – acredito que sim meu amigo –
De novo e de novo e de novo e de novo e de novo
Há algo certo no mundo de hoje
E todos sabem estar errado
Mas não podemos negar
Ou escapar-nos-ia
Mas prefiro aguentar-me
Livin' On The Edge , Aerosmith
Já fizemos de tudo nesta vida e ainda nos resta outro tanto. Valeu-nos viver a vida ao contrário.
Agora que perdemos as rugas e ganhamos a juventude tudo tem mais sabor. Sabemos o que estamos a ganhar e vivemos ao rubro. Agora sim vivemos.
A ideia de que ainda podemos fazer algo pela primeira vez atrai sempre. JEA in Ler#70