- já decidiste?
- Decidi o quê?
- Se vamos para a cama.
- Ainda agora chegamos.
- Sim, mas mesmo antes sabias que era uma carta na mesa no nosso encontro. Resta saber se o queres levar adiante.
- Isso é que é ser frontal.
- Nas palavras que trocámos, afirmaste que não gostavas de lamechices desnecessárias cujo único intuito eram levar-te para a cama.
- É verdade.
- Eu também não gosto de desperdiçar palavras.
- Dá-me mais um pouco. Acho que afinal não estou tão preparada como julgava.
- Mas admites que era essa a intenção?
- Não vale a pena negar. Somos os dois adultos o suficiente para saber que foi isso que nos trouxe aqui.
- Mas…
- Mas é mais fácil planear do que concretizar.
- Há sempre de ter em conta os imponderáveis, não é verdade?
- Sim, chamemos-lhe isso, imponderáveis.
- Podias achar que não havia química. Ou simplesmente descobrir que não é isto que queres.
- Tudo isso eram cartas em aberto.
- E já não são?
- Mais ou menos.
- Mais ou menos?
- Há uma parte de mim que quer avançar sem pensar. E há outra que não consegue relaxar e desligar.
- Então não há nada de errado comigo?
- Não. Pelo menos à primeira vista. Devo preocupar-me com algo?
- Acho que não. Não sou mais, nem menos do que as outras pessoas: um tanto teimoso, um tanto impaciente, um tanto chato, etc., mas acho que a minha ruindade se fica por aí.
- Menos mal.
- Não tens de decidi-lo agora, nem hoje.
- Acho que se não o fizer hoje, então não terei coragem para o fazer mais tarde.
- Não tens de o fazer nunca.
- Oh meu Deus. Talvez seja esse o problema.
- O problema?
- Já não o faço há tanto tempo que não me sinto preparada, mas também me parece que se deixar passar a oportunidade, vai demorar cada vez mais para que o volte a fazer.
- Há quanto tempo?
- Demasiado.
- Não acredito que não tenhas tido oportunidades.
- Algumas. Vontade física ou psicológica é que nem por isso. Surpreendi-te?
- Não, mas digamos que fiquei curioso.