Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

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9.11.14

O Almogávar

Ao aproximar-se de qualquer aldeia ou lugarejo, as gentes gritavam a anunciar:
- Almogávar! Almogávar!
A sua tez mais escura fazia-o passar por árabe e nunca se preocupou em desfazer equívocos. Era mais rentável para o negócio julgarem-lhe esta a proveniência do que saberem a sua ascendência romani. Com um árabe pode-se garrular e discutir preços, mas com um cigano todas as cautelas são poucas para não se ser roubado.
Não levava a mal este receio. Em tantos anos de estrada já vira tanta coisa que pouco ou nada o surpreendia. Sobretudo quem roubava quem.
Fazia, sobretudo, o circuito interior do sul, paralelo ao mar, mas não à sua beira. , onde qualquer mercador chegava facilmente. Os seus compradores estavam nos lugares mais pequenos e de fora dos caminhos mais calcorreados, onde qualquer metro de tecido colorido e panela brilhante faziam as delicias das mulheres e o tabaco fresco e a lâmina virgem de uma navalha a dos homens. Pequenos lugarejos sem epónimo de protecção em que o tempo parava e os homens não envelheciam. Sucediam-se em gerações que em  gestos iguais amanham a terra, criam meia dúzia de animais e alimentam outras tantas bocas e, por fim, se quedam no cemitério da aldeia.

Por isso, tanto lhe fazia se lhe chamavam Almogávar. Sorria porque se sabia errante apenas de poiso.

Beach Grove, Gustav Klimt

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