Fui afastando a poeira pouco a pouco, mas era ainda difícil decifrar o que exactamente se escondia atrás dela. Com a poeira maior retiradas, mudei de escova e minuciosamente fui descobrindo símbolo a símbolo sem ligar muito aos seus significados.
Ainda não era o momento para isso.
Parecia, no entanto, que estes reportavam a uma forma muito rudimentar de escrita hierática. Mas cada coisa a seu tempo.
Foram ainda várias horas de trabalho para limpar todo o burilado da pedra e revelar toda a beleza daquele rendilhado ainda secreto para mim.
Fiz uma pausa merecida. Bebi um chá e fiz uns exercícios de descontracção para os músculos das costas. Se o trabalho tinha sido lento e minucioso até ao momento, ainda seria mais daqui para a frente.
Até agora o cansaço era só físico, o verdadeiro desafio estava prestes a começar. Ponderei inicia-lo no dia seguinte. Descansar por uma noite mais o corpo e a mente e levantar-me de manha com o dia a clarear e começar com as baterias recarregadas e com a mente clara. Afinal, não seria uma noite que a atrasar o trabalho.
Então, brindei-me com uma noite relaxante antes da decifração. Poderia ser a última nos próximos tempos.
Pus a música a tocar e deixar as notas de jazz deambular por toda a casa. Escolhi uma garrafa de vinho de 75 e levei para junto da banheira que enchi e perfumei com sais. Despi-me e mergulhei no líquido morno que me esvaziou a mente e limpou quaisquer resquícios de pó na pele. Deixei-me ficar até a água esfriar, mas sai antes que se tornasse desagradável. Fui deglutindo o meu vinho e retendo o mais possível o seu aroma e sabor na minha memória sensorial, a que iria recorrer em momentos menos calmos e pacíficos. E como aquelas memórias iriam ser necessárias no futuro…
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