Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois

Ler Ferreira de Castro 40 Anos Depois
Mais informações: www.cm-sintra.pt

30.11.14

Zé Besteiro

De modos simples e uns quantos monossílabos, Zé Besteiro era, para as gentes de fora, a azémola da aldeia. Nada lhe importavam opiniões desconhecidas, ou sequer conhecidas. Os homens são bichos cruéis e por isso escolhera a companhia dos animais que conduzia de pasto em pasto.
Na aldeia todos os sabiam avesso ao contacto humano, mas não havia importunos de parte a parte. Cada pessoa tinha o seu lugar no ecossistema do lugar respeitado mutuamente. Ainda assim, o Chico da Taberna tinha sempre uma taça de morrão à espera de quando o Zé Besteiro descesse à aldeia após dias por montes e vales. Zé ameaçava um sorriso e agradecia com um quase imperceptível aceno de cabeça.
Não se lhe conheciam nem palavras nem família. Tudo quanto era atinente ao seu passado tinha, na melhor das hipóteses, desaparecido com o velho pároco em segredo de confissão.

Enzzok

29.11.14

#11 – Não sou inteligente o suficiente

Durante muito tempo considerei-me inferior a muitas pessoas que conhecia. Reconhecia-lhes uma inteligência que hoje já não reconheço. Talvez por isso, acho que fui muito (demasiado) seguidista. Se, por um lado, era um papel muito confortável, por outro, passou a levar-me a locais e estados de alma indesejados. Foi quando percebi que o caminho dos outros não me servia. Só um caminho por mim trilhado e desbravado me servia.
Trilhar o nosso caminho não é fácil. Os obstáculos começam a parecer demasiado grandes para a nossa capacidade de os contornar ou ultrapassar. Sentimo-nos sozinhos e incompreendidos, a remar contra a maré. Mas, no meio de tudo isto, há também uma certeza: sou a primeira pessoa a não poder duvidar de mim. Mesmo que não tenha o mesmo tio de inteligência e competência que reconheço noutros, tenho a minha e sou uma mais valia. Se não aqui, noutro lugar certamente.
Então, não é o caso de não ser suficientemente inteligente. É o caso de procurar e encontrar o lugar certo para colocar a minha inteligência em beneficio de todos.

Essa é hoje a minha demanda: procurar o lugar certo para que o meu tipo de inteligência se revele e floresça em prol de todos. O que revela que sou suficientemente inteligente para muito e para muitos. 


27.11.14

O jardim da Castro


Vivi grande parte da minha vida na Praceta Ferreira de Castro, em Agualva. Foi um óptimo lugar para se viver uma infância: tinha um parque infantil e um jardim. O parque, aquando do programa Polis, deu lugar a um estacionamento. O jardim foi perdendo ao longo da duas últimas décadas o esplendor de outrora, em que era o único jardim da freguesia e o cenário das tradicionais fotos de casamento.
A praceta foi habitada, na década de 60, por muito casais oriundos da migração do interior do pais, em busca de melhores condições de vida do que as que teriam na exploração dos pequenos terrenos agrícolas familiares. Aqui, cresceu uma geração de rapazes (eram quase 30), entre os quais os meus irmãos (nós, raparigas, éramos em menor número), que se reuniam nos seus bancos, sempre sob o olhar de uma qualquer vizinha. O jardim era um espaço familiar, vigiado (pelo olho de falcão da D. Ana e restantes vizinhos) e respeitado.
Mas as gerações crescem e vão à sua vida fora da praceta. Alguns vizinhos mudam-se, outros despedem-se desta vida. As casa recebem novos moradores. Moradores para quem a praceta é o local onde dormem e não o local onde os seus filhos crescem em comunidade na rua. Pessoas com outros valores que não o de vigiar um jardim que o descaso de uns, a falta de empenho de outros e o vandalismo de estranhos foi votando ao desleixo.
Que solução para este local? Muitos gostariam apenas de vê-lo transformado em mais lugares de estacionamento. Esquecem que o verde, uma vez perdido, nunca mais retorna. Outros, a velha guarda, querem o esplendor de há 45 anos. Desenganem-se. O tempo segue em frente e já nada será como era e há que perceber que a solução não pode passar só pela afectividade, que também não pode nem deve ser negligenciada pelos decisores. No entanto, é possível devolver a dignidade a este espaço.
Eu acredito na valorização deste espaço. Terá de ser um jardim renovado, mas diferente de outras décadas. Hoje, os valores e as prioridades são outros.
Hoje, as novas gerações crescem dentro de 4 paredes em frente aos computadores. As mães e avós trabalham a tempo inteiro. Isto é, se não estiverem à procura de um trabalho, o lhes ocupa igual tempo. Hoje, o medo da violência e represálias de uns quantos vândalos impede a resistência dos mais velhos. Hoje, os valores da cidadania são praticados mas só a nível das exigências e não no que está ao nosso alcance e à nossa frente: a preservação de um espaço que é de todos.
Sempre que retorno à praceta onde os meus pais se estabeleceram após o casamento, criaram três filhos e fizeram amizades de toda uma vida, fico triste com o estado do meu jardim. Tecnicamente, não sei quais as melhores soluções, mas sei que já todas foram apresentadas. O meu senso diz-me que a vigilância e cuidados regulares, a rega e a plantação apropriadas darão os seus frutos. Talvez demore ainda uns meses a ver os resultados desejados. Mas também acredito que um jardim cuidado possa fazer com que novas gerações voltem a sentir o afecto que todos sentimos.

Se mais não posso pedir, posso, no entanto, dar este testemunho. Peço a todos que lutem por este espaço que é de todos e para que este venha a ter um novo esplendor. Merece a freguesia e merecemos todos nós que aqui residimos e trabalhamos. 

26.11.14

À Segunda Não Me Escapas (2012)

Comédia romântica para promover uma das rainhas do género, Katherine Heigl, mas que não traz nada de novo ao género. Esta interpreta uma mulher que, para pagar uma dívida, aceita um trabalho temporário como caçadora de recompensas e tem como desafio capturar um ex-namorado que a deixou. Assim, aproveita para ajustar todas as contas.

Título original: One for the Money * Realização:  Julie Anne Robinson * Argumento: Stacy Sherman e Karen Ray * Elenco: Katherine Heigl, Jason O'Mara, Daniel Sunjata, john Leguizamo Debbie Reynolds, Debra Monk, Fisher Stevens

25.11.14

10 anos #12 (Nov. 2004)

Moebius
CSI. Há 10 anos, o CSI fazia as minhas delícias televisivas. Hoje, com tanto spin of, tanta temporada, e tanta nova série igualmente cativante, o interesse esbateu-se. No entanto, a série original (a única que se mantém) ainda consegue (com o seu misto de humor negro) entreter-me.
Live Aid. E assim se volveram mais 10 anos que testemunharam uma nova versão de Do They Know It’s Christmas, desta feita com as receitas a reverterem em prol do combate ao ébola. E o mundo parece estar (infelizmente) na mesma. 
Cats. Os musicais. Na altura, vi uns quantos. Hoje, a disponibilidade financeira não é a mesma. Até a disponibilidade para a própria música se alterou. No entanto, sinto falta de ouvir música nova, adequada aos novos momentos da minha vida. Embora, também aprecie recordar algumas das bandas sonoras da minha vida.

24.11.14

10 anos #11 (Out. 2004)

Registo de Leituras. As leituras desse mês foram latino-americanas. Mas o que, em relação à actualidade, me importa salientar é que apenas registava algumas das frases que me tocavam ou me davam novas perspectivas. No entanto, não expressava qualquer opinião sobre o que lia. Essa, ficava apenas para mim. Hoje, o meu registo de leituras evoluiu e, embora por vezes apenas superficialmente, procuro deixar uma impressão da leitura e do seu momento, bem como do seu eventual impacto. Quanto às frases que me cativam, essas acabam por ser registadas de uma outra forma, pois dão o mote para textos próprios, nos quais podem surgir truncadas, parafraseadas e, não raras as vezes, noutros contextos. 


23.11.14

Susana alarmou-se com a saliência que sentia desenvolver-se no seu interior e que criava no olhar dos outros a suspeita de uma gravidez. Seria impossível, uma vez que o seu útero há muito que fora vaticinado como maninho. Mas e se?
Num polvorinho mental, agendou uma consulta média. Em oposição à sua ansiedade, a Dr.ª Lurdes escutou calmamente as suas dúvidas, enquanto observava os registos do seu processo no ecrã do computador. Sabia que em medicina nada era impossível, já a improbabilidade era imensa. Sem verbalizar qualquer outra hipótese, solicitou que se deitasse na maca e iniciou o exame palpatório. A saliência era notória ao tacto, mas em nada compatível com as características de uma gravidez, o que já o provérbio defendia ser melhor que uma doença má. Não havia escapatória, foram prescritos exames complementares para despistar duvidas e orientar o rumo a seguir, caso necessário.

A realização da ecografia desfez qualquer dúvida quanto a uma possível gravidez. Agora, quanto à natureza da pequena mancha branca perfeitamente visível só depois de uma biopsia, e muita ansiedade, se veio a saber: uma inofensiva hidropisia no músculo abdominal. Requeria apenas uma breve mediação e novos exames complementares para aferir que estava sanada. 


22.11.14

Uma das linhas orientadoras do escotismo, tal como deveria ser da vida, é a liderança pelo exemplo. No meu caso, a dúvida é: como posso liderar, se não sou exemplo para ninguém. Não é que falhe tudo o que me é solicitado ou que os meus valores sejam errados. Alias, faço um grande esforço para agir em conformidade com os mesmos e que estes reflictam o tipo de pessoa que quero ser. Sendo um work in progress, serei talvez uma pessoa mediana e como tal não tenho a competência, nem a sabedoria para agregar as pessoas ao meu redor e com elas avançar em prol dum objectivo. Ou porque os nosso objectivos não são os mesmos.
Aprender fazendo é também outros dos lemas escotistas. Tenho aprendido imenso, mas não os conhecimentos práticos que deveria transmitir. A minha memória e capacidade intelectual sempre foram mais dadas a teorias, que sempre tive dificuldade em transpor para a prática. Por isso o escotismo me foi tão apelativo: pela sua componente prática. Esse constante desafio fez-me sair tantas vezes da minha zona de conforto. Tantas que me tenho sentido demasiadas vezes não numa zona de desafio, mas numa zona de desconforto. O que me fez ponderar e perceber a necessidade de me realinhar com os meus objectivos pessoais e reequilibrar os meus sentimentos.
A imagem que fica de mim é de alguém que fica aquém. Do que se espera de mim, do que espero de mim, da minha capacidade (que demorei muito tempo a aceitar que não está aqui) e da minha competência (que tenho noutras áreas). Sair pode não ser um exemplo, se for visto como uma desistência. Mas a verdade é que tem sido uma insistência sem resultados. Então, o que vou procurar é terminar este ciclo da minha vida com a maior dignidade possível, por respeito a mim e a todos os que comigo partilharam esta experiência.


20.11.14

Sobre decisões

Tomar decisões nunca me foi fácil. Tomar decisões significa escolher entre opções e eu sou por natureza uma conciliadora. Ou seja, porquê escolher se, com um pouco de boa vontade e astúcia, se pode ter um pouco de tudo.
O problema é que um pouco de tudo ou um pouco de algo não é o suficiente. Nunca nos dedicamos de corpo e alma a nada e acabamos por sentir que apenas andamos a apagar fogos, sempre extenuados desse esforço porque não tivemos o tempo ou a capacidade de perceber a sua eclosão e até prevenir. por vezes, só a dedicação sincera e de corpo e alma permite ver uma situação sob todos os ângulos e agir de acordo com as diversas, e necessárias, perspectivas.
Cada decisão implica uma abdicação e nós somos seres cumulativos. Queremos sempre mais. Nunca queremos perder e adiamos ao máximo as decisões que sabemos importantes.
Cada opção traz consigo um desconhecido com que receamos não saber lidar. Este receio impede-nos de tomar (quem sabe) as melhores decisões da nossa vida. Ou leva-nos a que outros decidam por nós.

A cada encruzilhada é importante ponderar: o que receio mais ao tomar esta decisão? Será o quê, o como, o quem, o onde, o quando, o efeito? Ao percebermos o que mais receamos podemos preparar-nos para o que, no final, serão apenas sombras esfumadas. E se o receio subsistir, avancemos então pelo maior deles. Os outros serão então, e apenas, meros passos no caminho.

Bruno Quinquet

19.11.14

Agentes Secundários (2012)

Johnny Depp ficou conhecido no final da década de 80 pela sua participação na série 21 jump Steet, que retratava uma equipa policial de combate à criminalidade juvenil. 25 anos depois, 21 Jump Steet regressa, mas aos grandes ecrãs e em tom de comédia-
Hill e Tatum são 2 polícias que recebem como castigo a missão de se infiltrar numa escola secundária para desmantelar uma rede local de tráfico de droga. Por meio de diversas peripécias e disparates, que incluem um cameo dos protagonistas da série original, lá acabam por levar a missão a bom porto. Sem poder comparar com o original, não me parece que esta adaptação traga algo de novo, sendo apenas mais um exemplo do silly bro movie.

Título original: 21 Jump Street * Realização: Phil Lord, Christopher Miller * Argumento:  Michael Bacall, Michael Bacall * Elenco: Jonah Hill, Channing Tatum, Ice Cube, Brie Larson, Dave Franco, Jake Johnson

18.11.14

10 anos #10 (Set. 2004)

Aborto. Como mulher consciente, a questão do aborto é algo que faz parte da minha vivência. Não porque o tenha feito, mas porque, a qualquer momento, posso deparar-me com essa possibilidade. E, sim, porque conhecemos sempre alguém que já o fez. Como já afirmei, o ideal é que nenhuma mulher tivesse em situação que implique tomar esta decisão. Mas não estamos num mundo ideal. Hoje, mais velha, mais ciente, sinto-me mais tranquila por a IVG (Interrupção Voluntária da Gravidez) ser legal. Pois, se há situações sociais complexas, ainda o seriam mais se o não fosse.
+ um Capitulo. Sempre escrevinhei pequenos textos e algumas pretensões poéticas em cadernos que apenas eu lia. Foram necessários 9 meses de blogue para que ousasse publicar textos da minha autoria. Olhando para alguns deles, julgo que resistem ao teste do tempo: possuem uma mensagem e/ou qualidade literária mínima. Deste modo, resolvi criar um novo separador intitulado Textos Escolhidos, que será, como o nome indica, um directório para estes textos que considero válidos.


17.11.14

10 anos #9 (Ago 2004)

Algo pior? Apesar de ainda não o ter experienciado, intuía-o. Há dores mais doidas. No entanto, as palavras (não) proferidas a alguém que nos deixa é uma mágoa difícil de dissipar. Até porque as ausências se tornam mais constantes. 

Cecilia Paredes

16.11.14

O vestido

O estatuto assim o exigia: teria de ser um vestido munificente. Rendas, cristais, cetim, seda. Sobre uma crinolina cujo respeitoso diâmetro parece necessitar de resistentes ovéns para se suster. 

Alexander McQueen

15.11.14

#119 @ 102 em 1002 - MU.SA

musa-logo-botA propósito da sessão inaugural da iniciativa Ler Ferreira de Castro 40 anos depois, fiz a minha primeira visita ao recém inaugurado MU.SA, Museu das Artes de Sintra. O museu situa-se no antigo edifício do Casino, que albergou durante anos a colecção Berardo e que, com a sua saída para o CCB em Lisboa, estava sem utilização, o que era um perfeito desperdício. A forma de rentabilizar o edifício e a sua história foi transformá-lo num espaço que disponibilizasse e igualmente rentabilizasse património artístico do município, tornando-o acessível ao grande público. O museu tem exposições permanentes, como a colecção Dórita Castelo Branco, temporária e alberga igualmente diversas iniciativas culturais, bem como a livraria municipal. Um espaço a visitar frequentemente para novas descobertas a cada oportunidade. 

13.11.14

Ler Ferreira de Castro 40 anos depois

A Câmara Municipal de Sintra vai assinalar os 40 anos da morte de Ferreira de Castro com encontros de vários escritores, cada um falando sobre uma obra específica do autor. A participação é gratuita e o primeiro encontro realiza-se no próximo dia 14 de novembro pelas, 19h00, no MU.SA – Museu das Artes de Sintra.
A obra castriana será assim, recordada e comentada por escritores de diferentes gerações, em encontros que se realizam entre novembro e abril do próximo ano no Museu Ferreira de Castro e no MU.SA – Museu das Artes de Sintra, sempre às 19h00. 
Ferreira de Castro, que está sepultado na Serra de Sintra, deixou ao povo desta vila – onde escreveu grande parte da sua obra – a maioria do seu espólio documental, que está na origem do Museu Ferreira de Castro.
 Calendário:
  • 14 novembro – Joana Bértholo, “Emigrantes”, no MU.SA – Museu das Artes de Sintra
  • 28 novembro  – João de Melo, “Eternidade”, no Museu Ferreira de Castro
  • 12 dezembro – Tiago Salazar, “Pequenos Mundos e Velhas Civilizações”
  • 16 janeiro – Manuel da Silva Ramos, “A Lã e a Neve”
  • 30 janeiro – Ana Margarida de Carvalho, “A Selva”
  • 13 fevereiro – Miguel Real, “A Experiência”
  • 20 fevereiro – Filomena Oliveira, “Sim, Uma Dúvida Basta”
  • 27 fevereiro – José Manuel Mendes, “A Curva da Estrada”
  • 13 março – Sérgio Luís de Carvalho, “O Instinto Supremo”
  • 20 março – Filomena Marona Beja, “A Tempestade”
  • 27 março– Bruno Vieira Amaral, “A Missão”
  • 10 abril – Cristina Leimart, “Os contos”
  • (data a confirmar) – Mário de Carvalho, “Os Fragmentos”
  • (data a confirmar) – Romana Petri, “Terra Fria”

Mais informação: www.cm-sintra.pt

12.11.14

O Que Se Espera Enquanto Se Está à Espera (2012)

Um grupo de casais passa pela experiência da gravidez. Cada um com as suas preocupações, expectativas e responsabilidades sobre a parentalidade, bem como o próprio desafio físico que a gravidez proporciona. Filme bem disposto que aflora diversos aspectos da parentalidade e como esta se cumpre.

Título original: What to Expect When You're Expecting * Realização: 
Kirk Jones * Argumento: Shauna Cross, Heather Hach * Elenco: Cameron Diaz, Matthew Morrison, J. Todd Smith, Jennifer Lopez, Elizabeth Banks, Dennis Quaid, Chris Rock, Rodrigo Santoro, Joe Manganiello, Chace Crawford

11.11.14

10 anos #8 (Jul 2004)

Inquéritos. Foi uma moda responder a diversos inquéritos online, que depois geravam uma resposta tipo indicando “se fosses ... serias ...”. Houve para todos os gostos: música, cinema, televisão, literatura e tanto, tanto mais. Algumas respostas eram do nosso agrado, outras não reflectiam minimamente os nossos gostos. Hoje, muitas dessas respostas já não estão acessíveis. Também a internet, de quando a quando, varre o seu lixo. Este foi um entretenimento passageiro.
O Vendedorde Passados. Este foi/é, talvez, uma das leituras mais importantes da minha vida. Porquê? Porque todos nos vemos na contingência de nos reinventar, a cada momento, para atingir as nossas aspirações. E para sermos o que queremos temos também de ter sido o que queríamos. A particularidade desta obra é transpor para as suas páginas de modo muito pragmático esta pretensão humana.
JacquesPrevert. O registo de uma outra recordação: o poema que mais mexeu comigo em tempos de escola. Um retrato do desafecto e da indiferença que ainda hoje me chocam e, infelizmente, fazem parte da realidade sentimental de muitas pessoas, adultos e crianças.


10.11.14

10 anos #7 (Jun 2004)

Requisitos. O que é que nestes 10 anos mudou no modo como encaro as relações amorosas? Ao observar a lista de requisitos em que, na sequência de uma brincadeira entre amigos, procurava de forma simples e consciente perceber quais seriam os meus deal breakers ao conhecer alguém, observo que mantenho a mesma visão da relações e do que espero de alguém. E, neste caso, não considero negativo manter-me idêntica.
XV Festival de Teatro Amador de Sintra. Esta foi a última participação do A.C.to neste festival e foi pautada pela vitória em algumas categorias. Mas mais do que os prémios, a maior vitória foi mesmo a participação, durante cerca de 10 anos, neste projecto. A minha experiência de teatro amador no A.C.to foi transformadora. Permitiu-me encontrar a minha gente, crescer e expandir horizontes. Não sei o que seria sem esta experiência, mas, com certeza, não seria a mesma pessoa.
Top #5. As nossas listas de preferências registam um momento. Mesmo sem a rever, sei que muitas se mantêm. (Os amores não se acabam nem se esvaem facilmente) No entanto, hoje, tenho imensa dificuldade em definir uma lista semelhante. Talvez apenas por perceber que os gostos e os afectos não hierarquizam, usufruem-se.

9.11.14

O Almogávar

Ao aproximar-se de qualquer aldeia ou lugarejo, as gentes gritavam a anunciar:
- Almogávar! Almogávar!
A sua tez mais escura fazia-o passar por árabe e nunca se preocupou em desfazer equívocos. Era mais rentável para o negócio julgarem-lhe esta a proveniência do que saberem a sua ascendência romani. Com um árabe pode-se garrular e discutir preços, mas com um cigano todas as cautelas são poucas para não se ser roubado.
Não levava a mal este receio. Em tantos anos de estrada já vira tanta coisa que pouco ou nada o surpreendia. Sobretudo quem roubava quem.
Fazia, sobretudo, o circuito interior do sul, paralelo ao mar, mas não à sua beira. , onde qualquer mercador chegava facilmente. Os seus compradores estavam nos lugares mais pequenos e de fora dos caminhos mais calcorreados, onde qualquer metro de tecido colorido e panela brilhante faziam as delicias das mulheres e o tabaco fresco e a lâmina virgem de uma navalha a dos homens. Pequenos lugarejos sem epónimo de protecção em que o tempo parava e os homens não envelheciam. Sucediam-se em gerações que em  gestos iguais amanham a terra, criam meia dúzia de animais e alimentam outras tantas bocas e, por fim, se quedam no cemitério da aldeia.

Por isso, tanto lhe fazia se lhe chamavam Almogávar. Sorria porque se sabia errante apenas de poiso.

Beach Grove, Gustav Klimt

8.11.14

#3 menosprezar a sorte tem custos

Tem tantos custos que, há já perto de 4/5 anos, pelo tremendo impacto financeiro, uma dolorosa lição de vida. Hoje, tento salvaguardar e aproveitar ao máximo os momentos de sorte que ainda tenho. Só assim ela continuará a bafejar-me. 

6.11.14

O Poder dos sonhos VI

Voltei a sonhar. A dormir. Que acordada sou incapaz de parar. Mas as minhas noites são agora diferentes. Ou voltaram a ser como as conheço. Pautadas por extensos filmes oníricos. Filmes de autor. A uns nem sempre reconheço intenções ou protagonistas. Outros são simples. De uma simplicidade desarmante.
Mais uma noite em que fiquei desarmada. Uma noite em que um receio se corporizou e lidei com ele com a simplicidade e segurança que o mesmo exige. Tão simples como a minha verdade e a verdade dos fatos. Serenei.
De que tinha medo a final? De mim mesma. É sempre de nós que temos medo. De não conseguirmos fazer-nos compreender. Não por sermos incompreensíveis. Mas porque estamos à frente do que apenas querem que compreendamos. Serenei.
Se o receio ainda me tentar. Voltarei a mim neste sonho. Para recuperar a segurança da minha verdade. Relembrar a minha força interior.

Tão bom. 

5.11.14

Amor, Felicidade, Casamento (2011)

Uma jovem mulher, terapeuta de casais, tenta a todo o custo recuperar o casamento dos seus pais, no intuito de cumprir o seu ideal romântico. No entanto, acaba por pôr em causa inclusive o seu casamento. Comédia romântica insonsa.

Título original: Love, Wedding, Marriage * Realização: 
Dermot Mulroney * Argumento: Anouska Chydzik, Caprice Crane * Elenco: Mandy Moore, Kellan Lutz, James Brolin, Jane Seymour, Christopher Lloyd, Alyson Hannigan

4.11.14

Palavras #543 a 545

garrular -  v. int.Tagarelar.
almogávar - (árabe al-mugauar) s. m. Aquele que fazia incursões por terras de muçulmanosALMOGÁRAVEALMOGRAVE  
epónimo adj. 1. Que  o seu nome a alguma coisa. S. m. 2. Divindade quedando seu nome uma cidadetinha sob sua protecção.

in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt 

3.11.14

Tarot

Não sei porque motivo, mas não registei a última tiragem que me fiz. No entanto, na sequência de algumas confirmações desta última semana, hoje senti necessidade de fazer uma tiragem relativa às minhas perspectivas profissionais. E, caramba, creio que reflecte exactamente a minha desorientação actual e as minhas ansiedades futuras. Como é que as mesmas se concretizarão, não consigo aferir. Mas que reflectem este momento, disso não tenho qualquer dúvida. 


2.11.14

A velha Tamargueira

Visitei hoje, creio que pela última vez, a velha Tamargueira. Há muito que me pesava não haver uma despedida. Não que sejam necessárias palavras, mas sim esse gesto de dizer adeus a um passado, a um modo de vida.
Lá cresci e me fiz homem. Lá percebi que o mundo tinha de ter para mim mais do que a locanda do Ti jaquim, onde há gerações os homens se reúnem e perpetuam histórias que não quero para mim.
Sim, necessitava voltar. Apenas para encerrar o capitulo desse homem que fui e jamais conseguiria voltar a ser. Voltei não para o meu adeus, mas para que a própria aldeia se pudesse despedir do seu filho impródigo. Para que pudesse descansar do seu intrínseco desejo de sugar os seus homens. Fui para lhe dizer: perdeste-me. Eu ganhei o mundo.

Feitas as reverenciais despedidas, parti pela estrada ladeada pelo arbustos que nomeiam a aldeia. Ao som do motor, alguns adens levantaram voo. Talvez assustados, talvez apenas curiosos pela ousadia da partida. Só isso reterei na minha mente: o seu voajar bailado no espelho reflector do carro.

1.11.14

#1 – saber esperar e evitar precipitações

Sempre me considerei uma pessoa paciente e a prova é que esperei, esperei e cansei-me de esperar. Esta minha espera não foi inócua ou imóvel. Esperei mas também sempre trabalhei para os resultados que espero.
A determinado momento, cansei de esperar e, sem ofensas, mas também sem dar possibilidade de retorno, virei o jogo. Ficou alguma mágoa, mas irá passar. Tal como sempre passa o luto por projectos desejados e trabalhados, mas não concretizados. Está a passar. Será que me precipitei no modo como virei o jogo? Não. Fui sincera com todas as partes. Poderia até ter sido mais, mas talvez não conseguisse respeitar os limites de algumas pessoas e tornar-me ia ofensiva. Não me precipitei, aliás. Demorei até demais para vira-lo, mas agora não importa. O passado não serve para remoer. Serve apenas para aprendermos a lição.
E as lições foram muitas. Não sei se as consigo, neste momento, apontar todas, mas sei que cresci, que estou mais forte. Apesar de manter as minhas fragilidades. Hoje, consigo perspectivar objectivos futuros e trabalhar para eles passo a passo, recuar se necessário e estabelecer novos trajectos para lá chegar através dos modos que estou disposta a utilizar para os obter. Talvez não os concretize a todos. Talvez alguns só me sirvam de aprendizagem e mesmo os que ficarem pelo caminho terão o seu valor inestimável.
Hoje, sei que a minha vida não se cumpre num único papel, mas sei melhor os que quero interpretar e os que se adequam a mim. Espero vir ainda a descobrir novos.
Hoje, sei que mesmo quando o sol não brilha, pelas mais variadas razões, ele voltará e estou melhor preparada para tempos de escuridão (embora não ainda não esteja totalmente preparada para outra).
Hoje, sei que, quando serenar, ficarei assim por mais tempo. Aprendi a ouvir o meu corpo e a dar-lhe o tempo necessário para se realinhar. Sinto-me a centrar energias a cada dia que passa. É bom sentir-me assim de novo.

Hoje, sei rentabilizar ainda mais a minha espera de modo a tornar-me mais forte. Resta-me saber demonstrar melhor a minha evolução.