30.11.07
A Minha 1ª Greve
29.11.07
28.11.07
27.11.07
Hoje dói-me a alma. Tenho de tomar uma decisão e nunca fui boa a fazê-lo.
As pequenas decisões são fáceis, mas as grandes não e sempre acabei por deixa-las para que outros as fizessem por mim. Assim, sempre foi mais fácil pôr as culpas nos outros e isentar-me de responsabilidades.
Sou responsável apenas por omissão. E agora é necessário tomar as rédeas e decidir, por mais difícil que possa ser. E é tão difícil.
Tenho um nó no estômago e preciso desfazê-lo. Sei como, mas falta-me a coragem. Sou tão medrosa. Tenho tanto medo de encarar as coisas de frente e arcar com as consequências. É difícil, mas necessário para evitar o descalabro.
Espero ter forças para o fazer.
26.11.07
Workshop Semântico #10
O alcaravão retoiçou devido a um deliquo.
Exercício 2
As crianças retoiçavam alegremente no jardim. Percebia-se pela algazarra e pelos gritinhos de contentamento. Mas subitamente cessou a confusão.
Que aconteceu?
Dirigi-me Às traseiras da casa para ver o que se passava. Um alcaravão esperneava a um canto do jardim. Parecia já velho.
Espantei-me. Era raro ver um destes bichos. Talvez a última vez que vi era ainda criança. Não recordo ver mais nenhum depois.
Dirigi-me À sua beira. Os miúdos olhavam-no intrigado. Mandei-os recuar, mas eles mantinham-se no mesmo lugar. Tive de os obrigar a ir para dentro de casa.
Era óbvio que o bicho estava mal. Tinha o olhar vazio. O fim estava próximo e não queria que os miúdos assistissem. Tinham tempo para estas situações mais tarde na vida.
Pobre bicho, deve ter sido acometido por uma síncope no seu lento rasgar pelos céus. Faltou-lhes as forças para chegar ao seu destino. Quedou-se no nosso jardim rodeado por crianças esfusiantes e a olhar o céu ao qual jamias voltaria.
Compreendo-o. É um bom lugar para nos despedirmos da vida: a vislumbrar um céu a perder de vista.
25.11.07
Palavras #44 a 46
retoiçar - do Lat. *ressaltare, com metát. Silábica, v. int., brincar na retoiça; espojar-se por brincadeira.
delíquio - do Lat. deliquiu < delinquere,s. m., desmaio, síncope, desfalecimento; acidente, fraqueza. do Lat. deliquiu < deliquere, s. m., liquefacção pela humidade do ar.
alcaravão -do Ár. Alkarawan, s. m., Ornit., ave de arribação da ordem dos pernaltas, semelhante à garça, cujo nome científico é Ardea stellaris.
24.11.07
Conclusões sobre a inveja
A inveja necessita sempre de pelo menos dois indivíduos com uma relação de desigualdade e o invejoso é sempre aquele que se sente prejudicado. Ela é socialmente útil, pois controla a vaidade e o orgulho; além disso, estimula a inovação, impedindo a acomodação, reduzindo o desequilibro entre os indivíduos. Só se inveja quando se está triste e a quem está perto. A sua base é a busca do poder: a mais-valia; mas o que mais desperta é a impotência: ficar passivo, olhando, se corroendo por dentro. Muitas das vezes é a projecção nos outros da malícia que na verdade está dentro de nós.
A inveja é mais azeda entre as mulheres por causa de uma vivência de privação. Elas têm de lutar mais, ter mais talento, mais competência. A maioria das coisas invejadas pertence à esfera do narcisismo: beleza, juventude, honra, glória, fama, poder, coisas tangíveis mas que se podem perder facilmente.
A inveja é a exploração de nosso campo magnético por outra pessoa e está sempre associada ao olhar, ao mau-olhado. E a inocência não serve para proteger. Mascara-se muitas vezes sob a forma de elogio, que é sempre recebido com reservas, porque se teme que ele funcione como mau agouro. Ninguém elogia com boas intenções.
A inveja tem sempre uma energia negativa e não há diferenciação entre boa e má inveja: destrói e corrói sempre.
23.11.07
A Promessa
Jack Nicholson interpreta um polícia que à beira da reforma de depara com o assassínio de uma criança por parte de um pedófilo. Incapaz de encontrar o culpado ainda durante a sua comissão de serviço, enceta uma silenciosa busca por conta própria. E na sua obsessão para conseguir descobrir a identidade do assassino chega mesmo a envolver terceiros na sua busca.
É um filme interessante, pois observa uma primeira obsessão através de uma segunda obsessão e demonstra que quer uma, quer outra fazem vítimas inocentes. Demonstra que o desejo é sempre nocivo quando chega ao nível da obsessão, mesmo que aparentemente movido pelos melhores motivos.
22.11.07
21.11.07
La Fille de Agammenon, Ismaël Kadaré
Mas há aspectos que se mantêm nos três livros: a figura do sistema omnipotente, omnipresente e invisível; o tratamento referencial da figura feminina, como ideal a atingir, mas sempre ausente; e a importância da figura do tio como elemento de afirmação política. Aqui, a figura do tio é uma figura conservadora que alinha pelos ideais do regime instalado e funciona como elemento antagonista do protagonista. Em O Palácio dos sonhos, o tio era alvo de admiração pela sua postura inovadora, mas que acaba por ser sacrificado em nome da manutenção dos valores vigentes. Aliás, o elemento do sacrifício em prol da tradição e dos valores impostos é também uma constante nas três obras: Georg é sacrificado em nome do Kanun; o tio em nome do império; e Susana em nome do regime. Aqui o elemento do sacrifício é bem mais explicito, como o autor faz questão de frisar ao fazer uma analogia entre Susana e Efigénia, a filha de Agamemnon que é sacrificada pelo próprio pai para que este consiga obter a vitória na guerra de Tróia. Esta simboliza o sacrifício máximo, que à posteriori se revela infrutífero.
20.11.07
O Recruta
“Nada é o que parece” é o lema de um agente veterano da CIA, interpretado por Al Pacino, responsável por seleccionar e formar novos agentes. Colin Farrel é um desses agentes que estabelece com ele uma relação de confiança. E é com base nessa confiança que o veterano o vai enredar num jogo de rato e do gato para proveito próprio.
O filme não é inovador, mas é eficaz na forma como o argumento é estruturado e a edição é escorreita. As personagens são estereotipadas, mas ainda assim bem desenvolvidas e com uma boa prestação por parte dos seus interpretes.
19.11.07
Absolutos novatos
há pouco a levar
sou um absoluto novato
mas absolutamente são
enquanto estivermos juntos
o resto pode ir pró inferno
amo-te absolutamente
mas somos novatos absolutos
de olhos completamente abertos
e ainda assim nervosos
Poder voar sobre as montanhas
Poder rir no oceano
como nos filmes
Não há razão
Para sentir todos os momentos difíceis
Para estabelecer limites
É absolutamente verdade
Nada que não ultrapassemos
Somos novatos absolutos
Com pouco a arriscar
Enquanto continuares a sorrir
Não preciso de mais nada
Amo-te absolutamente
Mas somos novatos absolutos
Mas se o meu amor for o teu amor
Conseguiremos com certeza
Se a nossa canção de amor
Poder voar sobre montanhas
Poder navegar sobre as mágoas
Como nos filmes
Se for necessário
Sentir os tempos difíceis
E definir limites
É absolutamente verdade
Absolute Beginners, David Bowie
18.11.07
Michael Palin e a Nova Europa #2
Curiosidades:
17.11.07
Altos Voos
15.11.07
Meu amor
Era de noite
E partiste-me
Tomaste rumo
No escuro imenso
Que era apenas noite
E se tornou o meu esperar
Era de noite
e partiste-me
estilhaçaste
o meu ser inteiro
sou apenas pedaços
que não espero recolher
Era de noite
E partiste-me
Cerro os olhos
E retenho-te
Na noite contínua
Que os meus olhos encerram.
14.11.07
Workshop Semântico #9
Exercício 1
Para honrar a tradição patronímica, Georg coartou as suas aspirações e tornou-se janízaro.
Exercício 2
Enquanto janízaro, Georg tinha o poder de coartar os movimentos inclusive do seu sultão. Raras eram as pessoas que o podiam fazer. Ele gostava de acreditar que de algum modo podia diminuir as acções do déspota e assim fazer jus ao seu patronímico que significava o justo.
13.11.07
Finding Forrester
O filme acompanha a inesperada amizade entre um escritor eremita já de alguma idade e um adolescente e promissor escritor. O Ansião escritor publicou apenas um livro na sua juventude que depressa se tornou um clássico da literatura norte-americana, tendo posteriormente continuado a escrever mas optado por não publicar mais nada. Sem o saber, o jovem trava conhecimento com aquele que julga apenas ser um excêntrico vizinho amante de literatura. Entre os dois desenvolve-se assim uma amizade em que o Ansião vai treinando as capacidades do jovem, aumentando o potencial deste.
Pontilhado por uma série de clichés, pelo meio ficam dois concelhos para quem envereda pelas lides da escrita:
- só há uma maneira de escrever, escrevendo.
- o primeiro rascunho faz-se com o coração, o segundo com a razão.
12.11.07
11.11.07
Palavras # 41 a 43
janízaro - s. m., soldado turco que fazia parte da guarda do sultão; fig., guarda-costas ou satélite de uma autoridade despótica.
coarctar - do Lat. coarctare, apertar, v. tr., restringir; limitar; estreitar; circunscrever estreitamente.
10.11.07
Gripe
9.11.07
8.11.07
Discorrer
Sonido, off. Remela. Chinelos, luz, sanita, papel, autoclismo. (censurado) rádio, leite, pão, conduto. Tv. Esquentador. Água fria morna quente, champoo, sabonete, esponja, roupão, toalha. Cuecas, sutiã, creme hidratante, calças/saia, desodorizante, camisola, meias, sapatos/ténis. Creme alisante, desembaraçar, pentear. Mala carteira Multibanco chave telemóvel. Saco do lixo, contentor. Montra, montra. Loja, cestinho, colocar, caixa, pagar. Casa, guardar. Cama, puxar, esticar, dobrar, ajeitar, aspirador, vai frente, vem trás, zumbido. Pano, brilho. Roupa branca/escura, máquina, detergente, botão, roda roda. Ferro tomada, quente, vai, vem, direito franzido vinco folho. Tacho, cebola, azeite alho, dourar, carne/peixe, espera, massa/batata, envolve, molho. Prato faca garfo copo guardanapo. Água, detergente, escoador. Mala carteira dinheiro chaves, casaco. Comboio, correr/esperar, entrar, sentar, sair. Café. Recados. Telefone fax mail telefone fax fax ofício erro refazer ordens exigências impasses contradições indecisões registos contas cálculos previsões intromissões pesquisas redacções lufa-lufa. Mala carteira telemóvel chaves, casaco. Comboio, esperar, entrar, sentar, sair. Almoço: micro-ondas. Prato faca garfo copo, guardanapo. Pilha. Tv/livro. Pijama. Vazio. Lençóis, edredão. Escuro.
7.11.07
A Inveja em mim
Não invejo toda a gente: gosto de festejar e partilhar as vitórias e as conquistas muito desejadas dos meus amigos. Mas custa-me imenso que algumas pessoas tenham coisas e estejam em situações que olho e questiono: como é que conseguem. Como é que conseguem ter a vida que têm e há tanta gente que se esforça e não o consegue alcançar.
Há pessoas que têm lugares e trabalhos que não se percebe como os conseguem atingir e depois manter. E talvez o que inveje nessas pessoas não seja a sua posição mas sim a sua capacidade para o atingir.
Como é que a cabeça dessas pessoas funciona, como é que agem, o que é que as move? Como é a sua esperteza? É isso que me intriga e que verdadeiramente cobiço nos outros6.11.07
5.11.07
Lista de Desejos
Desejo ser um sacrifício e continuar a viver.
Desejo ser um ornamento sentimental que pendures
Na árvore de Natal, Desejo ser a estrela no seu topo,
Desejo ser a prova
Desejo ser a base de cinquenta milhões de mãos levantadas em direcção ao céu.
Desejo ser tão afortunado, tão afortunado como eu.
Desejo ser mensageiro e que todas as notícias sejam boas.
Desejo ser a lua cheia reflectida no capô de um Camaro.
Desejo ser a recordação onde guardas a chave de casa.
Desejo ser o travão do qual dependes.
Desejo ser o verbo confiar e nunca te desapontar.
Desejo, Desejo, desejo, Desejo,
Bem, acho que nunca acaba.
4.11.07
Michael Palin e a Nova Europa
PS: Quando for grande, quero viajar assim pelo mundo como o Michael Palin.
3.11.07
Inveja - Mal Secreto, Zuenir Ventura
Em comparação com os outros títulos da colecção, a diferença maior é que este não é apenas uma ficção. Ou melhor, para lá da ficção ou não, assume-se como um relato de uma viagem sentimental. É o relato da descoberta de um sentimento recôndito e inconfessável. Um mal secreto. Acompanhamos a pesquisa feita em torno do tema: as pessoas ouvidas, os livros lidos, os conceitos apreendidos, alguns exemplos e um case study. Aparentemente ficcional, ou talvez não.
É um livro interessante pois nos leva a pensar no tema e a avaliar até que ponto ou em que aspectos do nosso quotidiano a inveja nos suga grande parte da nossa energia e vitalidade.
2.11.07
Procurei o meu nome nas linhas do jornal.
Queria assim saber novas da minha vida.
Algum qualquer acontecimento que me tivesse passado despercebido com o andar dos dias.
Nada.
Passei até os olhos pela necrologia.
Quem sabe a minha morte seria notícia.
Nada.
Quer dizer que ainda vivo?
Procurei procurei procurei
Estava ausente.
Não encontrei qualquer informação.
Onde ando?
Que faço?
Alguém me diz?
1.11.07
The Deep End of the Ocean
Este filme retrata o desespero de uma família a quem desaparece um filho de três anos e posteriormente o … quando este é reencontrado. À luz de alguns últimos casos bastante mediáticos – Maddie e Esmeralda – é interessante observar o desenrolar do enredo e o desenvolvimento dos personagens dos pais, pois parece ser uma conjunção das duas situações, em períodos diferentes.
Primeiro, há a situação do desaparecimento. Numa reunião de antigos colegas de escola num hotel, uma mãe perde os filhos de 3 e 4 anos de vista por momentos. É o suficiente para que o mais novo desapareça. Começam-se a tomar as primeiras medidas: alerta-se toda a gente presente, que se empenha em encontrar uma criança que primeiro se julga apenas escondida. O tempo passa e surge a polícia que assume as buscas. Há o fantasma das 5 horas pós desaparecimento, o tempo que os especialistas determinam como crucial, pois é nesse espaço de tempo que usualmente ocorrem abusos sexuais ou homicídios. Há o arrastar das horas, as dúvidas, as culpas, as reacções, as desconfianças dos pais, da família, da polícia. Há o lidar com a perda, o questionar até quando se justifica continuar a busca, se há mesmo um período para se terminar, como se refaz uma vida quotidiana depois de uma perda deste género. São tudo aspectos que, embora merecessem uma análise mais profunda, são tratados com dignidade e sem uma resposta cabal do que seria o mais correcto.
Depois há o segundo desafio, quando nove anos depois a família, por mero acaso, reencontra o filho e o tenta recuperar. Para a policia é o perceber o que correu mal na investigação, para a família é a integração daquele membro tão ansiado mas que é simultaneamente um estranho, é o restabelecer laços que se reconhecem racional mas não emocionalmente, é o lidar com a família de criação e também com a dor da sua perda actual, é a emersão de vários sentimentos como a culpa, a redefinição de expectativas e a aceitação da nova situação.
É um filme bastante interessante e infelizmente bastante actual. E um ponto de partida de reflexão.