Normalmente quando compro um livro não o leio logo de seguida. há casos até em que se passam anos entre a compra e a leitura. Seja porque entretanto se compraram outros ou porque simplesmente o entusiasmo se esbate. Aconteceu isso com o primeiro livro do Agualusa que li, Um Estranho em Goa. Quando o fiz gostei tanto que o pensamento foi: perdi tanto tempo a conhecer o autor. E foi a partir daí que o Agualusa se começou a delinear como um autor de eleição.
Entre esse e este As mulheres passaram-se alguns títulos e cada um deles foi cimentando a preferência e também elevando as expectativas. Assim, aquando do lançamento deste último livro a minha expectativa e desejo de o ler eram bastantes. Tanto, que decidi inclusive ir ao lançamento do mesmo na Casa Fernando Pessoa. Mas tendo sido o lançamento tão mediático e tão cheio de gente, confesso que a noite me deixou esgotada e com uma sensação de peso sempre que tocava no livro para iniciar a sua leitura. Só cerca de um mês depois consegui pegar nele provida já de uma leveza necessária para receber a sua história.
Como já vem sendo habitual, este livro gira em torno da memória e da sua construção. Ou mais precisamente das várias memórias que gradualmente vão desconstruindo o que se julga um passado verdadeiro. Não para acabar por substitui-lo, mas apenas para contribuir com mais uma série de novas memórias, todas elas tão verdadeiras quanto o desejam e assumem os seus fazedores e interlocutores, tanto que sem se anularem se completam ou complementam.
Vemos que nem tudo o que prece é, mas o que parece não deixa de ser. É-o também. É uma vertente dessa memória, dessa verdade que não há-de nunca ser una, e que lhe confere maior riqueza e autenticidade. E em cada memória, em cada verdade há ua lição e amor, de perdão e de aceitação. Não há julgamento possível para a acção das pessoas, cada um faz o que julga melhor para si e para os demais e a nós cabe-nos compreender e aceitar, se conseguirmos.
Interessante também de observar neste livro é o percurso paralelo ao percurso ficcional e que lhe serve de base.
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