- hoje, demorei mais de 20 minutos no duche.
- E?
- Não é normal. Demoro, quando muito, cinco minutos.
- Isso não é um banho, é passar o corpo por água.
- É tempo mais que suficiente para lavar o cabelo e o corpo. Não ando a cavar terra para andar imunda.
- Então, demoraste 20 minutos. qual é o problema? Estava a saber-te bem e aproveitaste.
- O problema é que no meio do duche finalmente percebi porque é que também ando a dormir tanto e porque é que quando chego a casa visto quase logo o roupão.
- Andas cansada, precisas de relaxar.
- Não, não é isso. É pior. É porque não tenho calor na minha vida. Por isso recorro ao calor do duche, da cama, do roupão. Para sentir calor. Para me sentir aconchegada, reconfortada.
- És friorenta. Não é nada demais.
- Não, não sou friorenta. Sou sozinha, sabes há quanto tempo ninguém me abraça? Eu já nem me lembro quando foi a última vez.
- Tadinha. Precisas de um abraço. Anda cá que isso resolve-se.
- Desculpa, mas não se resolve com os teus abraços, por mais bem intencionados que sejam, apesar de ajudar sempre. Obrigada. Sinto falta de um abraço a meio da noite, tem de ser o calor de um corpo ao meu lado no sofá em silêncio ou a partilhar os acontecimentos do dia. Tem de ser uma mão a ajeitar-me os caracóis e a acariciar-me o pescoço.
- Compreendo. Realmente esse calor não te posso dar lamento.
- Também eu. Infelizmente, a conta da água este mês vai ser grande.
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