Um colega tem por hábito chamar otariado ao voluntariado. Não por menosprezar o seu valor – já que o pratica várias horas por semana – mas pela sua consciência de que a única compensação que se tem por essas horas é apenas de satisfação pessoal, embora a sua prática signifique tempo que não se dedica a outras áreas das nossas vidas, bem como gastos sem retorno.
Não posso deixar de concordar com ele. Afinal, que carolice é este que nos impele a um trabalho extra – pois não tenham dúvida que implica muito trabalho – sem qualquer tipo de compensação monetária. É verdade que há coisas que o dinheiro não paga, mas também é verdade que nem sempre há opção de usufruir do nosso tempo de modo altruísta. É de louvar quem o faz, tal como é estranho perceber como muitos gastam o seu tempo de modo tão fútil.
Para muitos o tempo dedicado ao voluntariado também deve parecer fútil. Por vezes, também penso se não seria benéfico para mim utilizar o meu tempo com outra ocupação passível de ser remunerada. Depois, vejo os jovens cujas vidas acabamos por influenciar – esperemos que sempre do melhor modo. Mas também penso – nos tempos que se aproximam – quantas instituições – por falta de verba – necessitarão destes trabalhadores tão válidos e quantos de nós não se verão obrigados a abdicar de uma ocupação que nos enriquece pessoalmente por um segundo trabalho por uma questão de sobrevivência. E quantas pessoas necessitadas de um trabalho verão esse trabalho realizado voluntariamente, porque – lá está – as instituições não podem fazê-lo. E quantos numa situação de desemprego verão no voluntariado uma das poucas formas úteis e sãs de empregar o seu tempo.
Só espero é que ninguém desista de “otário” porque ainda acredito que há compensações que o dinheiro não dá e há momentos na vida em que a sua prática nos dá mais do que damos aos outros.
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