Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

15.1.15

Ler #136 (II)

Jo Nesbo. Texto de Isabel Lucas. Este conceituado autor nórdico de literatura policial procura explorar nos seus livros o conceito de que a capacidade de matar é fundamental para qualquer pessoa saudável. A existência humana é uma constante luta para vencer e quem não conseguir matar, não tem direito de existir. Sendo que matar é, afinal, apenas apressar o inevitável. E a insanidade é um retiro vital num lugar onde nos podemos entrincheirar e retemperar forças.

Abel Barros Baptista. Crónica. ABB constata que o património, se existe, é reorganizado instavelmente pelo presente. Todos os dias morrem inexoravelmente vários livros, não apenas novos, mas também antigos.

Patrick Mondiano. Texto de Bruno Vieira Amaral. BVA faz uma breve análise ao mais recente laureado com o prémio nobel da literatura e salienta diversas características da sua obra, como a reflexão sobre a juventude e a tristeza que a sua não vivência induz nos personagens, traduzindo-se posteriormente numa esperança adulta no futuro, inerente à maturidade adquirida. O apego ao passado é a única forma de se refazer a identidade em tempos instáveis e em constante mutação. O autor escreve para definir uma identidade fracturada pela ausência dos pais.

14.1.15

Dora Bruder, Patrick Modiano

O escritor, que não se percebe até que ponto é o próprio Mondiano, encontra um recorte de jornal datado de 1942. Este contem um aviso que dá conta do desaparecimento de uma jovem de origem judia. Ao longo das décadas seguintes, a procura do paradeiro desta jovem, Dora Bruder, e a reconstituição do que teria sido a sua vida e a dos seus pais em plena ocupação nazi de Paris, torna-se uma súbtil obsessão. Esta tentativa de reconstituição do passado é uma mera tentativa de tentar reconstituir vidas de pessoas reais, das quais apenas sobrevivem uns quantos registos oficiais. Uma tentativa de percepção de motivações, caracteres e decisões sobre os quais não há quaisquer indícios, num contexto espácio-temporal complexo e cujo fim é, apesar de todas as esperanças, expectável.

Título: Dora Bruder; Autor: Patrick Modiano; Tradução: G. Cascais Franco; Editora: Edições Asa; Colecção: Pequenos Prazeres; Edição: 2ª; Local: Porto; Impressão: Edições Asa; ano: 2000; ISBN: 972-665-069-X; Localização: BMS 64169 S

13.1.15

Caderno de esquissos

Dei-me hoje conta que esta poderá ser uma das minhas últimas pausas usufruída no jardim da Vigia, em S. Pedro de Penaferrim. Como o sol brilha e as previsões indicam aguaceiros nos próximos dias, resolvi aproveitar o momento e registá-lo de um modo diferente. Pena não conseguir registar também o canto dos pássaros.
Esta é a visão que a minha parca capacidade técnica deixa transparecer sobre a serra de Sintra. Foi um momento retemperador e a que há muito não me dedicava. Percebi que a pausa possibilitada pelo desenho me tem feito falta e resolvi que vou iniciar um caderno de esquissos para registar pequenos e grandes pormenores que me rodeiam. Far-me-á bem.

Hoje, o registo ficou no livro Dora Bruder, de Patrick Modiano, que será devolvido à Biblioteca de Sintra nos próximos dias. Um presente diferente para o próximo leitor.
 
Adelaide Bernardo, 12-01-2015

12.1.15

Pompeia (2014)

A descoberta arqueológica da cidade que a erupção do Vesúvio vitimou, e a percepção dos momentos de dor que antecederam à morte dos milhares de habitantes de Pompeia sempre instigou o imaginário de estudiosos e criadores. Reza a lenda que entre esses corpos, estava um casal abraçado. Quem seriam? Dois amantes? Qual seria a sua história? Contar-nos uma dessas histórias é o propósito desta nova produção inspirada sobre o cataclismo que se abateu sobre a cidade romana. História: boy meets girl, que neste caso são um escravo gladiador e uma herdeira aristocrática. Cenário: o projecto paterno de renovação da cidade (assim, tipo Polis). Ameaça: a aprovação do projecto necessita do apoio de um senador romano, que, espanta-se, quer conquistar a bela donzela à força. Resultado: um filme sem surpresas, com algumas incongruências geográficas, apesar dos efeitos visuais jeitosos, e servido por um elenco despropositado. Há filmes melhores para se passar duas horas.

Título original: Pompeii * Realização: Paul W.S. Anderson * Argumento:  Janet Scott Batchler, Lee Batchler* Elenco: Kit HaringtonEmily BrowningKiefer Sutherland, Carrie-Anne Moss

11.1.15

O broche de jaspe indicia o cargo de comitre que lhe foi imposto por firmão pele xeque Abdullah al Ibrahim.

10.1.15

Ler #136 (I)

António Lobo Antunes. Entrevista de Francisco José Viegas. ALA não é um autor que me suscite interesse, mas, pelas suas entrevistas, respeito a sua lucidez sobre a escrita e o seu eventual propósito, bem como a sua forma de criatividade. “Bolas, a função da literatura é esta: estar ali com uma mão apertada na nossa.”

Salman Rushdie. Texto sobre a leitura. SR salienta o poder do leitor como elemento finalizador de uma obra. Cada livro é único na mente dos seus leitores e talvez por isso as comunidades de leitores nos dão essa mais valia: descobrir que outras leituras emergem de um mesmo texto. Partilho igualmente a sua perspectiva do vulgar prazer de ler um livro atentamente e ver o que ele nos tem a dizer, de descobrirmos o nosso livro dentro do livro e de decidirmos, nós próprios, enquanto leitores, o que pensamos dele. SR chama também a atenção para a deturpação da linguagem que possibilita a criação da tirania. A modernidade apresenta-se com uma linguagem de igualdade entre géneros e de legitimidade dos governos seculares afastados da religião. No entanto, deparamo-nos com uma juventude revoltada pelas suas expectativas goradas, o que origina extremismos que obstem a validação das suas ideias a partir de um deus fictício.

Michael Cunningham. Entrevista de Bruno Vieira Amaral. MC apresenta a ideia de uma diferença entre talento (natural) e concentração artística, que é a vontade de escrever o melhor que se consegue. O que me faz pensar se não será este o caso de muitos dos que pretendem singrar através da escrita. Salienta ainda que “a única certeza que é válida para a ficção é que não há regras.” Relativamente à proliferação de cursos de escrita criativa, defende que a sua mais valia não é formar escritores, mas sim bons leitores, que percebem como é que funcionam os mecanismos da escrita. E que é uma ideia que também me apraz, pois se o bicho da escrita existe, não quer necessariamente dizer que ele se cumpra, mas, com certeza, que nos faz melhores leitores, com uma capacidade analítica acima da média.

9.1.15

Balada do Guarda-Livros da Penha de França, Margarida Vale de Gato

Isto são versos datados.
De gancho, engajados, démodés.
Isto é um poema de época.
É uma letra de intervenção do tempo
em que uma biblioteca tinha um palácio.
Tínhamos mapas antigos. Tínhamos
cartazes de anúncios, tínhamos capas de peles
de animais, tínhamos livros de vestir 
bonecas e tínhamos volumes pequeninos,
com 100 anos para lá de velhos,
havia no palácio pessoas que estudavam os livros
e não eram os reis, havia pessoas
que tratavam dos livros e não eram os aios.

Os livros podem sempre estragar-se
com a humidade e mais catástrofes.
Os bichos comem os livros com certa
facilidade, fazem carreiros
dentro do miolo, são do tamanho de uma unha,
se fossem maiores comiam um livro ao dia.
E conforme os livros eles vão ficar sujos. 
Temos de evitar. Com mau tempo os livros 
estragam-se e empolam, os livros como
a comida não podem ficar ao Sol. 

De repente, um despacho, ninguém pergunta.
De um dia para o outro uma alínea
e tropeça o palácio debaixo dos sapatos
de pelica da presidente da junta
que logo tratou de se descalçar.
Pôs-se à vontade e ligou ao património
para mandar vir obras. — E os livros?
indagaram as pessoas dos computadores
que chamam os livros pelos elevadores.
— Os livros fazem, claro, parte das obras.
proferiu a senhora vereadora, que dormitara
ao consultar a comissão na hora do chá.
Arranjamos-lhes uma cave aconchegada.
— E a humidade?
— A humidade é o menos — precaveu a assessora
da divisão da direção — fazemos-lhes um terraço
para enxugarem ao relento.
— E os leitores?
— Evidentemente — triunfou o relator
admirando o relatório — aqui está o leitor
tipo de perfil. Aqui têm a planta
da auditório polivalente.

A coleção de História de velino é que ficou deslocada.
A cidade atual dispensa Tito Lívio.
Não se pode tomar chá nem café perto dos livros,
os livros só servem para o passado
e para o imaginário. Não há impacto 
societal entre livros e funcionários.

O guarda-livros, assim retiradas as espécies
das estantes, assim dos arquivos as fichas, assim
escolhidas para lixo as pouco queridas,
levantando nos aros as pregas do nariz, medita: 
Pode haver uma praga que justifica pôr uma pastilha
para dar cabo dos bichos ou ser juiz de mim.

8.1.15

Palavras #561 a 563

funâmbulo – s. m. 1. Aquele que anda ou dança em corda bamba. = VOLATIM 2. [Figurado]  Aquele que muda facilmente de opinião ou de partido.
maroma - |ô| s. f. 1. Corda grossa. 2. Corda tensa, presa em dois pontos, na qual os funâmbulos fazem exercícios de equilibrismo. = CORDA BAMBA
durindana - (italiano durindana [nome da espada de Rolando, recebida de Carlos Magno]) s. f. Espada grande. = ESPADAGÃO

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo

6.1.15

Barroco Tropical, J. E. Agualusa

Bartolomeu, escritor e documentarista, testemunha, juntamente com a sua amante e renomada cantora, à queda de um corpo de mulher vindo do céu nocturno. Ao tentar desvendar esse mistério vê-se envolvido numa teia de relações e interesses financeiros e de abuso do poder que ascendem a altos meandros da sociedade. A acção decorre em Luanda de 2020 e nela se cruzam as mais variadas personagens, cuja estranheza e subtileza Agualusa já nos habituou. Destas, destacam-se a figura de um anjo negro e os habitantes do estranho instituto dirigido por Tata Ambroise. 

5.1.15

Miúda Insuportável (2008)

Uma adolescente problemática e mimada é enviada para um colégio interno britânico, onde vem a descobrir que foi frequentado pela mãe, entretanto falecida. Aí, descobre-se e encontra o valor da amizade. É uma história igual a tantas outras destinadas ao público juvenil, que o único facto digno de destaque é reunir elementos de 2º geração de famílias de Hollywood, a saber: Lucy Dahl, Emma Roberts e a malograda Natasha Richardson.


Título original: Wild Child * Realização: Nick Moore * Argumento: Lucy Dahl * Elenco: Emma Roberts, Aidan Quinn, Natasha Richardson, Georgia King, Juno Temple

4.1.15

A caterva olha atónita. Não é o habitual folião e as suas já conhecidas patetices. As palavras hoje proferidas não têm tom de brincadeira e deixam o coração carregado. Não é suposto. O suposto é rirem a bom rir e assim não sentir a monstruosidade do verdadeiro espectáculo que se seguirá: a decapitação de uns quantos culpados de miséria, má fortuna e descaso humano. O entremez hoje não é o heteróclito que devia ser. Mas mais não se podia esperar. Hoje, um dos decapitados será o folião. 

3.1.15

Palavras #558 a 560

inumar - (latim inhumo, -are, de in, em + humus, -i, solo, terra) v. t. Pôr na terra ou em sepultura. = ENTERRAR, SEPULTAR  DESENTERRAR, EXUMAR
azebre - |ê| (árabe aç-çibar, aloés, suco de planta amarga) s. m. 1. [Botânica]  Aloés. 2. Cor esverdeada que se forma em superfícies de cobre ou de latão. = AZINHAVRE, VERDETE 3. [Popular]  Finura, malícia, gaiatice.
alijar - (francês alléger, do latim allevio, -are, aligeirar, tornar leve) v. int. 1. [Marinha]  Tirar ou deitar fora, para aliviar o navio (ex.: alijar carga). V. t. 2. Tornar mais leve, removendo peso. = ALIVIAR 3. [Figurado]  Declinar de si (ex.: alijar vícios). = AFASTAR, APARTAR, DESVIAR v. t. e pron. 4. [Figurado] Desembaraçar(-se) de (ex.: alijar um peso da consciência; alijou-se das responsabilidades). = LIVRAR

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo

31.12.14

2015 de A a Z

Amarelo. A cor do meu mui esperado novo telemóvel.
Beloved. Uma das leituras do ano.
Clube de Leitura. Momentos de higienização mental.
Desculpas. Ano de reflexão, consciencialização e acção contra as muitas desculpas que utilizo para não avançar na concretização dos meus sonhos.
Efemérides. Momento de reflectir sobre a minha experiência de 10 anos na blogosfera.
Flores. Uma surpresa no meu aniversário.
Iogurte grego. O vício do ano.
Gamification. Aprendizagem de um conceito que afinal não me era novo, nem estranho.
Luto. Finalmente, o momento de apaziguamento.
Mudança. Dei alguns pontapés de saída, resta-me aguardar pela sua finalização.
Noiva prometida. Um discreto filme que me tocou.
Oscar Isaac. A mais recente crush cinematográfica.
Primo Levi. O retorno à leitura de uma obra que fica para a vida.
Sobrinhos. Os meus amores de sempre, com espaço para mais um.
True detective. a série do ano.
Viagens. Novos locais, pouco tempo para os conhecer a fundo.
Workshop semântico. Um exercício de aprofundamento de escrita.

ZZZ. A maior necessidade a colmatar neste final de ano.

30.12.14

Palavras #555 a 557

imarcescível adj. dois gén. 1. Que não murcha. 2. Sempre viçoso. 3. Imperecível, eterno.
cantárida s. f. [Entomologia]  Género de insectos coleópteros que, reduzidos a , têm numerosas aplicações medicinais. = CANTÁRIDE
entropia - (francês entropie) s. f. 1. [Física]  Medida da desordem de um sistema. 2. [Física]  Medida da quantidade de energia que não é convertida em trabalho mecânico. 3. Desordem ou imprevisibilidade.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/