Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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8.5.09

JB – Parte da minha história I

Durante a faculdade tive uma paixão não muito secreta, nem invulgar. Como tantas outras jovens ainda a descobrir o mundo, deixei-me encantar por um professor. Dir-se-ia mesmo que é um clássico: quem nunca teve uma qualquer paixoneta como esta?

A minha foi bastante singela. Não passou de alguns suspiros disfarçados, mas penso que adivinhados por ele. Nunca me fez um comentário que o demonstrasse, mas, observando o passado com o olhar da experiência, vejo bem que não consegui ser o quão discreta desejava ser. Ingenuidades.

Como já disse, ele nunca fez qualquer tipo de comentário, nem eu. Aliás, o facto de ostentar uma aliança no anelar esquerdo e utilizar frequentemente exemplos com histórias dos filhos era para mim motivo mais que suficiente para nada tentar. Mas como todos já sabemos, qualquer paixoneta não concretizada deixa em nós um rasto que perdura, mesmo que outros amores ocorram.

Há uns meses tive de ir à faculdade para pedir um novo certificado de habilitações. Aproveitei para refazer alguns dos percursos de então. Constatei uma série de mudanças: algumas obras de beneficiação, algumas ampliações, mudanças de departamentos. Mesmo sendo o lugar onde passei 4 anos, esses lugar e tempo parecem muito longínquos: numa outra vida.

Aproveitei para almoçar na Casa da Micas, o nosso poiso habitual após as aulas. Também está diferente, mas continua ainda um poiso para a malta. Havia dias em que passávamos lá mais tempo do que nas próprias aulas. Não sei mesmo como nunca fomos convidados a sair.

Estava já sentada quando ele entrou e olhou em redor à procura de um lugar para se sentar também. Foi uma sensação estranha revê-lo. Mesmo sem o intenso remoinho no estômago de há anos, senti à mesmo um aperto instantâneo, um reflexo condicionado reminiscente.

Viu-me e parou uns segundos a olhar-me. A tentar buscar na sua mente a memória de mim. Sorri.

- olá professor!
- Olá, então por aqui? Há muito que não a via.
- É verdade. Tive de vir à secretaria e aproveitei para almoçar. Não me quer fazer companhia? A não ser que tenha alguma coisa marcada, claro. Não quero atrapalhar.
- Não atrapalha nada. Tenho imenso gosto em almoçar consigo. Já lá vai muito tempo, quanto ao certo?
- A brincar, a brincar, 10 anos, professor.
- Por favor, não me chame professor, afinal já não sou seu professor.
- É do hábito.
- Uma vez professor, sempre professor. Não há volta a dar. Não há aluno meu que não me trate por professor. Até eu quando encontro os meus não consigo evitar.
- Acredito.
- Então, o que é feito de si. É sempre bom saber por onde andam os nossos alunos.

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